O edifício histórico da Garagem Liz foi reconvertido e deu lugar a um supermercado

De teatro-circo a garagem e agora a supermercado, o espaço modernista onde se situava a histórica Garagem Liz acolhe um Continente, na Rua da Palma.

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Após a aprovação da CML e da Direcção-Geral do Património Cultural, foi inaugurado na passada sexta-feira, um supermercado na antiga Garagem Liz Continente Bom Dia

O edifício modernista construído em 1933, classificado como imóvel de interesse público numa das maiores artérias da cidade de Lisboa, alberga, desde há uma semana, um supermercado Continente. Mas a instalação desta superfície comercial numa das maiores artérias da cidade de Lisboa não foi fácil e várias vozes protestaram contra este projecto.

Antes de ser uma garagem, este edifício, que se situa na esquina entre a rua da Palma e a calçada do Desterro, tinha sido um teatro: o Real Colyseu de Lisboa. Construído em 1887 em terrenos da propriedade da condessa de Geraz de Lima, funcionou como um teatro-circo e apresentava ópera cómica, circo e espectáculos equestres. Foi aqui que se realizaram as primeiras sessões de cinema em Portugal, após ter sido transformado em animatógrafo em 1896.

Em 1917, foi alugado à Administração dos Correios e Telégrafos para serviços de encomendas e, nove anos depois, o edifício foi demolido. Foi comprado em 1933 pela empresa J. Caldas que entregou na Câmara Municipal de Lisboa (CML) o pedido de construção da Garagem Liz. Com o aval da CML, avançou então na altura o projecto de Hermínio Barros, tornando a garagem num dos exemplos da arquitectura modernista dos anos 1930 devido ao “jogo de linhas verticais e horizontais, pelos seus elementos na sua maioria planos, de desenho geometrizante”, como se pode ler no site da Direcção Geral do Património Cultural.

Após ter sido classificado em 1981 como imóvel de interesse público por despacho do Instituto Português do Património Cultural (IPPC) e da CML, nem sempre foram permitidas intervenções, que conduziu as instalações da histórica garagem à degradação.

O projecto da Sonae (empresa que detém o PÚBLICO), apresentado em 2019, para a construção de um supermercado gerou várias críticas, entre elas a questão do trânsito que poderá ser afectado pelas cargas e descargas diárias, o impacto nas lojas locais da freguesia de Arroios e a alteração de um testemunho importante de um momento histórico da capital.

Com o aval da Direcção-Geral do Património Cultural e da CML e com garantias que o projecto do arquitecto Hermínio Barros seria conservado, o investimento avançou e abriu agora um novo Continente Bom Dia na Rua da Palma. Dos vários negócios que funcionaram no local, apenas a Cervejaria Barca Bela conseguiu permanecer, tendo 50 anos de funcionamento.

“Queremos ir ao encontro das necessidades dos nossos clientes que privilegiam, cada vez mais, um serviço próximo e conveniente. Queremos também ajudar a dinamizar a vida neste bairro, recuperando um edifício histórico muito importante para a cidade de Lisboa, mantendo a sua identidade e garantindo a continuidade da sua utilização”, afirma em comunicado Miguel Muñoz, director da loja Continente Rua da Palma. O espaço comercial tem 21 lugares de estacionamento no piso superior, tem uma loja Wells e “preserva os valores patrimoniais do imóvel histórico”, asseguram. Está aberto diariamente das 08h00 às 21h00.

Através do programa Missão Continente, vão apoiar várias associações como a Refood Santo António, o Centro Social e Paroquial São Jorge de Arroios, a Sol - Associação Apoio às Criança VIH/Sida e a Animalife, “através dos excedentes alimentares diários da nova loja”.

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