Setúbal manifesta-se no sábado contra “mau serviço” da Carris Metropolitana

Operadora Alsa Todi não respondeu a ultimato do município. Passageiros mostram fadiga emocional com problema que se arrasta há quatro meses e que agravou com o início do ano lectivo

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Quatro meses após o início da operação da Carris Metropolitana, os passageiros continuam a queixar-se do serviço Francisco Romão Pereira

Setúbal vai sair à rua no próximo sábado numa manifestação convocada pela câmara municipal e juntas de freguesia contra o “mau serviço” de transporte rodoviário no concelho, prestado pelo novo operador, Alsa Todi, desde o dia 1 de Junho.

Passados quatro meses, a empresa detentora da concessão para o lote 4, que abrange os concelhos de Setúbal, Palmela, Montijo, Moita e Alcochete e opera sob a marca Carris Metropolitana, continua a não garantir o cumprimento dos horários e percursos e a não informar adequadamente os passageiros.

Nos restantes concelhos da Península de Setúbal a situação é idêntica e na margem norte do Tejo a operação nem arrancou, tendo sido adiada pela Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), na sequência dos problemas nos dois primeiros lotes.

Com o início do ano lectivo, a preocupação de autarcas e população aumentou e o Município de Setúbal, juntamente com as cinco freguesias do concelho, fizeram um ultimato à empresa concessionária para que informasse que nível de serviço poderia assegurar. A Alsa Todi não respondeu e as autarquias convocaram a população para sessões de esclarecimento e para a manifestação marcada para dia 1.

O protesto vai partir da Praça do Vitória, junto ao Estádio do Bonfim, e percorrer a Praça do Brasil até ao Interface de Transportes onde está centralizada a actividade dos autocarros.

O presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, apelou à população para que participe e “denuncie o mau trabalho que a empresa está a prestar”, e defendeu que “colocar em causa o bom nome” da Alsa Todi, que está cotada em bolsa e concorre a outras concessões, é a “melhor forma” de a pressionar a melhorar o serviço.

Tanto André Martins como a vereadora da Mobilidade, Rita Carvalho, defendem a ideia de que a manifestação é uma medida “adicional”, que não substitui as vias formais e legais, mas o presidente da autarquia, assim como o da Junta de Freguesia de São Sebastião, repetem que as multas à empresa não colocam autocarros a circular e que o recurso aos tribunais é demasiado moroso.

Desespero e frustração

Nas sessões de esclarecimento que estão a percorrer as freguesias, os testemunhos dos utentes do transporte rodoviário em Setúbal mostram um drama social de grande dimensão, com milhares de pessoas prejudicadas na sua vida diária pela incerteza ou inexistência do transporte. Há pessoas afectadas emocionalmente e psicologicamente. “É um stress. Estou desgastada. Tenho vergonha de quando chego ao trabalho as minhas colegas já terem feito parte das minhas tarefas. O meu filho só tem 15 minutos para almoçar. Estou em risco de perder o emprego. Apanho o autocarro quatro vezes por dia, são quatro secas”, são algumas das muitas afirmações que mostram desespero e frustração.

No último sábado, dia em que a reunião com a população foi na Freguesia de São Sebastião, havia somente 23 autocarros em serviço, quando deveriam ser 53.

Esta sessão traduziu-se em mais de duas horas e meia de desabafos e relatos. De trabalhadores que não conseguem chegar a horas ao trabalho, alunos sem transporte para as escolas, idosos que não se podem deslocar ao hospital ou centro de saúde, doentes que não conseguem fazer tratamentos no Hospital do Outão e noutras clínicas. Os horários na prática não existem, muitos percursos são “fantasmas” e os preços sem sentido. Há vários casos de pequenas carreiras urbanas em que o bilhete pago ao motorista é de 2,60 euros, o mesmo da carreira Setúbal-Almada. As esperas nas paragens são muitas vezes de duas e três horas ou até que a pessoa desiste e vai a pé ou pede a alguém que a vá buscar.

As reuniões nas freguesias vão continuar esta semana, com a última marcada para quinta-feira, dia 29, na Freguesia do Sado, às 18h30 na União Desportiva e Recreativa Praiense.

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