Como fazer um chocolate mais saboroso? Recorrendo à geometria

A forma como o chocolate se quebra e o som que faz foram factores estudados pela Universidade de Amesterdão, e que podem ser aplicados noutras áreas.

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Pormenor do atelier Pedacos de Cacau, que fabrica chocolates artesanais Nelson Garrido/Arquivo

“Doçura ou travessura?” Com o Halloween mesmo à porta, as crianças preparam-se para coleccionar sacos cheios de doces e chocolates. Entretanto, um grupo de investigadores nos Países Baixos tem experimentado um método para fazer do chocolate uma “doçura” ainda maior.

Embora o chocolate seja delicioso por varias razões, este estudo focou-se no quão crocante é, quando mordido.

“Um aspecto de que gosto particularmente é a sua fragilidade e o que faz quando se parte”, refere o investigador Corentin Coulais, professor de Física na Universidade de Amesterdão. Para optimizar o que se sente na boca, o cientista explica: “Demos geometria ao chocolate”, afirmando que esta, depois, “muda a forma como o chocolate se parte”.

Para lhe dar “geometria”, os investigadores utilizaram uma impressora 3D para dispor em camadas, de várias formas, chocolate negro com 72% de cacau. Em vez de criar um pedaço plano e sólido, a máquina imprimiu o chocolate em forma de S, de ziguezague, com camadas superfinas ou com formas de espirais cada vez mais complicadas. Os resultados foram servidos a dez ansiosos voluntários.

De seguida, os investigadores perguntaram: “Quão crocante foi?”, “Quão fácil foi morder?”, “Como classificaria a experiência global?”.

O chocolate mais crocante e fácil de morder foi o que foi disposto em espirais bastante complicadas. Foi também o melhor na degustação. “Quanto mais crocante, mais as pessoas tinham tendência a gostar”, revela Corentin Coulais.

Os cientistas utilizaram, também, uma máquina para quebrar as várias formas feitas com o chocolate para verificar qual era a mais frágil. Além disso, gravaram os sons feitos com a quebra do chocolate pois uma experiência alimentar agradável não ocorre apenas na boca, mas também pode ser afectada pelos ruídos no crânio. A forma de espiral manteve-se vencedora.

No entanto, a espiral não é, necessariamente, a melhor forma possível. Foi apenas a melhor de entre as poucas testadas pelos investigadores. “Tenho a certeza que haveria melhores se procurássemos mais”, defende Coulais. Também não é necessário criá-las com uma impressora 3D, foi apenas um método prático para experimentar rapidamente múltiplas opções, salvaguarda.

Para Corentin Coulais “é demasiado cedo para afirmar” que, em breve, o chocolate será feito de forma diferente graças a esta investigação. O cientista está a trabalhar com algumas organizações para determinar como a pesquisa poderá ser aplicada.

Também está envolvido na constituição de uma equipa para analisar a física de como outros materiais, para além do chocolate, quebram. Por exemplo, materiais que podem ser utilizados em veículos para os tornar menos perigosos quando há uma colisão.

“A ideia é abraçar o fracasso”, afirma o cientista. “Quando ocorre um impacto de alguma forma, sabe-se que algo se vai partir”. Se for possível controlar como se parte, “talvez se consiga desviar a energia do impacto para longe dos passageiros, por exemplo”.

Compreender como as coisas se partem pode tornar a vida mais segura: em carros, aviões ou usando capacete. Pode tornar, também, ainda mais saborosas as doçuras de Halloween.

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