Dragão teve chuva, Brugge forte e FC Porto muito nublado

Com uma goleada (4-0) insólita e incomum frente à equipa teoricamente mais fraca do grupo, os portistas “despistaram-se” na Liga dos Campeões, somando a segunda derrota em dois jogos. O apuramento está, agora, bastante mais complicado.

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EPA/ESTELA SILVA
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LUSA/JOSÉ COELHO

Há duas ideias que os treinadores frequentemente apontam como premissas-chave para quem joga na Liga dos Campeões. Uma versa sobre intensidade máxima nestes jogos, outra sobre a necessidade de não cometer erros comprometedores em zona defensiva, sob pena de adversários capazes poderem fazer os erráticos pagarem caro.

Nesta terça-feira, o FC Porto ignorou ambas as ideias. Sendo uma equipa pouco predisposta a igualar o Brugge nos duelos e na intensidade, foi ainda especialmente incapaz de evitar erros com e sem bola em zona defensiva.

Resultado: uma derrota clara e surpreendente por 4-0, um desfecho que complica bastante as contas do apuramento para os oitavos-de-final, com a equipa portuguesa a somar zero pontos em dois jogos.

Apesar de não ser um resultado esperado frente à equipa que é, em tese, a mais frágil do grupo, este desfecho só espanta quem não viu o jogo, tal foi a superioridade dos belgas em capítulos do jogo essenciais em qualquer partida de futebol – nomeadamente os índices de agressividade nos duelos (o 8-16 em faltas ilustra-o) e a eficácia na finalização.

No capítulo individual, nenhum sector ou jogador do FC Porto merece nota positiva (ver caixa positivo/negativo).

Otávio foi a jogo

O FC Porto surgiu no Dragão com Otávio no “onze”. Esta foi a primeira grande surpresa da noite, já que internacional português ainda há uma semana saiu de um jogo imobilizado numa maca, com lesões nas costelas.

Com o luso-brasileiro, Sérgio Conceição pôde, como habitualmente, jogar com dinâmicas tácticas que tornaram o sistema em algo híbrido entre o 4x2x3x1 e o 4x4x2, com Pepê nas costas de Evanilson, fazendo a função do castigado Taremi. Mas fê-lo só mesmo no papel – na prática, esteve bastante longe disso. O FC Porto não estava a conseguir jogar entre linhas e, sem bola, estava com dificuldade em coordenar o bloco de pressão – que foi mais anárquico do que é habitual.

O Brugge, com três centrais e dois laterais muito projectados, assumia o risco de ter a defesa bastante aberta, mas isso dotava a equipa de capacidade para rodar a bola em construção, tendo períodos longos de posse de bola – e poderia ter-se dado mal aos 4’, numa perda mal definida por Galeno.

A ideia dos belgas não era complexa, mas era eficaz: “chamar” o FC Porto saindo a jogar curto, com os centrais bem abertos, antes de colocarem a bola longa no jogo aéreo de Vanaken (muitos duelos ganhos) e Jutglà.

E por falar em duelos… foi daí que veio a segunda surpresa da noite. Aos 14’, Diogo Costa falhou um passe longo (uma notícia), o Brugge ganhou o duelo aéreo, Pepe falhou a abordagem (outra notícia), Jutglà isolou-se e João Mário fez penálti – convertido pelo avançado que o tinha sofrido.

Só aos 25 minutos o FC Porto conseguiu começar a ligar o jogo, algo que coincidiu com o momento em que Otávio começou a procurar a bola em zonas mais centrais. Na primeira houve triangulação entre Pepê, Otávio e Evanilson (jogada mal definida) e na segunda o médio “sacou” um amarelo a um adversário. Os pontos comuns entre estes dois momentos foram a presença de Otávio entre linhas na zona central e os passes verticais de Eustáquio.

Além das dificuldades para criar futebol no ataque, o FC Porto mostrava debilidades também no plano defensivo, com mais uma perda de bola em zona recuada – foram duas perdas, uma delas a dar golo. Como muitos treinadores dizem, isto é algo que se paga caro na Champions.

Jogo resolvido rapidamente

Para a segunda parte o FC Porto regressou com Martínez no lugar de Evanilson e Namaso no de João Mário (passou Pepê para lateral). Os nomes foram diferentes, mas um dos problemas foi o mesmo: falta de agressividade nos duelos.

Logo aos 46’, quatro jogadores do FC Porto deixaram-se bater num duelo com Jutglà e Sowa surgiu isolado perante Diogo Costa. O 2-0 roçava o insólito e o 3-0, pouco depois, deu contornos de bizarria total no Dragão.

Após um lançamento lateral, o desnorte portista permitiu ao Brugge, sempre mais intenso nos duelos e no ataque à bola, chegar ao 3-0 por Olsen, com uma finalização ao segundo poste.

Mesmo sem processos complexos ou particularmente técnicos, os belgas chegaram à vantagem confortável. Eram, sobretudo, uma equipa intensa e pronta a chegar primeiro aos duelos (e sem pudor de fazer várias faltas, algo que teve muito impacto), mas nem só de agressividade se faz uma vantagem destas.

Houve, também, um detalhe táctico claro na forma como a equipa belga usou Vanaken em permanentes duelos com Uribe, Eustáquio e João Mário/Pepê, fugindo aos mais brigões Pepe e Carmo, os que poderiam dar uma réplica mais capaz.

Jogando muitas vezes em apoio ou apenas em duelos aéreos, o médio internacional belga desequilibrou a partida em vários momentos, mesmo sem um especial recorte técnico seu ou de qualquer outro colega.

A partir daqui o jogo ficou algo estranho. O Brugge não tinha especial interesse em atacar e o FC Porto não tinha especial engenho para o fazer.

Viu-se, então, uma partida marcada por duelos físicos e perdas de bola de parte a parte, com o FC Porto a jogar, sobretudo, pela via individual dos jogadores frescos que foram sendo lançados por Sérgio Conceição.

É certo que o FC Porto pôde reduzir num par de lances mal definidos, mas o Brugge também fez bater uma bola no poste, antes do 4-0 numa transição (marcou Nusa). No fim de contas, o desfecho, mesmo que por números exagerados, não poderia ter sido outro.

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