Macron fala sobre o caso Uber Files: “Sabem que mais? Fá-lo-ia amanhã e depois de amanhã”

Presidente francês diz-se “orgulhoso” da sua conduta enquanto ministro da Economia e acusa a oposição de ter “perdido o Norte” por acusá-lo de ter feito lobby no Governo a favor da Uber.

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De visita a uma empresa para promover França enquanto destino económico, o Presidente falou pela primeira vez da investigação Uber Files EPA/JEAN-PHILIPPE KSIAZEK / POOL

“Sempre fui hipertransparente”, declarou Emmanuel Macron aos jornalistas, levantando ambas as mãos ao nível do peito e sorrindo: “Sinceramente, estou muito orgulhoso do que fiz.” Dois dias depois da publicação da investigação jornalística Uber Files, o Presidente francês usou ironia, uma citação de Jacques Chirac e um tom afirmativo para rejeitar a crítica de que fez lobby a favor da empresa.

Enquanto a oposição considera que os encontros que Macron manteve com altos responsáveis da Uber quando era ministro da Economia são “um escândalo de Estado” e o sintoma de uma “oligarquia empresarial”, o chefe de Estado diz que se limitou a fazer o seu trabalho.

“Tenho um scoop: é muito difícil criar empregos sem empresas nem empresários”, ironizou Macron perante os jornalistas. “Eu fiz com que empresas viessem [para França], ajudei os empreendedores franceses, ajudei sobretudo os jovens que não tinham empregos, que vinham de bairros difíceis e que não tinham oportunidades, a encontrar um emprego pela primeira vez na sua vida”, defendeu.

“Criámos milhares de empregos, milhares. E quando eu me tornei Presidente, regulámos o sector sem nenhuma complacência. Fomos o primeiro país a nível europeu a fazê-lo”, acrescentou ainda.

De acordo com o Le Monde e a rádio France Inter, que integram o Consórcio Internacional dos Jornalistas de Investigação, Emmanuel Macron era uma voz dissonante no Governo de François Hollande, entre 2014 e 2016, tendo conseguido aprovar legislação que permitiu à Uber trabalhar legalmente no país. Ainda que, até ao momento, não tenha sido revelada qualquer prática ilícita do então ministro, a sua relação com a empresa está a ser questionada.

Os partidos que integraram a aliança de esquerda NUPES vão propor a criação de uma comissão de inquérito parlamentar, enquanto a União Nacional é favorável a uma “missão de informação”, que é semelhante a uma comissão mas tem menos poderes e margem de manobra.

Às críticas da oposição respondeu Macron com uma expressão usada pelo ex-Presidente Jacques Chirac – “Ça m’en touche une sans faire bouger l’autre” – que se pode traduzir por “não me aquece nem me arrefece”. “Eles perderam o Norte”, atirou Macron à NUPES. “Quando acreditamos na Justiça social e na igualdade de oportunidades, temos de lutar pelos jovens que vêm de meios difíceis. Esse nunca foi o combate deles”, acusou ainda.

“Fui um ministro da Economia que se bateu pela inovação. Felicito-me pelo que fiz. Sabem que mais? Fá-lo-ia amanhã e depois de amanhã.”

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