Cruzamentos entre o têxtil e a arte contemporânea no Contextile, em Guimarães

A Bienal de Arte Têxtil Contemporânea assinala dez anos de actividade com exposições de criadores nacionais e internacionais. Ibrahim Mahama, do Gana, é o artista convidado.

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Ibrahim Mahama LUSA/ESTELA SILVA

Guimarães prepara-se para abrir portas, este sábado, à sexta edição da Contextile, que se prolonga até 30 de Outubro com trabalhos de 54 artistas internacionais e de dez portugueses, espalhados por 15 locais da cidade.

Para o director da Contextile - Bienal de Arte Têxtil Contemporânea, Joaquim Pinheiro, esta edição é também um balanço de uma década de actividade, dez anos após a Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura. “Mas é, sobretudo, um momento de dar um impulso ainda maior, seja na escala, seja na ligação ao território onde estamos inseridos, em Guimarães e Vale do Ave, que é um território de cultura têxtil. É estabilizar e aprofundar as relações que temos, numa estratégia de ligação a outros territórios de cultura têxtil, com outros parceiros e outras bienais, que tem vindo num crescendo até à presente edição”, sublinhou Joaquim Pinheiro.

Em declarações à agência Lusa no Instituto de Design de Guimarães (IDEGUI), onde voluntários trabalham numa das duas instalações do artista plástico ganês Ibrahim Mahama, envolvendo teares gigantes e a tecelagem de tecidos trazidos do Gana, o director da Contextile revelou que também convidaram dez artistas nacionais “consagrados” que utilizam o têxtil nas suas obras.

A exposição 10 Artistas - O Têxtil na Arte Portuguesa, que assinala os dez anos de Contextile, vai estar no Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e contempla obras de Ana Vieira, António Barros, Eduardo Nery, Gisella Santi, Joana Vasconcelos, João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, José de Guimarães, Leonor Antunes, Lourdes Castro e Margarida Reis.

Joaquim Pinheiro destacou ainda a exposição internacional, “o epicentro da bienal”, com 58 obras de 54 artistas de 33 países no Centro Cultural Vila Flor (CCVF). “A bienal são sensivelmente dois meses. As expectativas são grandes, depois destes dois anos [de interregno devido à pandemia], esperamos ter bastante gente a participar e a visitar-nos. Tal como temos uma participação muito elevada de artistas a nível nacional, mas sobretudo a nível internacional, temos expectativas de haver muito público”, partilhou o responsável. Para a directora artística da Contextile, Cláudia Melo, passados dez anos, este era o momento de se fazer “um ponto de situação, de reflexão”.

“O tema desta bienal é o remake ["refazer”]. Através do pensamento crítico, como é que se pode actuar, mudar o que precisa de ser mudado. É uma proposta bastante desafiadora e bastante difícil também, mas era importante repensar aquilo que poderá ser feito de novo e aquilo que poderá ser feito melhor.” Cláudia Melo salientou que a “assinatura deste ano” da bienal é “o têxtil na arte”, a capacidade de “reflectir o têxtil como incitador e como congregador” e como, através dele, “os artistas resolvem as suas propostas, trazendo também para a dimensão do têxtil outros pensamentos da arte contemporânea”.

Nesse sentido, a directora artística destacou a exposição no CIAJG, em que se propõe uma narrativa de uma “possível história do têxtil na arte portuguesa”, bem como a exposição de arte têxtil norueguesa no Museu de Alberto Sampaio - a Noruega é o país convidado desta sexta edição.

“[Há] obviamente o nosso artista convidado [Ibrahim Mahama], que desenvolveu duas instalações no espaço público: uma na muralha e outra no IDEGUI, e que desenvolve também um trabalho muitíssimo importante de colaboração com a comunidade”, assinalou Cláudia Melo. “A comunidade é chamada a fazer a intervenção, a co-construir o trabalho dele.” Neste momento, prosseguem os trabalhos na muralha do Castelo de Guimarães, onde já estão colocadas várias mantas de retalho feitas com sacos de juta.

“Esta instalação faz parte de um trabalho antigo que comecei a desenvolver em 2012, quando era estudante universitário. Reflecte o meu interesse nestes materiais e na história que eles contam. À data, fui juntando estes sacos, que são feitos originalmente na Índia e levados para o Gana para transportar cacau. O cacau é uma das maiores mercadorias do Gana e também do mercado mundial”, explicou Ibrahim Mahama à Lusa.

O programa da Contextile inclui ainda residências artísticas, workshops, exposições de escolas artísticas e conferências.

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