Alemanha vai manter duas centrais nucleares prontas a funcionar até Abril

As últimas três centrais vão ser desligadas a 31 de Dezembro de 2022, mas em caso de uma falta aguda de electricidade, duas delas podem ser reconectadas à rede. Até se acabar o combustível nuclear.

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O ministro da Economia alemão passa por um cartaz de protesto da Greenpeace que diz: "Energia nuclear? Nem um dia mais" Reuters/MICHELE TANTUSSI

As três últimas centrais nucleares da Alemanha deveriam encerrar definitivamente no final deste ano, mas duas delas, no Sul do país, serão desligadas da rede eléctrica mas mantidas num estado de prontidão até Abril para que possam ser reactivadas rapidamente. A medida quer garantir que não faltará electricidade durante este Inverno, mesmo com o corte do abastecimento de gás russo.

O ministro da Economia e da Acção Climática, Robert Habeck, do partido os Verdes, anunciou a decisão e garantiu que não significa que Berlim voltará atrás nos seus planos para abandonar de vez a energia nuclear até ao fim deste ano, lançados após o acidente na central nuclear de Fukushima, no Japão. “Mantemos os planos de saída do nuclear”, assegurou, citado pelo Politico.

De qualquer forma, é uma reviravolta espectacular, ver um político d’Os Verdes alemães, cuja história se confunde com o movimento de protesto antinuclear, anunciar esta medida. “Temos de nos preparar para o pior. As centrais só reabrirão se for necessária mais energia”, assegurou Habeck.

Vários estudos de opinião mostram que os alemães apoiam esta decisão. Em Julho, a sondagem mensal Deutschland Trend para a televisão pública ARD dizia que 82% dos alemães apoiam o prolongamento da utilização das centrais nucleares por alguns meses, e metade destes até um uso mais prolongado. Só 15% queriam que as três últimas centrais fossem desligadas no fim do ano, como previsto. Até entre os apoiantes dos Verdes esta ideia tem apoio: 61% estavam de acordo com o prolongamento.

Teste de stress

A decisão de manter em estado de prontidão as centrais Isar 2 and Neckarwestheim 2, com uma potência de 1400 megawatts (MW) cada, para uma emergência foi tomada após serem conhecidos os resultados do teste de stress ao sistema eléctrico pedido pelo Governo alemão, para avaliar se devia tomar medidas extraordinárias relativas ao nuclear. Habeck disse que o teste mostrou que poderia haver horas de crise no fornecimento de energia eléctrica durante o Inverno, devido à falta de gás no mercado energético europeu, relata a Reuters.

“Duas grandes crises – a guerra e as alterações climáticas – estão a ter um impacto muito concreto na segurança energética da Europa. Em certas circunstâncias, em situações muito específicas, estes riscos podem juntar-se”, disse o ministro da Economia alemão. “Mas continua a ser muito improvável que tenhamos situações de crise e cenários extremos”, sublinhou Habeck. “Tenho é de fazer tudo o que for necessário para garantir completamente a segurança do abastecimento”, explicou.

Segundo a entidade que compila os dados de armazenagem a nível europeu, a Gas Infrastructure Europe (GIE), o nível médio de armazenamento de gás natural da União Europeia era de 81,55% na passada sexta-feira, dia 2 de Setembro. Portugal tinha, as reservas à máxima capacidade e países como a Polónia (99,09%), França (92,66%) e Suécia (90,8%) estavam perto disso. A Alemanha, o cerne das preocupações europeias, tinha os depósitos a 85,55%.

O ministro afirmou que as duas centrais que ficam prontas a retomar o funcionamento não receberão mais combustível nuclear. “E as reservas acabam em meados de Abril de 2023”, disse, explicando que essa é a linha terminal para as centrais.

No Inverno de 2023/24, a Alemanha conta ter uma maior capacidade de importação de gás, disse o Governo. Nessa altura contará com tanques de armazenamento flutuantes e unidades de regaseificação para tratar gás liquefeito (LNG), importado dos Estados Unidos ou de outros pontos do mundo, e transportado em navios.

Apesar disso, o anúncio de Habeck, que faz de Abril o horizonte final para a possibilidade de usar as centrais nucleares, desencadeou reacções críticas no seio da coligação governamental (Verdes, Sociais-Democratas e liberais do FDP). Os liberais têm feito pressão para que houvesse uma extensão mais alargada do uso da energia nuclear, e opuseram-se a esta decisão de limitá-la no tempo apresentada por Habeck

“A decisão foi tomada por motivos políticos e não está ancorada na realidade”, disse ao Politico Michael Kruse, porta-voz do FDP para a energia. “Não só há uma necessidade de mais electricidade na Alemanha, como o disparar dos preços da electricidade está a deixar a economia de joelhos. Não haver uma extensão da vida das centrais nucleares é um fardo desnecessário para os consumidores de electricidade”, afirmou.

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