Marcelo crê que o primeiro-ministro vai cumprir mandato até ao fim

Presidente da República revelou numa entrevista a Francisco Pinto Balsemão que não tencionava candidatar-se a um segundo mandato e que só o fez por causa da pandemia.

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Presidente da República foi entrevistado por Francisco Pinto Balsemão LUSA/RODRIGO ANTUNES

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não tem dúvidas de que o primeiro-ministro, António Costa, se vai manter no cargo até ao final do mandato, em 2026, honrando aquilo que declarou na tomada de posse do Governo de maioria absoluta.

Numa longa entrevista de 109 minutos nesta quinta-feira à noite a Francisco Pinto Balsemão, presidente do conselho de administração do grupo Impresa, ao podcast Deixar o Mundo Melhor, Marcelo Rebelo de Sousa conta que conhece António Costa desde os 19 anos de idade e declara que a palavra do primeiro-ministro “é para levar a sério”.

“No discurso de posse [do Governo] foi muito claro quando disse que estava para cumprir o mandato e eu, que o conheço desde os 19 anos de idade, acho que o que ele disse é para levar a sério”, declarou o Presidente da República, desvalorizando a tese daqueles que defendem que António Costa pode abandonar o cargo de primeiro-ministro em 2024 para ocupar um lugar em Bruxelas.

Marcelo aproveita a entrevista para destacar a boa relação que António Costa tem com os portugueses e consigo. E ainda sobre o primeiro-ministro, revelou ter um entendimento “total” em matéria de política externa. “Nem sei bem como é possível haver um Presidente da República que não se entenda bem com um primeiro-ministro numa matéria que a Constituição reparte entre os dois. Na política de defesa e na política externa, têm de se entender a 100%. Não pode ser a 50%, 60% ou 70%”, apontou Marcelo.

Um dos momentos mais embaraçoso da entrevista aconteceu quando Francisco Pinto Balsemão questionou Marcelo em jeito de provocação sobre uma questão que marcou a ruptura entre os dois antigos líderes do PSD: “Nunca ninguém o insultou? Nunca ninguém lhe chamou lelé da cuca?” “Não, por acaso não ocorreu isso. Não ouvi isso,” respondeu o Presidente da República.” Esta expressão foi escrita no meio de uma coluna da Gente do Expresso pelo punho de Marcelo, em Agosto de 1978, que dizia “O Balsemão é lelé da cuca” e que resultou de uma aposta com a social-democrata, Margarida Salema. Na altura Marcelo era jornalista no Expresso e Balsemão o dono jornal.

O chefe de Estado surpreendeu ao revelar que se não tivesse havido pandemia de covid-19 não se teria recandidatado a um segundo mandato a Belém. “Se não houvesse pandemia eu não me candidatava”, disse, explicando que por causa da pandemia entendeu que tinha a obrigação de continuar.

Ainda sobre o primeiro-ministro, revelou que tem um entendimento “total” em matéria de política externa. “Nem sei bem como é possível haver um Presidente da República que não se entenda bem com um primeiro-ministro numa matéria que a Constituição reparte entre os dois. Na política de defesa e na política externa, têm de se entender a 100%. Não pode ser a 50%, 60% ou 70%”, apontou Marcelo.

A sua vida pessoal, marcada pela solidão - “cada vez mais só em Belém” -, também foi abordada ao longo da entrevista. Assumiu-se como católico, mas também como alguém que acredita em Fátima (Virgem Maria) e como providencialista, confirmou que dorme pouco – “três horas e meia, quatro excepcionalmente” e que trabalha muito, afirmando mesmo que a Presidência [da República] é “intensa”, numa alusão à pandemia e à guerra na Ucrânia.

Revelou também as razões por que nunca aderiu à Opus Dei – “Sou muito livre, muito independente, muito rebelde. Não sou um católico ortodoxo” – e destacou o “apelo da providência divina” que sente profundamente e que, sublinhou, marca as escolhas que fez ao longo da sua vida.

“As declarações que faço são todas intencionais e visa picar balões e controlar preventivamente acontecimentos, numa altura em que pode resvalar rapidamente. Nós, nas democracias, estamos há muito tempo muito emocionais, muito pouco racionais”, afirmou Marcelo, que, na entrevista ao ‘Deixar o Mundo Melhor’, para assinalar os 50 anos do Expresso, assumiu o seu lado hipocondríaco. “Sou hipocondríaco, assumido e teórico. Entro numa farmácia e pergunto o que há de novidades?”.

Sobre a nova liderança do PSD, o Presidente da República afirma que Luís Montenegro está a fazer “um esforço como não se via há muito tempo” para unir o partido.

Já ao ser questionado sobre se vê Luís Montenegro como uma boa solução para o PSD, Marcelo Rebelo de Sousa afirma: “Não gosto de comentar soluções partidárias, acho que não cabe ao Presidente comentar partidos (…) Ao receber a nova direcção, testemunhei que foi feito um esforço como não se via há muito tempo no PSD – não é total, não é a 100%, mas é um esforço muito grande – de federar pessoas que andavam desavindas ou separadas há muito tempo.”

Na entrevista, Marcelo Rebelo de Sousa recordou a sua passagem pelo Expresso ainda antes do lançamento do jornal, em 1972. Oito anos depois assumia as funções de director do semanário e admitiu que a sua passagem pelo expresso foi “decisiva” na sua vida.

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