Marcelo: Costa é um “bom mata-borrão” e Montenegro “percebeu” que pode beneficiar “da proximidade do Presidente”

O Presidente da República identificou algumas das maiores adversidades dos últimos seis anos e diz que sentiu o seu papel de “fusível de segurança” ameaçado no Verão de 2017.

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A entrevista a Marcelo Rebelo de Sousa é transmitida às 22h30 na CNN Portugal LUSA/JOSÉ COELHO

Numa espécie de balanço político do país que recua ao seu primeiro mandato, Marcelo Rebelo de Sousa elogia a forma como o primeiro-ministro, António Costa, foi sabendo aproveitar a sua popularidade e diz que um dos erros da direita foi ter-se descolado “ostensivamente” de si. Em entrevista à CNN Portugal, que será transmitida esta quinta-feira às 22h30, Marcelo Rebelo de Sousa dá nota positiva à estratégia de liderança que Luís Montenegro tem vindo a seguir, mas deixa também os maiores elogios à capacidade de Costa dominar a bolha político-mediática. “Mais importante do que a classe política é a bolha mediática”, diz.

“A direita cometeu um erro que nunca percebi: os sucessivos líderes da direita descolavam de mim em vez de se colarem a mim, descolaram ostensivamente de mim. Quem é que se colava a mim? O primeiro-ministro e o PS”, afirma Marcelo Rebelo de Sousa.

Virando-se para a nova liderança do PSD, o Presidente elogia Luís Montenegro face ao seu antecessor, Rui Rio. “O primeiro a dar alguns sinais de que percebeu isto é o actual líder”, afirma. “Percebeu que podia estar próximo de alguém que, sem estar a fazer nenhuma frente partidária, abria espaço”, considera Marcelo, comparando a estratégia de Montenegro à do líder e primeiro-ministro socialista. “É o que faz o primeiro-ministro desde sempre”, simplifica.

Para Marcelo, Montenegro “percebeu que podia cavalgar mais ao centro, beneficiando da proximidade do Presidente da República”. “Não percebi porque é que o PSD deu de barato ‘este está perdido, não dissolveu o Parlamento e deixa o primeiro-ministro governar, vamos ver como isto acaba muito mal'”, diz, numa nota negativa à estratégia social-democrata dos últimos anos.

Numa entrevista que decorre com Marcelo Rebelo de Sousa ao volante do seu carro, a caminho de Viseu, o chefe de Estado foi partilhando conselhos (e recados), sem concretizar destinatários: “É muito importante, em política, não só ter razão, como saber explicar aos portugueses a razão que se tem. Porque, muitas vezes, tem-se razão, mas a não explicação da razão ou o mau uso da razão faz perder a razão”. E sublinha a importância destas explicações num contexto de maioria absoluta. “Havendo uma maioria absoluta, o terreno de eleição do Governo chama-se Parlamento. Porque aí tem a certeza do apoio e do aplauso da maioria dos deputados. E o terreno mais ingrato chama-se rua”, considera.

Marcelo chama ainda a António Costa um “mata-borrão”, mas “um bom mata-borrão”. “O primeiro-ministro é muito rápido a sugar as coisas”, elogia. Mas houve excepções. O Verão de 2017 com os incêndios e o caso de Tancos afastaram os portugueses do Governo socialista de Costa, considera.

“Sentia-se muito, muito, muito o ambiente anti-Governo”, diz, acrescentando que sentiu a sua posição de “fusível de segurança” em “risco”. “Se não tenho sido bastante brutal na intervenção que fiz”, isto ia tudo por água abaixo​”, acredita o Presidente da República, referindo-se às declarações que levaram à saída da então ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

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