Ayres de Campos admite ter que se considerar “possibilidade de encerrar maternidades”

Coordenador nacional da comissão de resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e blocos de partos admite que esta é uma forma de dar resposta a curto prazo ao problema das urgências. Responsável espera entregar propostas entre Setembro e Outubro, de modo a evitar perturbações nos serviços na época do Natal.

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Diogo Ayres de Campos, coordenador da comissão de acompanhamento das urgências obstétricas Nuno Ferreira Santos

O coordenador nacional da comissão de resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e blocos de partos defende que tem que ser considerada a possibilidade de encerrar algumas maternidades, fora do interior, para concentrar recursos e responder aos problemas.

“Temos, de facto, que considerar a possibilidade de encerrar algumas maternidades. Em primeiro lugar, nós não conseguimos formar, nem atrair médicos obstetras e ginecologistas, em tempo útil, para acudir a alguns problemas”, afirmou o coordenador nacional da comissão de acompanhamento de resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e bloco de partos, Diogo Ayres de Campos, em entrevista à rádio TSF e ao Jornal de Notícias.

Para o também director do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital de Santa Maria, está é “a única forma” de, a curto prazo, dar resposta ao problema.

Contudo e, apesar de ressalvar que a questão ainda não foi discutida no grupo de trabalho, Ayres de Campos afastou a possibilidade de encerrar maternidades “que estão muito distanciadas”, como a de Bragança, Abrantes ou Portalegre, considerando que “são essenciais” para manter a população local.

De modo a evitar perturbações nos serviços na época do Natal, este responsável espera entregar propostas entre Setembro e Outubro, mas lembrou que a comissão não tem “nenhuma garantia” de que o consiga fazer.

“Dentro daquilo que for possível fazer, eu irei tentar que tenhamos soluções relativamente rápidas, logo a seguir aos meses de verão”, assegurou.

Já no que se refere à colaboração com os privados, Diogo Ayres de Campos considerou ser “extremamente difícil” ter esse tipo de respostas. Conforme sublinhou, os hospitais privados têm as suas próprias rotinas e uma forma de funcionar “mais individualizada”, o que também “condiciona mais partos induzidos e cesarianas”.

Ainda assim, acrescentou que esta é uma questão que poderá voltar a estar em cima da mesa, caso a situação em Lisboa e vale do Tejo e no Alentejo não seja controlada em Agosto.

Conferência sobre escalas de Agosto

O PÚBLICO questionou o Ministério da Saúde sobre a possibilidade admitida pelo coordenador da comissão de resposta em urgência de ginecologia, obstetrícia e blocos de partos, mas não obteve resposta em tempo útil.

Para esta segunda-feira está prevista uma conferência de imprensa sobre as escalas dos serviços de urgência de Obstetrícia e Ginecologia no mês de Agosto, anunciou o Ministério da Saúde. Além da presença de Diogo Ayres de Campos, a conferência contará também com os dois secretários de Estado da Saúde.

O problema nas urgências obstétricas tem-se mantido ao longo das últimas semanas, com limitações por falta de profissionais em número suficiente para cumprir as escalas em diversos hospitais do país. Em Agosto espera-se uma situação um pouco mais complicada nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo, admitiu o coordenador nacional da comissão na mesma entrevista, adiantando que de acordo com os números apurados existem cerca de 830 obstetras no SNS.

Numa reacção às declarações de Ayres de Campos, o presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF), Nuno Clode, admitiu, em declarações à TSF, que o encerramento de algumas maternidades é a forma mais rápida e eficaz de combater a falta de médicos. O especialista considerou “um pensamento muito correcto” poupar as cidades do interior. “Uma coisa é estarmos na Área Metropolitana de Lisboa, em que há uma boa rede viária e que tem maternidades perto umas das outras. Outra coisa completamente diferente é falarmos de maternidades como, por exemplo, de Beja, Portalegre ou Bragança, em que a maternidade ao lado fica a uma ou duas horas [de distância]”, disse.

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