Protestos no Irão alastram-se a todo o país, com esquadras em chamas e polícias mortos

Manifestações em mais de 50 cidades iranianas, motivadas pela morte de uma jovem curda detida pela “polícia da moralidade”, são as mais violentas desde 2019. Nas ruas, ouvem-se gritos contra o ayatollah Ali Khamenei e contra o seu filho e provável sucessor.

Iranianas queimam hijabs e cortam cabelos em protestos contra morte de jovem Imagem: Reuters; Edição: Joana Bourgard

Os protestos dos últimos dias no Irão, na sequência da morte de uma jovem curda detida pela chamada “polícia da moralidade”, já se alastraram a mais de 50 cidades em todo o país e provocaram pelo menos 16 mortos, incluindo quatro elementos das forças de segurança. No Noroeste, e também na capital, Teerão, grupos de manifestantes atearam fogo a duas esquadras da polícia, e dois agentes da milícia paramilitar Basij foram mortos.

As manifestações começaram no sábado, após o funeral de Mahsa Amini, uma iraniana curda que morreu no hospital depois de ter entrado em coma.

Amini, de 22 anos, tinha sido detida pela polícia, em Teerão, por usar o chamado “mau hijab” – o lenço islâmico, obrigatório no Irão desde a revolução de 1979, usado de forma solta e sem esconder totalmente os cabelos.

A revolta foi desencadeada por testemunhos que acusam a polícia de ter espancado a jovem, e perante a justificação oficial de que Amini terá morrido de complicações cardíacas. As autoridades já anunciaram que estão a investigar os acontecimentos à volta da detenção e da morte da jovem.

Os protestos começaram por estar concentrados na zona Noroeste do país, de maioria curda – de onde Amini era natural –, mas já se alastraram a Teerão e a outras zonas, de Norte a Sul.

Segundo as agências de notícias Tasnim e Fars, um elemento da milícia paramilitar voluntária Basij foi morto à facada em Mashhad, no Nordeste, a 1500 quilómetros da cidade natal de Amini, Saqqez, no Noroeste.

A agência Tasnim diz também que um outro elemento da milícia Basij foi morto a tiro, na quarta-feira, por “desordeiros e gangs”, na cidade de Qazvin, nas proximidades de Teerão. A confirmarem-se estas duas mortes, são já quatro os elementos das forças de segurança mortos desde sábado, somando-se a 12 manifestantes.

No Noroeste, grupos de manifestantes atearam fogo a uma esquadra da polícia enquanto desafiavam o regime do ayatollah Ali Khamenei: “Vamos morrer, mas vamos recuperar o nosso Irão.” Uma outra esquadra foi queimada em Teerão, segundo a agência Reuters.

As manifestações dos últimos dias levaram milhares de iranianos às ruas, liderados por mulheres que têm pegado fogo aos seus hijabs em sinal de protesto; e são já consideradas as mais violentas desde a repressão de 2019, quando 1500 pessoas morreram nos protestos provocados pelo aumento dos preços da gasolina, segundo os números avançados na altura pela agência Reuters.

Os protestos que se seguiram à morte de Mahsa Amini também trouxeram de volta os gritos de revolta contra Ali Khamenei – um cenário impensável antes das manifestações de 2009, quando o ayatollah declarou o seu apoio à reeleição do ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad.

“Mojtaba, que morras e não te tornes no Supremo Líder”, gritou uma multidão, em Teerão, referindo-se a Mojtaba Khamenei, filho do ayatollah e apontado como seu provável sucessor.

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