Crimes de injúria e de ameaça estão a aumentar nas escolas

Vítimas e agressores são predominantemente do género masculino e têm entre os 12 e os 15 anos de idade. Dia Mundial de Combate ao Bullying assinala-se nesta quinta-feira.

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Maioria das vítimas opta pelo silêncio Paulo Pimenta

Com o regresso em pleno às aulas, em 2021/2022, voltaram a aumentar tanto as agressões, como as ocorrências criminais que envolvem injúrias e ameaças. Segundo dados divulgados pela PSP no âmbito do Dia Mundial de Combate ao Bullying, que se assinala nesta quinta-feira, o número de agressões registadas pelas forças policiais subiu de 1151 em 2018/2019, último ano lectivo antes da pandemia, para 1169, enquanto os crimes de injúrias e ameaças reportados à PSP passaram de 721 para 752.

No conjunto, em 2021/2022, foram referenciados às forças policiais 2847 crimes em contexto escolar. No último ano antes da pandemia tinham sido 3079. Tanto no que respeita às vítimas, como aos agressores, a faixa etária mais representada é a dos 12 aos 15 anos: 43,3% do total no primeiro caso e 45,3% no segundo. Outro traço em “comum” é o facto de o género masculino ser predominante nos dois grupos: 61,5% no caso das vítimas e 76% entre os agressores.

Agressões, injúrias e ameaças são os comportamentos de bullying mais recorrentes em contexto escolar, o que implica não só espaço da escola, mas também as redondezas e os percursos até casa. Como seria de esperar, registou-se um decréscimo destas acções nos dois anos lectivos (2019/2020 e 2020/2021) em que houve períodos em que as aulas foram suspensas devido à pandemia. Houve, respectivamente, 901 e 751 crimes de agressão registados pela PSP e o número de actos de injúrias e ameaças reportados foi, neste período, de 589 e 544.

Apesar do aumento registado, a PSP frisa que a tendência que se tem vindo a afirmar desde 2013/2014 é a de “um aumento das ocorrências que implicam injúrias e ameaças e o decréscimo das agressões”. O que indicia, acrescenta, “uma denúncia precoce do conflito”, ou seja, haverá menos vítimas e testemunhas a optarem pelo silêncio.

Refere também a PSP que, para esta tendência, têm contribuído as acções de sensibilização sobre bullying e ciberbullying desenvolvidas no âmbito do Programa Escola Segura: foram 27 mil desde 2013/2014, abrangendo mais de 580 mil alunos. Desde o passado dia 10, e até esta sexta-feira, está aliás em curso mais uma destas operações desenvolvidas pela PSP, que tem como lema Bullying é para fracos e envolve várias apresentações em escolas do 1.º ciclo ao ensino secundário.

És vítima ou bully?

Explica-se no comunicado da PSP que, por contribuir “de forma significativa para a erosão do sentimento de segurança, especialmente entre a comunidade escolar”, o bullying passou a ser uma das “prioridades” desta força policial no que respeita “à prevenção criminal. O que passa por “aumentar o conhecimento sobre este fenómeno, capacitando a detecção precoce” e por “fazer crescer o sentimento de intolerância e de rejeição para com as práticas de bullying”, entre outros factores.

Também com o objectivo de aumentar o conhecimento sobre este fenómeno, a Orem dos Psicólogos Portugueses elaborou duas checklist para ajudar crianças e jovens a compreenderem se são vítimas de bullying ou se, pelo contrário, são os agressores.

Eis algumas das 15 situações listadas quanto à possibilidade de se ser vítima: “Gozam comigo pela forma como me comporto ou pela minha aparência”; “espalharam rumores ou boatos sobre mim que não eram verdade”; “sinto medo de ir para a escola”; “colocaram fotos minhas online sem a minha permissão”.

Há outras 14 pistas destinadas a saber-se se se é um bully. Alguns exemplos: “Digo ou faço coisas só para assustar, humilhar ou perturbar um amigo/colega”; “Bato, empurro ou tento magoar amigos/colegas de propósito”, “acho engraçado quando amigos/colegas se sentem humilhados, ofendidos ou magoados.

A Ordem alerta que só se deve assinalar as situações cuja resposta às afirmações for “sim, com regularidade”. Também frisa que os resultados “não constituem, de forma alguma, uma avaliação ou diagnóstico psicológico. Servem apenas para te ajudar a pensar sobre ti próprio, sobre como te tens sentido nalgumas situações.” Recorda também que o bullying é “qualquer comportamento, exercido por um indivíduo ou grupo, com intenção de controlar, prejudicar ou magoar alguém, física ou psicologicamente” e que se distingue de “outras discussões, desentendimentos, actos isolados de agressão/desrespeito/intimidação ou outros conflitos entre pares pela intencionalidade, pela repetição e pelo desequilíbrio de poder ou de força.”

Citando um estudo de 2017 da UNICEF, lembra ainda que Portugal é o 15.º país com mais relatos de bullying na Europa e na América do Norte, ficando à frente dos Estados Unidos: 31% a 40% dos adolescentes portugueses com idades entre os 11 os 15 anos confirma ter sido intimidado na escola uma vez em menos de dois meses. Só mais este dado: mais de 60% das vítimas de bullying não denuncia o agressor e quem o faz demora, em média, 13 meses a fazer a denúncia.

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