Espaço novo, cara nova. O Mercado do Bolhão agora “é para sempre”

Rui Moreira abriu esta sexta-feira as portas do edifício restaurado para a apresentação da marca “Bolhão”. A abertura oficial do espaço será a 15 de Setembro.

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Apresentação da marca "Bolhão" NELSON GARRIDO

A dois meses da reabertura do Mercado do Bolhão, as portas do edifício abriram ao final da manhã desta sexta-feira para o presidente da Câmara Municipal do Porto apresentar a nova marca “Bolhão”. As obras de requalificação do Mercado começaram a 15 de Maio de 2018. Quatro anos (que eram para ser dois) e 22,3 milhões de euros depois, o Mercado está como novo, e, ao mesmo tempo, de volta às origens. O objectivo, explicou Rui Moreira, era retomar o espaço na sua função original, mas adequando-o aos tempos e necessidades actuais. “Parecendo o mesmo, tem coisas diferentes”, diz.

O “monumento feito de cheiros e pessoas”, como descreveu o autarca, vai albergar 91 comerciantes, 29 dos quais serão novos. Na parte de baixo, distribuídas pelas ilhas, vão ficar dispostas as 81 bancas e, em cima, os dez restaurantes, que, para além das escadas, podem ser acedidos através dos 12 elevadores incluídos na obra.

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Na zona de restauração vão existir apenas negócios individuais, que estão obrigados, contratualmente, a fazer as compras de produtos no Mercado, revelou o presidente da câmara. No exterior, vão estar 39 inquilinos, 12 serão estreantes.

A construção de uma cave com acesso ao exterior vai permitir um aumento da capacidade logística e evitar a existência de viaturas a ocuparem a rua para efectuar cargas e descargas. Existe agora uma ligação directa com a estação de metro, e, para além disso, foi edificada uma ponte a meio do espaço que faz a ligação entre a rua Alexandre Braga e a rua Sá da Bandeira. “É a nova rua da cidade”, declarou o autarca.

“Mais faltava que no Porto não houvesse críticas”

Apesar das novidades, há aspectos que não mudam. A entrada da rua Formosa vai continuar a ter as duas bancas históricas e “foi muito importante”, denota Nuno Valentim, arquitecto responsável pelo restauro, manter as cinco ruas “que sempre estruturaram a venda no Bolhão”. A novidade é que foram baptizadas com nomes próprios (exemplo: Rua da Vitória).

A cor que pinta a fachada de 8555 metros quadrados, “que tem dado muito que falar”, nota o presidente da Câmara Municipal, é a primeira que o Mercado teve. Em vários pontos foi possível recuperar os azulejos originais, enquanto noutros tiveram de ser aplicados novos que, no total, têm 12 tonalidades diferentes, destacou.

Nelson Garrido
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A gestão do novo Mercado do Bolhão vai ficar a cargo da Câmara Municipal, garantiu Rui Moreira. “Uma responsabilidade” que o presidente espera “que perdure”.

Já as queixas de alguns vendedores sobre a falta de espaço não o surpreendem. “Mais faltava que no Porto não houvesse críticas”, disse Rui Moreira, em declarações aos jornalistas. Ainda assim, constata: “Não podemos aumentar o Bolhão”.

Quanto a ajustes específicos em cada bancada ou loja, Nuno Valentim garante que estão “dispostos a corrigir, a ajudar”.

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Adaptações que, preferencialmente, deverão ser feitas antes do dia 15 de Setembro - data marcada para a abertura. Porém, no caso dos restaurantes, se existem alguns mais adiantados, outros, cujos espaços foram atribuídos através de dois concursos públicos, estão mais atrasados, refere Cátia Meirinhos, vice-presidente do conselho de administração da empresa municipal GO Porto. “Enquanto já temos alguns comerciantes que já estão em obra, temos outros que os projectos ainda estão a ser licenciados, e outros que ainda estão a desenvolver os projectos e não submeteram para apreciação”. Rui Moreira garantiu que, caso os proprietários não consigam abrir portas na data marcada por conta das circunstâncias, não serão penalizados.

“Bolhão. É para sempre”

A primeira vez que houve uma intervenção no Mercado do Bolhão foi em Janeiro de 1873, recordou o autarca, com a construção de uma praça rectangular. Mas é em 1914, em plena 1ª Guerra Mundial, que o edifício é “verdadeiramente construído”. Uma obra desenhada pelo arquitecto António Correia da Silva, cujo projecto e orçamento foi apresentado pelo negociante portuense Elísio de Melo, que na altura presidia à primeira vereação da era republicana. Mais recentemente, em 2015, surgiu o projecto de restauro, agora concluído.

“Há uma identidade que está no edifício, nas pessoas e naquilo que se vai vender”, destaca o arquitecto Nuno Valentim.

Foi esse carácter que inspirou a nova marca do “Bolhão” (“Bolhão. É para sempre”), apresentada na sessão. O desenho é da autoria de Eduardo Aires, o criador do logótipo identitário da cidade do Porto, e começou a ser pensado já em 2018, aquando da abertura do Mercado Temporário. A base é a mesma do anterior, tendo sido utilizado o mesmo tipo de letra, mas com uma “malha” diferente, explicou o desenhador.

A versão divulgada é a forma “mais pura” do símbolo, que, ao longo do tempo, se vai adequar às festividades. “Estará impregnada nos passeios, nas fachadas”, elencou Eduardo Aires.

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Sara Araújo, presente na apresentação, é proprietária da Peixaria Sara. O novo espaço recorda-a de “como era” no tempo em que a loja que detém ainda pertencia à mãe. “Para mim está espectacular. Toda a gente prometeu e ninguém fez nada. [O edifício] estava todo degradado e agora está magnífico”, acrescenta, em declarações ao PÚBLICO.

Ao lado, estava Paula Viana que tem a Frutaria do Bolhão há 38 anos. Perante a visão do novo Mercado do Bolhão, confessou: “Estou mortinha que chegue ao dia 15”.

Texto editado por Ana Fernandes

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