Para Kiev, a recuperação de Lyman é o ponto de partida para mais conquistas

Volodymyr Zelensky quer ver a bandeira ucraniana hasteada em mais cidades da região do Donbass. NATO e EUA encorajados com ganhos da Ucrânia no terrreno.

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Soldados ucranianos posam para a fotografia em Lyman Reuters/OLEKSIY BILOSHYTSKYI

Depois de Lyman, todo o Donbass. A recuperação da cidade que estava sob ocupação russa desde Maio, confirmada este domingo, reforçou não só o moral mas também a ambição da Ucrânia de continuar a reconquista de território no Leste do país. A entrada triunfal das forças ucranianas na cidade situada na província de Donetsk, e que funcionava como centro logístico para a tropa russa, constitui também uma derrota significativa para Vladimir Putin, um dia depois de o Presidente da Rússia ter proclamado a anexação das regiões de Donetsk, Lugansk, Zaporijjia e Kherson.

Lyman está “totalmente livre” de soldados russos, anunciou um eufórico Volodymyr Zelensky num curto vídeo publicado este domingo na sua conta do Telegram. “Obrigado às nossas tropas. Glória à Ucrânia!”, disse o Presidente ucraniano que, horas antes, no seu habitual discurso nocturno, vangloriara-se do território recentemente recuperado ao invasor.

“Ao longo da última semana passada, o número de bandeiras ucranianas no Donbass aumentou. Haverá ainda mais na próxima semana”, atirou Zelensky.

Para além de Lyman, o exército da Ucrânia retomou o controlo de uma série de localidades em redor da cidade, incluindo Yampil, Novoselivka, Shandrigolovo e Drobysheve. Em Shandrigolovo, conta o Guardian, os soldados ucranianos baixaram a bandeira russa que estava hasteada e pisaram-na, enquanto em Lyman destruíram o símbolo russo colocado numa esquadra de polícia.

Em Kiev, o sucesso de Lyman está a ser visto como uma antecâmara para mais conquistas em toda a região do Donbass, aproveitando o desnorte das forças russas em fuga e o fluxo de armas que chegam do Ocidente. Este domingo, o secretário-geral da NATO mostrou a sua satisfação pelos recentes êxitos da tropa ucraniana. “A recuperação de Lyman demonstra que a Ucrânia é capaz de desalojar as forças russas e mostra o impacto que as armas avançadas fornecidas pelos países ocidentais está a ter no conflito”, afirmou Jens Stoltenberg.

Por sua vez, o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, disse que os Estados Unidos ficaram “muito encorajados” pelos ganhos territoriais da Ucrânia.

As forças russas tinham capturado Lyman em Maio e desde então usaram a cidade como centro de logística e transporte para as suas operações no Norte da região de Donetsk. A retirada constitui a maior derrota da Rússia no campo de batalha desde a contra-ofensiva relâmpago da Ucrânia na região de Kharkiv, no mês passado.

O optimismo ucraniano fez também parte das palavras do governador de Lugansk, Serhiy Gaidai, para quem o controlo agora recuperado sobre Lyman pode ser um “factor-chave” para alargar a reconquista de território na região vizinha de Donetsk.

A importância operacional de Lyman deve-se à sua localização privilegiada junto a uma importante passagem rodoviária sobre o rio Siverskyi Donets, atrás da qual o Exército russo tem tentado consolidar a sua defesa avançada na região, refere o Ministério da Defesa do Reino Unido na sua avaliação diária da situação no terreno.

Em Moscovo, a derrota em Lyman, a segunda no espaço de um mês, serviu para aumentar as críticas internas à forma como a guerra está a ser conduzida, com a mais sonora a vir do líder tchetcheno Ramzan Kadirov, que pediu uma mudança de estratégia que inclua “a declaração da lei marcial nas zonas de fronteira e o uso de armas nucleares tácticas”.

O revés do fim-de-semana deverá estar na mente dos deputados da Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, quando, esta segunda-feira, aprovarem os projectos de lei e os tratados a ratificar a anexação dos quatro territórios ucranianos.

Este domingo, o Papa Francisco apelou a Putin para parar “esta espiral de violência e morte” na Ucrânia, urgindo também Zelensky a estar aberto a qualquer “proposta séria de paz”. Mas, na sexta-feira, o Presidente ucraniano impôs as suas condições para negociar: “Estamos prontos para dialogar, mas com outro Presidente da Rússia.”

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