Portugal está preparado para um cenário de guerra? Visão da Enfermagem de Emergência extra-hospitalar

Em contexto da emergência extra-hospitalar, existem protocolos de atuação que visam compreender a resposta em situações de emergência, exceção e catástrofe permitindo uma articulação concertada entre os diferentes intervenientes.

Atualmente, vivemos um cenário de guerra que invade diariamente as nossas casas com imagens dilacerantes, revoltantes e desumanas que nos fazem refletir para além da nossa vulnerabilidade enquanto seres humanos, da nossa fragilidade enquanto cidadãos de um estado de direito democrático, como pessoas integradas numa sinergia de globalização.

Face a esta realidade, a Europa, incluindo Portugal, está a sofrer notoriamente com a guerra da Ucrânia atendendo aos custos económicos e sociais avultados, perante o aumento dos produtos de primeira necessidade levando a uma reflexão mais abrangente. Estaremos nós preparados para um cenário semelhante?

Embora na ótica civil, felizmente, esta perspetiva seja distante e, em termos das Forças Armadas portuguesas e do seu arsenal bélico com certeza, centrada a sua organização, no chefe de Estado, o Presidente da República, enquanto Comandante Supremo das Forças Armadas, haverá um plano estratégico devidamente protocolado e salvaguardado, em consonância com todas as entidades inerentes, atendendo a uma estratégia global e integral de forma a manter a segurança nacional. Mas, olhando para o nosso sistema de saúde, existirá um plano estruturado de atuação das equipas de emergência extra-hospitalar, num hipotético cenário de guerra para responder eficazmente?

Fazendo uma retrospetiva, foi notória a pronta resposta dos profissionais de saúde no combate à infeção por covid-19 que vivemos nestes últimos dois anos. Numa visão diferenciadora, mas num paralelismo, terá sido uma guerra, uma luta a um vírus mortal que causou a nível mundial milhões de óbitos. Contudo, foi evidente a casuística e celeridade, na preocupação dos diversos níveis do sistema de saúde, em se adaptar e delinear uma estratégia eficaz e rápida que contribuiu para salvar, ainda assim, muitas vidas.

A especialização em enfermagem médico-cirúrgica na área da pessoa em situação crítica inclui a assistência da pessoa em contexto da emergência extra-hospitalar que preconiza a assistência de enfermagem à pessoa, cuidador/família, visando a prestação de cuidados em caso de doença súbita, bem como em situações de crise ou catástrofe, garantindo a continuidade dos cuidados desde a chegada à vítima até à transferência da mesma para o hospital de referência.

Em contexto da emergência extra-hospitalar, existem protocolos de atuação que visam compreender a resposta em situações de emergência, exceção e catástrofe permitindo uma articulação concertada entre os diferentes intervenientes.

Perante um cenário de cariz bélico, poderá não haver respostas imediatas e estruturas devidamente definidas. Todavia, para além dos hospitais de campanha, temos profissionais, mais diretamente, enfermeiros com competências avançadas e diferenciadoras, alicerçadas no conhecimento e na evidência científica com o intuito de salvar vidas, através da prestação de cuidados altamente qualificados.

Neste sentido, os profissionais da emergência extra-hospitalar, mais especificamente os enfermeiros têm um papel crucial pela capacidade de garantir cuidados de saúde especializados e diferenciados, assim como manter a assistência até à chegada de uma equipa, que também contempla, enfermeiros especialistas nesta área da enfermagem, capazes de assegurar suporte avançado de vida.

Também no contexto dos serviços de cuidados intensivos, cuidados intermédios e serviços de urgência, os enfermeiros especialistas em enfermagem médico-cirúrgica, são peças-chave para garantir a sobrevivência de quem precisar destes cuidados pois são detentores de competências que permitem dar resposta às necessidades das pessoas que assumem o compromisso de cuidar.

Aos enfermeiros cabe o grande desafio e responsabilidade de refletirem sobre estas hipóteses. Foi evidente a perseverante resposta dos enfermeiros que se disponibilizaram a resgatar vítimas da guerra na Ucrânia. Recuperaram pessoas, de forma articulada e segura, para serem cuidadas, acolhidas no nosso país que se preparou para as receber e ajudar. Estamos certos que temos um corpo de enfermeiros especializados em enfermagem médico-cirúrgica que demonstraram as suas competências técnico-científicas, humanas, a sua resiliência e capacidade de se adaptarem às adversidades.

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