Ilhas Feroé estabelecem quota anual de matança de 500 golfinhos. Protestos já começaram

Defensores destes mamíferos dizem que quota é “uma farsa” a acusam as Ilhas Feroé de se estarem a tornar num “matadouro” para os mamíferos marinhos.

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Desde 1996 que a média anual de matança de golfinhos nas Ilhas Feroé é 270, um número que inclui os 1428 mortos em 2021 Sea Shepherd Faroe Islands/Facebook

Depois de, a 12 de Setembro do ano passado, a matança de 1428 golfinhos-de-laterais-branca-do-atlântico (Lagenorhynchus acutus), nas Ilhas Feroé (Dinamarca) ter causado indignação internacional, o governo local veio agora estabelecer uma quota anual para a caça destes animais. Segundo a decisão, apenas podem ser caçados 500 destes golfinhos anualmente, mas embora o governo defenda que esta é uma forma de garantir a “sustentabilidade”, os protestos já começaram e os decisores políticos feroenses são acusados de montar “uma farsa”.

Segundo as informações divulgadas pelo jornal britânico The Guardian, a quota será implementada no final deste mês e ficará em vigor até 2024, altura em que o governo feroense promete revê-la, recorrendo aos dados sobre as populações de golfinhos que venham a ser divulgados pela Comissão de Mamíferos do Atlântico Norte, que representa quatro países da região caçadores de baleias – Noruega, Islândia, Gronelândia e as Ilhas Feroé.

Por enquanto, contudo, o governo não dá sinais de pretender reverter a decisão, apesar da indignação pública. Citado pelo jornal britânico, o ministro das pescas feroense, Árni Skaale, defendeu que a quota pretende assegurar a sustentabilidade. “Temos o direito a caçar”, disse, acrescentando que havia uma obrigação de proteger os recursos do país. “Temos de utilizar tudo de forma sustentável.” E justificou o número estabelecido lembrando a matança, sem precedentes, de 2021. “Vai impedir uma caça como a que aconteceu no ano passado”, disse.

Os defensores destes mamíferos, contudo, não estão convencidos e acusam o governo feroense de montar “uma farsa” e de oficializarem algo que nem sequer é uma tradição local – ao contrário da caça às baleias-piloto, uma actividade conhecida como “Grindadráp”, que consiste em encurralar os cetáceos com barcos e forçá-los a entrar em águas menos profundas, onde são mortos com armas perfurantes. É também esta técnica que está a ser usada com os golfinhos.

“Este anúncio pelo governo das ilhas Feroé é uma farsa”, disse Sally Hamilton, directora da organização não-governamental Orca, dedicada à conservação marinha. “O que fizeram foi formalizar algo que até agora não tinha sido formalizado – sancionar a matança quando antes nunca era claro quantos golfinhos seriam mortos por ano ou até se algum seria.” E acrescentou: “Os feroenses tornaram-se um matadouro para os mamíferos marinhos, e o país parece não se importar com o ultraje e condenação internacionais que está a causar.”

Também Steve Jones, líder de parcerias da mesma organização, criticou a decisão governamental, afirmando que “estabelecer uma quota é formalizar uma caçada que não existia como algo tradicional previamente”. E defendeu: “É uma tendência preocupante de uma caçada que não é sustentável. Não há mercado para esta carne.”

As imagens desta caçada anual que ainda se pratica nas Ilhas Feroé são dramáticas e causam, habitualmente, indignação internacional, já que os golfinhos são encurralados e mortos à facada, ficando as águas em seu redor totalmente tingidas do vermelho do seu sangue. Mas, percebeu-se depois da matança sem precedentes de 2021, que não é só a comunidade internacional a condenar esta prática, já que uma sondagem realizada entre os residentes naquela região revelou que 53% se opunha à utilização desta prática com golfinhos. Já a caça das baleias-pilotos é aceite por 83% dos feroenses.

Segundo os dados do Guardian, desde 1996 que a média anual de matança de golfinhos nas Ilhas Feroé é 270, e este número inclui os 1428 mortos em 2021. Durante esse período, o número de golfinhos mortos excedeu os 500 em três anos: 2001, 2002 e 2006.

A matança sem precedentes do ano passado gerou vários protestos, incluindo da indústria de aquacultura feroense, que pediu que a actividade fosse, simplesmente, banida. Já este ano, o governo recebeu uma petição com quase 1,3 milhões de assinaturas, pedindo a proibição da caça ao golfinho, entregue pela Whale and Dolphin Conservation. A decisão agora anunciada surge como um balde de água gelada para quem esperava não ver repetidas as imagens da matança destes animais.

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