Rússia recruta voluntários em prisões. Grupo Wagner promete liberdade a quem combater na Ucrânia

Rede de mercenários oferece salário de 3200 euros a quem aceitar pegar em armas e ir para a linha da frente. Não há contratos escritos, com tudo a ser feito através de acordos verbais.

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Rússia sofreu baixas acentuadas na Ucrânia Reuters

Depois de ter acabado com a restrição de idade máxima para soldados a combater na Ucrânia – que estava limitada, no início do conflito, a pessoas até aos 40 anos – a Rússia olha agora para as prisões como fonte de novos soldados e solução imediata para as fortes perdas sofridas na guerra iniciada em Fevereiro.

O Istories, órgão de comunicação russo independente especializado em jornalismo de investigação, revela que estão a ser prometidos salários bons e uma amnistia total em troca de seis meses de serviço. Membros do grupo Wagner, rede de mercenários com ligações a Putin, que treina soldados e apoia operações militares russas em vários pontos do globo, têm visitado prisões em várias regiões russas, encontrando-se com reclusos e tentando convencê-los a pegar em armas.

“O ‘voluntário’ tem como oferta [um salário de] 200 mil rublos (aproximadamente 3200 euros) e um perdão em troca de seis meses de serviço. Isto se regressar vivo”, pode ler-se na investigação. A experiência militar prévia dos voluntários será irrelevante neste recrutamento.

Não há contratos escritos, mas existe um acordo verbal de que, em caso de morte destes voluntários, as famílias recebem automaticamente uma indemnização no valor de cinco milhões de rublos (aproximadamente 79 mil euros).

Numa das prisões de São Petersburgo abordadas pelo grupo Wagner, cerca de 200 reclusos mostraram interesse em voluntariar-se – mas apenas 40 foram efectivamente recrutados. As abordagens concentram-se agora em áreas mais desfavorecidas da Rússia, regiões onde o dinheiro oferecido poderá ter um poder aliciante mais eficaz.

De acordo com a avaliação feita por analistas ouvidos pela CNN, há pelo menos 30.000 voluntários nas fileiras russas. Richard Moore, responsável pelo serviço de inteligência britânico MI6, diz que a táctica chega numa altura em que é “cada vez mais difícil para os russos encontrarem meios”. As estimativas das perdas no exército russo variam consoante o lado ouvido, mas as estimativas norte-americanas apontam para 500 soldados mortos ou feridos diariamente nas últimas semanas – num total de 70 a 80 mil baixas nos últimos cinco meses.

Os familiares dos reclusos explicam que elementos do grupo Wagner têm feito visitas a estas prisões, dizendo que a tarefa dos voluntários será “detectar nazis” na Ucrânia. Os membros deste grupo paramilitar também informaram os prisioneiros de que estes seriam destacados para a linha da frente e, dado o risco da missão, “nem todos vão voltar” a casa.

Suspeita-se que o grupo Wagner é liderado por Dmitri Utki, um aliado próximo do Presidente russo, Vladimir Putin. A organização de mercenários ganhou notoriedade em 2014, quando assistiu as forças separatistas em Donetsk e Luhansk.

A organização paramilitar esteve ainda envolvida em operações na República Central Africana, Síria e no Mali.

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