O último Verão das nossas vidas

O exemplo da rã que se deixa lentamente e passivamente aquecer em água, apaticamente e sem reagir, até à morte é ilustrativo.

Na Alemanha um meteorologista, Özden Terli, tem feito furor nos seus boletins televisivos, simplesmente porque acredita que as suas previsões têm que reflectir as novas realidades instáveis e assustadoras das alterações climáticas.

Simplesmente, a nova realidade prima pela instabilidade e vai tornar-se progressivamente imprevisível. Ora, apesar de neste Verão termos indiscutivelmente assistido a sucessões de “anormais” calores abrasadores no Norte da Europa, na China, na América e na Ásia a uma sucessão de secas e chuvas diluvianas, tardamos a aceitar as irreversíveis e graves consequências deste “novo normal”.

Acima de tudo, porque inserir o conceito “normal” neste processo em curso, que tende pela nossa inacção a piorar, é um paradoxo que revela a nossa incapacidade psicológica e emotiva para abranger esta realidade Apocalíptica que nos aterroriza, e portanto, nos paralisa.

O famoso Die Welt (DW) produziu em Inglês um curto mas informativo documentárioWhy can’t your brain comprehend climate change?” que trata da paradoxal e impotente inércia de que estamos prisioneiros apesar de décadas de avisos científicos, agora, claramente comprovados na realidade dos factos quotidianos.

O exemplo da rã que se deixa lentamente e passivamente aquecer em água, apaticamente e sem reagir, até à morte é ilustrativo.

O livro cheio de avisos urgentes e pedagógicos de Al Gore com o título An Inconvenient Truth foi agora actualizado, de forma confirmadora e culminante, por um novo livro com o ilustrativo título An Inconvenient Apocalipse, por Wes Jackson e Robert Jensen, publicado em Setembro.

Simultaneamente e a acrescentar a esta inédita crise planetária, vivemos “uma tempestade perfeita” de guerra na Europa e respectiva crise energética. Os países europeus confrontados com uma vulnerabilidade inédita, fruto da sua dependência sem alternativa imediata de anos fáceis de energia barata vinda da Rússia, andam num rodopio, a roçar o pânico, procurando desesperadamente por soluções.

Instalou-se uma nova consciência de “fim de ciclo” em que todas as certezas e estabilidades sem interrupção, vindas da reconstrução pós II guerra Mundial que proporcionaram a consolidação das democracias ocidentais, estão a erodir a um ritmo surpreendente e assustador.

Políticos experientes sentem-se obrigados a honestamente anunciar publicamente o fim da era da abundância e a avisar para um futuro doloroso de sacrifícios e penúria com os respectivos perigos de destabilização social a acrescentar aos perigos de populismos e irracionalidades crescentes.

Macron, oficialmente ligado a uma tradição liberal, ao anunciar o fim da festa do dinheiro fácil e da estabilidade artificial das taxas de juro, está também a anunciar o fim da festa, ou melhor da orgia alienante do neo-liberalismo e das suas pretensões globalizadoras.

E perante tudo isto, António Costa, o nosso primeiro marabalista e manipulador, recusa-se a ser alarmista, não por ser um optimista irritante mas porque manhosamente prefere distribuir esmolas únicas e insultuosas de 125 euros e jogar como numa dança “das três panelas e duas tampas” de forma enganadora e com falsa generosidade com “põe aqui e tira dali”.

O acontecimento mais ilustrativo desta dança macabra e manipuladora, tomou lugar em Maputo, onde Costa ao ser surpreendido por uma coreografia Zombie-VooDoo, foi obrigado a participar em espasmos grotescos e confrangedores, mas ilustrativos do estado desta nação, anteriormente conhecida como Portugal, mas agora reduzida a uma agência periférica para receber e redistribuir esmolas.

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