Até ver, a maior exigência não deita abaixo o Benfica

A equipa portuguesa, que não ganhava em Itália há 25 anos, soma seis pontos em dois jogos na Champions e, mais do que isso, já tem seis de vantagem para aquele que é, em tese, o principal adversário na luta pelo apuramento – o próprio treinador da Juventus dá o PSG como apurado.

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Benfica e Juventus em acção em Turim Reuters/MASSIMO PINCA

“Esta época ainda não defrontámos um adversário tão forte”. As palavras foram de João Mário nesta terça-feira, antes do Juventus-Benfica, e podiam ser entendidas como a prudência de quem sabia ainda só ter enfrentado equipas contra as quais o Benfica foi favorito.

Mas, quando o nível subiu, o Benfica não caiu. Nesta quarta-feira, em jogo da segunda jornada do grupo H da Champions, os “encarnados” saíram de Itália com uma vitória (2-1), algo que não faziam há 25 anos.

Esta não é a Juventus de outros momentos, não é o plantel de outros anos, não é sequer o “onze” de outras conquistas e muito menos o ataque que teve Ronaldo. Mas esta ainda continua a ser a Juventus e o Benfica respondeu a preceito.

Com este desfecho, a equipa portuguesa soma seis pontos em dois jogos e, mais do que isso, já tem seis pontos de vantagem para aquele que é, em tese, o principal adversário do Benfica na luta pelo apuramento – o próprio treinador da Juventus dá o PSG como apurado.

Tudo isto aconteceu fruto de um momento importante no jogo do Benfica, que chegou a passar dificuldades. No filme Ocean’s Eleven, uma famosa cena mostra um ensinamento de póquer que lembra que qualquer jogador deve “deixar as emoções à porta”. Em Turim, o Benfica precisou de usar essa regra e foi com ela que virou o jogo ao contrário, depois de vários minutos de dificuldades claras para lidar com a Juventus. Já lá vamos.

Benfica não entendeu a Juventus

A Juventus levou para esta partida um sistema de três centrais, mas, ao contrário do que acontece frequentemente, era um verdadeiro 3x5x2 – e não um 5x3x2 mascarado, já que os alas Cuadrado e Kostic estavam sempre projectados. A ideia era abrir bem os três centrais na primeira fase de construção e, com isso, criar um engodo no qual o Benfica caiu durante largos minutos.

Não tendo sistemas tácticos simétricos que permitissem um “jogo de pares” na pressão, o Benfica ficava com Gonçalo Ramos, Rafa e Neres/João Mário seduzidos vezes sem conta a pressionarem alto a saída da Juventus.

Daí advinha o problema de, passada essa primeira linha, haver sempre espaço para um dos alas: ou Cuadrado, caso fosse João Mário a subir e Neres se mantivesse com Kostic, ou Kostic, caso fosse Neres a subir e João Mário ficasse com Cuadrado.

Esta dinâmica permitiu à Juventus sair sempre com relativa tranquilidade e o Benfica estava descompensado logo desde o momento inicial da construção italiana. Para piorar, a Juventus chegou ao golo logo aos 4’, num livre de Paredes que encontrou cabeça de Milik ao primeiro poste (falhou Ramos).

A ganhar e com um adversário a definir mal os pares da pressão, a Juventus foi jogando como quis e ainda poderia ter marcado aos 11’, aos 15’ e aos 18’: em dois destes lances houve a tal incapacidade “encarnada” de defender os dois lados do campo, com a Juventus a alargar muito a equipa de forma claramente propositada.

Deixar as emoções à porta

Por volta dos 20/25 minutos o Benfica aplicou o tal ensinamento de “deixar as emoções à porta”. A Juventus queria seduzir o Benfica à tal pressão emotiva e pouco ponderada, mas era na razão que estava a lógica.

E a razão ditava que o Benfica, sem um sistema simétrico ao da Juventus, só poderia pressionar alto caso não saísse com três jogadores, como estava a fazer, mas sim com apenas dois, escolhendo o terceiro homem apenas quando a Juventus decidisse se sairia pela direita ou pela esquerda. Assim, os alas da Juventus nunca ficariam livres e o único que ficava livre era o central do lado oposto ao da saída de bola – elemento bastante menos perigoso.

A construção da Juventus ficou, então, mais “empenada”, algo que, conjugado com o baixar das linhas, permitiu ao Benfica tomar conta do jogo com e sem bola. Neres começou, assim, a ter mais espaço para o um contra um e somou um par de lances interessantes, um deles com cruzamento para a cabeça de Ramos – saiu fraco.

Aos 39’ Rafa enviou a bola ao poste após uma transição e dois minutos depois houve penálti sobre Ramos – com ajuda do VAR – convertido por João Mário.

Boa entrada na segunda parte

Pelo domínio do Benfica nesta fase do jogo, o empate fazia algum sentido ao intervalo. Não tanto sentido faria o 1-2, mas foi o que aconteceu aos 55’, num lance em que ficou clara a importância de juntar à interpretação táctica e ao engenho técnico a tão famosa intensidade nos duelos. Enzo ganhou a bola “na raça” e, perante a passividade italiana, Rafa pôde rematar e Neres marcar na recarga à defesa de Perin.

Mas se no momento do 1-2 o resultado não tinha total nexo, a equipa portuguesa tratou de o dar nos minutos seguintes. A boa escolha dos momentos de pressão continuava a dotar a equipa de Schmidt de capacidade de recuperar bolas em zonas ofensivas e havia, depois, David Neres em bom nível.

O brasileiro estava a assinar momentos seguidos de qualidade técnica e o Benfica ia somando oportunidades de golo – uma aos 59’, por Bah (lance salvo por Bonucci), outra aos 63’, por Rafa (remate defendido por Perin), e outra aos 69’, por Neres (novamente salvou Perin).

Nesta fase do jogo, a qualidade do Benfica em triangulações entre linhas fazia parecer que se jogava em 11 contra 12 e eram Bonucci e Perin quem continuava a salvar a Juventus com intercepções. E isso fazia também com que o Benfica não se prestasse à defesa da vantagem, já que parecia estar mais próximo o 1-3 do que o 2-2.

É certo que Kean acertou no poste aos 71’, mas a Juventus esteve sempre incapaz de criar futebol ofensivo com frequência e qualidade.

O jogo foi ficando mais partido nos últimos 15 minutos, até por acção do desgaste, e só as “pinceladas” de Di María iam permitindo à Juventus criar lances de perigo – houve também um golo anulado por fora-de-jogo e um lance desperdiçado por Bremer em boa posição.

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