Serra d’Arga chegou a ter cerca de 300 garranos, mas agora existem menos de 20

O garrano é uma raça protegida devido ao risco de extinção e existem poucos no meio selvagem. A nível nacional existem 1836 garranos (1619 fêmeas e 217 machos), num total de 456 criadores.

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Cavalo da raça garrano Adriano Miranda

A serra d'Arga, que abrange Viana do Castelo, Caminha, Ponte de Lima e Vila Nova de Cerveira, actualmente em fase de classificação como Área de Paisagem Protegida, já chegou a ter 300 garranos, mas agora contam-se menos de 20 destes equídeos. Em resposta escrita, esta sexta-feira, a um pedido de esclarecimento enviado pela agência Lusa, a Associação de Criadores de Equinos da Raça Garrana (ACERG) sustentou aqueles números na investigação de José Leite, secretário técnico do Livro Genealógico da Raça Garrana.

Segundo a ACERG, “no distrito de Viana do Castelo existem, actualmente, 892 garranos, num total de 137 criadores, sendo que o concelho com maior número de exemplares é Arcos de Valdevez”. Já a nível nacional, existem 1836 garranos (1619 fêmeas e 217 machos), num total de 456 criadores.

“O solar da raça garrana é o Minho e Trás-os-Montes”, sustentou a associação com sede em Vieira do Minho, no distrito de Braga.

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Equídeos da raça garrano Adriano Miranda

O garrano é uma raça protegida devido ao risco de extinção, encontrando-se, por isso, muito poucos no meio selvagem ou na posse de criadores. Este animal tem membros e orelhas curtas e o perfil da cabeça é recto ou côncavo.

Tem a sua origem no cavalo ibérico pré-histórico de pequena estatura que era característico das regiões montanhosas do norte da Península Ibérica, sendo considerado por vezes um pónei.

A classificação da serra d'Arga como área protegida de interesse regional foi iniciada em 2017 pelos municípios de Caminha, Ponte de Lima, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira, na sequência de um estudo realizado no âmbito do projecto “Da Serra d'Arga à Foz do Âncora” apoiado por fundos do Norte 2020.

Na sequência do processo de classificação, os municípios envolvidos têm desenvolvido acções para valorizar o cavalo de raça garrana e o seu “habitat”, numa estratégia de preservação de diferenciação turística à escala regional, como é o caso do projecto Vilas e Aldeias Equestres entre Arga e Lima, que envolve Viana do Castelo, Caminha e Ponte de Lima.

Proteger a raça garrana

À Lusa, a vereadora do Ambiente da Câmara de Viana do Castelo, Fabíola Oliveira, disse que “constituem âncoras centrais desta estratégia a preservação da raça garrana e do seu habitat na Serra d'Arga, a observação, estudo científico e monitorização das dinâmicas comportamentais e ecossistémicas do garrano no território, assim como a promoção integrada do turismo de natureza e do turismo equestre, alicerçado na observação de garranos em estado semi-selvagem e na prática do turismo a cavalo”.

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Adriano Miranda

Esta raça “equídea autóctone povoa há milénios as montanhas do Alto Minho, onde ainda persiste num regime semi-selvagem graças à sua robustez e excelente adaptação a este habitat”.

Com “uma presença milenar no Noroeste ibérico, o garrano desenvolveu estreitos laços com os povos que habitaram este território desde o neolítico inicial, em tempos de paz e em tempos de guerra, constituindo, por isso, parte do nosso património imaterial a preservar”, sustentou.

“O garrano funde-se com a história de Portugal. Lado a lado com o homem, tanto em árduas batalhas, como a puxar o arado, montado ou atrelado nas pequenas e grandes viagens, usado como meio de transporte por almocreves, padres e médicos, ostentado como símbolo de riqueza e exibido em feiras e festividades”, frisou Fabíola Oliveira.

Os primeiros passos no sentido do estudo sistematizado do comportamento do garrano em estado semi-selvagem foram iniciados em 2016 por um grupo de investigadores da Universidade de Quioto, através de um protocolo estabelecido com a Câmara de Viana do Castelo.

O “projecto Percursos do Homem e do Garrano, promovido nos anos de 2017 e 2018 pela capital do Alto Minho, co-financiada pelo programa Norte 2020, elegeu como missão aproximar o garrano das nossas populações e visitantes, conferindo-lhe um novo protagonismo na fruição turística e de lazer dos espaços naturais de excelência e promovendo a divulgação das características, habitat e potencialidades da raça”.

Desse projecto, resultaram “três percursos equestres que se encontram sinalizados no concelho de Viana do Castelo, interligando os sítios de importância comunitária da Rede Natura 2000, serra d'Arga, rio Lima e Litoral Norte”.

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