Benfica, PSG e a ameaça de escuridão depois do nevoeiro

Na Liga, o Vitória colocou alguma neblina à frente do futebol do Benfica. Na Liga dos Campeões, o PSG poderá agravar o cenário.

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Jogadores do Benfica no treino pré-PSG LUSA/RUI MINDERICO

Há alguns dias, pensava-se que o Benfica enfrentaria hoje (20h, TVI) o PSG, na Liga dos Campeões, correndo o risco de interromper uma temporada perfeita. Como o V. Guimarães quis entrar nesta “conversa”, os “encarnados” defrontam a equipa francesa noutro contexto: o de poderem ter pela frente uma noite de “escuridão”, em Lisboa, depois de uma noite de “nevoeiro”, no Minho. Frente ao Vitória, o Benfica foi quase um zero: e só não foi um zero total - e ainda mais embaraçoso - porque conseguiu fazer… um remate.

Apenas uma má noite, depois da interrupção para selecções? Será possível crer nessa tese. O problema é que a crueldade do futebol pode colocar, num ápice, o Benfica com a necessidade de reverter, frente ao Rio Ave, uma sequência de empate e derrota. E porquê todo este fatalismo? Porque o PSG não é o Midtjylland, o Vitória ou sequer a Juventus. “Esta época, ainda não defrontámos um adversário tão forte”, dizia João Mário, antes do Juventus-Benfica. Se lhe colocarem novamente um microfone à frente, a frase será, possivelmente, actualizada em referência ao PSG.

O terror em forma de sigla

A formação gaulesa é, por estes dias, um dos “papões” do futebol mundial e parece ter encontrado, finalmente, a forma de conciliar harmoniosamente muito talento ofensivo - ou, se quisermos, de promover o terror em forma de sigla, com a sociedade MNM - Messi, Neymar e Mbappé.

Christophe Galtier inventou um 3x4x3 que tem um jogador a mais na defesa, essencial para poder libertar dois “comboios” como Hakimi e Nuno Mendes. Depois, importa não obrigar Messi, Neymar e Mbappé a esforços sem bola. Para isso, convém… ter a bola. É nesse sentido que um meio-campo com Verrati e Vitinha (ou Ruiz) permite ao PSG não ter de passar muito tempo atrás da bola.

Em suma, este PSG parece ter tudo o que se pode pedir ao futebol atacante de uma equipa: médios com criatividade para manterem a posse e pensarem e ligarem o jogo, perfeição entre linhas com Messi, magia em zonas cada vez mais interiores com Neymar, profundidade e acutilância com Mbappé e largura com Mendes e Hakimi. Tudo isto com três finalizadores de excelência na frente. Resultado: 11 vitórias e um empate em 12 jogos na temporada.

O Benfica ainda não teve nesta época uma partida na qual o adversário fosse, em tese, tão capaz de monopolizar a posse de bola. É, portanto, uma incógnita perceber que tipo de resposta dará a equipa de Roger Schmidt e, sobretudo, que tipo de soluções terá. O técnico alemão, apesar de não detalhar o plano, deixou no ar a necessidade de criar soluções defensivas diferentes do habitual.

“É sempre preciso fazer ajustes em função do adversário, especialmente quando se joga contra uma equipa com tanta qualidade individual na frente”, apontou na antecipação da partida. E acrescentou: “A chave não será ter mais jogadores na defesa, mas sim fazer um bom jogo tacticamente e reduzir as situações de um para um com muito espaço.” “Defendê-los em um para um é muito difícil. Precisamos de apoio, de ter jogadores perto da bola para nos ajudarmos uns aos outros”, finalizou.

Conforto pontual

Daqui se depreende que o Benfica evitará promover um jogo de pares que dê aos jogadores algumas referências individuais - e isso seria sempre difícil, até por as equipas não terem sistemas tácticos simétricos.

Em rigor, isto até aconteceu frente ao 3x5x2 da Juventus, com o qual o Benfica não soube lidar durante 25 minutos, enquanto quis fazer três contra três na construção da Juve, que abria bastante os centrais e projectava os laterais - algo que o PSG também fará. Quando Schmidt corrigiu esse encaixe, o Benfica começou a sair só com dois jogadores, escolhendo o terceiro conforme o lado para o qual o adversário construía.

A replicação desta ideia pode fazer sentido, mas está longe de garantir resultados - quanto mais não seja, porque Ramos e Marquinhos encontram mais soluções verticais do que Bremer e Danilo e porque Vitinha, Verrati e Neymar são muito mais criativos na zona central do que Miretti, Paredes e McKennie. Depois, Messi e Mbappé não são Milik e Vlahovic.

Mas nem tudo é mau para o Benfica. Até porque as vitórias com Maccabi e Juventus dão conforto pontual no grupo e permitem deslizes com o campeão franceses. As expectativas, de resto, também serão moderadas: afinal, quem espera que um clube português abata o PSG?

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