O salário mínimo já perdeu 50 euros desde o início do ano?

João Ferreira, dirigente comunista, afirmou que o poder de compra está a deteriora-se em 2022 à conta da inflação e alertou que quem ganha o salário mínimo já registou uma perda de 50 euros este ano.

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O salário mínimo nacional fixado em 2022, e que entrou em vigor em Janeiro, é de 705 euros Paulo Pimenta

A frase

“O salário mínimo nacional tem já uma perda de 50 euros desde o início do ano.”

João Ferreira, dirigente do PCP e vereador na Câmara Municipal de Lisboa

O contexto

Em entrevista ao PÚBLICO, João Ferreira foi questionado sobre as medidas de apoio às famílias adoptadas pelo Governo e, argumentando que estas eram insuficientes para que os portugueses conseguissem fazer face à inflação, deu o exemplo das pessoas que recebem o salário mínimo nacional.

O dirigente comunista disse que aquele que tem sido denominado pelo Governo como o “maior aumento do salário mínimo de sempre” afinal “resultou numa perda de poder de compra significativa”, registando-se “já uma perda de 50 euros desde o início do ano”.

Os factos

O salário mínimo nacional fixado em 2022, e que entrou em vigor em Janeiro, é de 705 euros. Para chegar ao valor de perda de poder de compra de 50 euros, João Ferreira terá considerado o efeito de uma inflação de 7,5% (a inflação média prevista pelo Governo para este ano) no valor do salário mínimo aplicado a partir de Janeiro: 7,5% de 705 euros são 52,9 euros.

No entanto, quando se calcula o efeito no poder de compra da inflação, normalmente também se leva em conta a actualização registada no rendimento no mesmo ano. E o salário mínimo nacional passou de 665 euros para 705 euros, um aumento de 6%. Levando em conta este facto, a perda de poder de compra sofrida por quem recebe o salário mínimo em 2022 será, se se confirmar a inflação média de 7,5% no total do ano, de 1,5% do seu rendimento, o que corresponde a um valor ligeiramente acima de 10 euros.

Mais penalizadora tem sido, por exemplo, a situação dos pensionistas que, no caso das pensões mais baixas (até 886 euros), beneficiaram de um aumento nominal de apenas 1% (decorrente da regra de cálculo automática em vigor), o que significa que estão este ano perante uma perda de poder de compra equivalente a 6,5% do seu rendimento.

Em suma

A afirmação de João Ferreira apenas é verdadeira se se optar por não levar em conta que o salário mínimo nacional registou, em 2022, um aumento nominal de 6%.

De qualquer modo, mesmo com este acréscimo, aplicado a partir de Janeiro, a escalada da inflação em Portugal significou que os portugueses com este nível salarial também acabaram por sofrer uma perda do poder de compra.

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