Depressão Armand deve ser o episódio de chuva mais significativo dos últimos anos

Há uma grande massa de ar quente e húmido que está a atravessar o território português, um fenómeno conhecido como “rio atmosférico”. É normal para o Outono, nós é que temos vivido Outubros com sabor a Verão.

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A chuva forte pode criar inundações repentinas, e as cidades são mais vulneráveis ADRIANO MIRANDA

A depressão Armand, que está a afectar Portugal continental (e chega à Madeira) pelo menos até domingo, deve ser o período de chuva outonal com mais impacto dos últimos anos. “A chuva é uma situação típica de Outono. Mas se calhar não assistíamos a um episódio de chuva tão significativo já há alguns anos”, disse ao PÚBLICO Patrícia Gomes, meteorologista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Vamos ter muita precipitação e vento forte, sobretudo nesta quarta e quinta-feira, mas este é um fenómeno que não tem nada de anormal, sublinha a meteorologista. “Temos tido temperaturas relativamente elevadas nos primeiros dias de Outubro nos últimos anos. Mas este ano estamos a ter um Outono real”, sublinha Patrícia Gomes.

Atribuir nome às depressões é um projecto conjunto dos serviços meteorológicos da Europa, que tem por objectivo alertar o público para situações meteorológicas de risco e promover a comunicação internacional, em funcionamento desde 2017. É por isso que esta depressão recebeu o nome Armand. O que a distingue é estar associada a uma grande massa de ar quente e húmido, que dá origem à chuva – um fenómeno que também pode ser designado como “rio atmosférico”.

“A água do mar tem estado relativamente quente e há sempre interacção entre o oceano e a atmosfera. Formou-se uma massa de ar quente e húmido que vem do Atlântico, com uma trajectória mais de Sul, que ganhou bastante conteúdo em água”, explica Patrícia Gomes.

“Também se pode chamar rio atmosférico a esta massa de ar quente e húmido, porque na atmosfera parece um rio: no meio de uma massa de ar mais frio, aparece esta massa com um grande conteúdo em humidade, que é extensa, e tem um deslocamento lento. Dá a ideia de que há um rio na atmosfera”, adianta. “É o que acaba por originar a precipitação que está a ocorrer.”

Quarta e quinta-feira serão os dias em que será mais intenso tanto o vento como a precipitação. “Na sexta-feira, e mesmo durante o fim-de-semana, a precipitação vai continuar, talvez mais nas regiões do Norte e Centro, mas também chegará à região Sul. Mas as quantidades já serão menos significativas”, afiança Patrícia Gomes. O vento também acaba por enfraquecer ligeiramente.

O território do continente vai ser atravessado por “bandas de precipitação”, a que se junta um vento muito forte, sobretudo nas regiões do litoral, e nas terras altas, especialmente intenso nesta quarta e quinta-feira. As rajadas podem atingido 80 quilómetros por hora no litoral Norte e Centro, principalmente litoral Norte, e nas terras altas podem ser de 90 quilómetros hora nesta quarta-feira.

“Há avisos emitidos, tanto de precipitação, como de vento. Haverá um aumento da agitação marítima na costa ocidental e também por essa razão foi emitido um aviso amarelo de agitação marítima para ondas entre os quatro e os cinco metros”, diz Patrícia Gomes.

O IPMA adianta também que a depressão Armand afectará igualmente o arquipélago da Madeira, onde se espera a ocorrência de precipitação por vezes forte e persistente, em especial na quinta-feira, assim como um aumento da agitação marítima, com ondas de Noroeste com quatro metros.

Os distritos de Bragança, Viseu, Porto, Guarda, Faro, Vila Real, Setúbal, Santarém, Viana do Castelo, Lisboa, Leiria, Beja, Castelo Branco, Aveiro, Coimbra, Portalegre e Braga estão sob aviso amarelo até às 21h desta quarta-feira devido à chuva, por vezes forte, que pode ser acompanhada de trovoada e rajadas.

Inundações urbanas

Em algumas regiões pode haver inundações repentinas. “Muitas vezes a precipitação ocorre em grande quantidade num período curto e não há capacidade de escoamento. Acaba por se inundar uma rua, ou um bairro, formam-se lençóis de água na estrada. São as inundações urbanas. A chuva acaba por ter mais impacto nas cidades, que não têm a capacidade de absorção da água que tem um campo. Acabámos por isolar os solos [nas cidades]”, explica Patrícia Gomes.

Os distritos do Porto, Viana do Castelo e Braga têm aviso laranja por causa do vento, temporariamente forte com rajadas até 95 quilómetros por hora no litoral e terras altas, passando depois a amarelo.

Depois desta semana, vai regressar o tempo mais seco, disse na CNN o presidente do IPMA. “Vamos voltar àquilo que as pessoas designam por Verão de São Martinho. Portanto, não estamos à espera de ter nem um arrefecimento prolongado importante nem de ter uma grande continuação deste período de precipitação”, disse Miguel Miranda, ressalvando que mais precipitação seria bem-vinda, para ajudar a ultrapassar a seca que afecta várias bacias hidrográficas.

Então estes dias de chuva intensa podem ter um impacto positivo em relação à seca? “Qualquer quantidade de água vai atenuar a seca”, concorda Patrícia Gomes. “Agora até que ponto, ainda é cedo para dizer. Mas com certeza não será uma semana de chuva que irá reduzir com algum significado o nível de seca que o país está a atravessar”, avisa.

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