Guitarrista João Pires lança Guarida, nascido de uma paragem durante a pandemia

Chega esta sexta-feira às lojas o novo álbum de João Pires, sucessor de Lisboando. Chama-se Guarida e vai ser apresentado ao vivo dia 22 no auditório da Biblioteca de Marvila, em Lisboa.

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João Pires no videoclipe agora em estreia, Aragem (mazurka n.º 2) DR

Anunciado com dois singles, o novo álbum do guitarrista português João Pires chega esta sexta-feira às plataformas digitais e às lojas, só em vinil. Desta vez não haverá CD. Totalmente instrumental, o disco chama-se Guarida, revelando tal nome já uma parte do que foi a sua concepção (num retiro durante a pandemia da covid-19, que eclodiu em 2020) e vai ser apresentado ao vivo no dia 22, às 21h, no auditório da Biblioteca de Marvila, em Lisboa. Com João Pires (guitarra), estarão os músicos que com ele gravaram: André Xina (programações electrónicas) e Juninho Ibituruna (percussões).

Recém-chegado do Brasil, onde esteve em digressão com um projecto que já tem há alguns anos (Coladera, com os músicos Vitor Santana e Marcos Suzano), João Pires explica ao PÚBLICO como nasceu este seu novo trabalho: “É um disco completamente diferente dos outros, tanto os a solo [Caminhar, 2013; e Lisboando, 2015] como os dos projectos Coladera e Cordel [este com Edu Mundo], que eram centrados na canção, embora a viola, que é de onde vem tudo, estivesse sempre lá. Este é completamente instrumental e muito focado na minha linguagem de viola, de guitarra.” Além disso, relaciona-se directamente com as suas origens: “Eu sou da Beira Alta, de uma aldeiazinha perto da Guarda. E durante a pandemia fui passar uma temporada lá com a família e tive tempo e espaço para remexer em ideias de músicas, rascunhos de coisas que eu tinha, e que me deram o impulso para o disco. Escolhi dez, onze temas, que me faziam sentido no discurso que eu queria para meter no álbum.”

A par de Jangada e Caê, lançados como singles de avanço ao disco, respectivamente em Maio e em Setembro deste ano (o segundo “remete para o acompanhamento e o crescimento” do seu filho ao longo dos anos), o disco tem mais sete temas: Cina, Polianas, Intro Guarida, Guarida, Rascunho, Aragem (mazurka n.º 2), que se estreia em videoclipe no mesmo dia da edição do disco, e, por fim, Quietude (coisas por dizer), que tem uma faixa escondida – “É um fado à minha medida”, diz João. Não há silêncios de separação entre faixas, senão no final, entre Quietude e a tal faixa escondida. “O que eu gostaria é que o disco fosse ouvido como uma faixa só”, acrescenta ele. “E com imagem associada, porque quase todas as músicas terão videoclipes. Foi a minha ideia com o André Xina, o meu parceiro no disco, que fez toda a programação com uns toques de ambientes electrónicos.”

Apesar dos condicionalismos da pandemia, João, André e Juninho acabaram por poder trabalhar juntos. “Foi um disco gravado em casas. Lá na Beira Alta, na minha casa em Lisboa, na casa do André. Foi essa coisa de casa, de guarida. Quanto ao Juninho, já trabalha comigo há muito tempo e esteve também sempre muito presente desde o início, apesar de não tocar em muitas faixas.”

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Capa da edição em vinil de Guarida

Nascido em Lisboa, em 5 de Novembro de 1981, João Pires tem vivido entre lugares e viagens (a mãe trabalha na TAP e o pai numa empresa de logística) dividido entre Portugal, Brasil e Cabo Verde e a música que compõe reflecte, de maneira intuitiva, essa experiência nómada. No caso deste novo disco, a Beira Alta está muito presente. “Toda a minha família é da zona raiana, havendo aquela influência espanhola e moura que eu sempre tive. E depois, por vivência, há a África e o Brasil.”

O concerto de apresentação do disco, em Marvila, terá “uma componente visual associada, de projecção e luz”, diz João Pires. “Serão sobretudo paisagens associadas ao álbum. Muita coisa da Beira Alta, trechos desses videoclipes que eu já lancei, e jogos de luz.” O videoclipe agora em estreia, Aragem (mazurka n.º 2), foi filmado em Parada. “É a aldeia dos meus avós e dos meus pais. Os primeiros registos dessa aldeia remontam a mil cento e qualquer coisa, e o nome vem de ser uma aldeia de passagem, estratégica, dos romanos. Que ali paravam para descansar e sarar feridas.” O mesmo fez João Pires e daí nasceu um disco. Que, refeito da paragem, já está em movimento.

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