Grupo Wagner combate na linha da frente na Ucrânia, diz Reino Unido

Grupo de mercenários está a sofrer mais baixas – e a baixar os critérios de recrutamento, incluindo condenados, diz relatório da informação militar britânica.

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Separatista pró-russo em Lugansk. O Reino Unido diz que há combatentes do grupo Wagner a ter um "papel central" na região ALEXANDER ERMOCHENKO/Reuters

Para compensar perdas militares, a Rússia está a usar mais combatentes do grupo privado Wagner na linha da frente na região do Donbass. E para compensar as suas próprias baixas, o grupo Wagner está a baixar os critérios de recrutamento, empregando condenados e pessoas que antes tinha numa “lista negra”, diz um relatório do serviço de informação militar do Reino Unido divulgado esta segunda-feira.

O grupo Wagner é descrito tanto como um grupo de segurança privado ou uma rede de mercenários, que treina soldados e também providencia segurança a empresas russas (por exemplo, de petróleo ou gás) e envolve-se ainda em confrontos no terreno, como na Síria e cada vez mais em África, da Líbia à República Centro-Africana, passando por Cabo Delgado, em Moçambique.

Já era conhecida a sua presença, e de grupos satélite conhecidos pela orientação neonazi e pela brutalidade como a Liga Imperial Russa e o Rusich. Alguns dos “homens de verde”, russos que combatiam no Donbass em 2014-15 sem insígnias militares, pertenceriam também ao grupo Wagner. Em Maio, a Ucrânia acusou de crimes de guerra dois mercenários bielorrussos que pertenceriam ao grupo.

O Reino Unido diz agora que tem indicações fortes de um “papel central” do grupo no avanço recente da Rússia na região do Donbass, em especial em Popansa e Lisichansk. Isso deve-se à falta de combatentes: as baixas têm sido pesadas no Exército russo, que tem recorrido a militares com menos experiência, e até a soldados mais velhos que estavam já reformados, segundo o relatório britânico.

Um dia antes, o chefe das Forças Armadas do Reino Unido, Tony Radakin, disse que desde o início da invasão da Ucrânia, 50 mil soldados russos morreram ou ficaram incapacitados por ferimentos em combate (e quase 1700 carros de combate foram destruídos).

A maior utilização de combatentes do grupo Wagner é mais uma forma de tentar suprir a falta de forças de combate, diz a espionagem militar britânica. A Rússia evitou até agora fazer uma mobilização militar geral para a ofensiva militar na Ucrânia, uma acção que acarretaria riscos de descontentamento e poderia ter um preço político. Na Rússia, a invasão continua a ser descrita como uma “operação militar especial” e não como uma guerra.

Mas mesmo dentro do grupo Wagner, as baixas estão a ser significativas. E isso terá levado a que fosse seguida a estratégia de pôr no terreno combatentes que de outro modo não seriam aceites no grupo, incluindo pessoas condenadas e ainda pessoas postas anteriormente numa lista negra, diz a espionagem militar britânica, sem explicar qual seria o critério de inclusão nesta lista negra.

Estas pessoas são mandadas para a linha da frente “com muito pouco treino militar”, diz ainda a avaliação britânica. CO número maior de pessoas menos aptas e e menos treinadas para combater tem impacto na eficácia das forças russas em combate.

A Ucrânia já tinha acusado o grupo Wagner de ter antigos condenados a combater – segundo a espionagem ucraniana, os presos assinam contratos com o grupo em que lhes é prometida uma amnistia depois de seis meses de serviço militar na Ucrânia. O crime pelo qual foram condenados, diz Kiev, é irrelevante, pode até ser assassínio ou outros crimes graves.

Além disso, o Reino Unido vê um potencial de tensão entre os combatentes do grupo Wagner e o exército regular, o que poderá afectar o moral. Um exemplo, aponta, é a recente condecoração do chefe do grupo Wagner, Yevgeniy Prigozhin, como herói da Federação Russa pela acção do grupo em Lugansk, numa altura em que muito poucos comandantes do exército regular estão a ser substituídos.

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