Mais de cinco milhões de portugueses não foram a qualquer evento cultural em 2021

Estudo da Marktest revela pior índice desde 2015. Hábitos culturais foram os mais penalizados pela pandemia, diz o relatório.

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Ensaio de espectáculo 5280 Pés, na Fábrica das Ideias, na Festa da Música e dos Músicos de Ílhavo Adriano Miranda

Mais de 5 milhões de portugueses não foram a qualquer evento cultural em 2021, indica um estudo da Marktest. É o valor mais alto desde 2015, nota a empresa de estudos de mercado, que inquiriu os consumidores sobre actividades culturais que vão desde as idas ao teatro e museus até palestras ou festivais gastronómicos.

Os resultados do estudo TGI (Target Group Índex), divulgado esta terça-feira pela Marktest, mostram que os hábitos de consumos culturais foram os mais afectados pela pandemia na população portuguesa, falando a empresa num “aumento significativo” do número de pessoas que deixou a zeros a sua agenda cultural no ano passado.

Exposições, festivais de música, dança, discotecas, palestras, fazer workshops ou assistir a desfiles de moda são coisas que quase dois terços dos inquiridos não fizeram em 2021 — “cinco milhões e 521 mil portugueses”, traduz a empresa em números, frisando que “este valor é o mais alto” desde que a Marktest analisa o sector e que a quebra nos hábitos de consumo culturais aumentou 68% em relação a 2019, ou seja ao pré-pandemia.

Em 2020, ano em que a covid-19 se manifestou em Portugal e em que, a partir de meados de Março, começou a encerrar o sector cultural de uma forma sem precedentes, eram 44,2% dos inquiridos que não tinham frequentado qualquer evento cultural; em 2021, ano em que algumas restrições se levantaram, mas em que se mantiveram fortes condicionamentos à fruição de espaços colectivos, os portugueses retraíram-se ainda mais. O ano de 2018 foi aquele em que menos inquiridos disseram nada ter feito em termos de eventos públicos culturais (36,2%).

“As mulheres, os indivíduos entre os 45 e 54 anos, assim como os residentes no Sul ou os indivíduos das classes mais baixas foram quem mais referiu não ter ido a nenhum destes eventos culturais no período de referência”, remata a Marktest. O estudo tem por base a auscultação de indivíduos com 15 e mais anos de idade e com uma amostra de cinco mil entrevistas.

O negrume dos dados sobre os consumos culturais nos dois anos de fortes condicionamentos causados pela pandemia já é sobejamente conhecido. Logo no início de 2021, sabia-se que a covid-19 provocara uma quebra de 31% no sector cultural na União Europeia, estimando a consultora Ernst and Young que o meio perdeu 199 mil milhões de euros só no primeiro ano de pandemia. No final do ano passado, o Instituto Nacional de Estatística confirmava quebras brutais, entre os 60% e os 85%, nos consumos culturais em 2020, com os espectáculos ao vivo a serem os mais afectados, mas também os cinemas e os museus a sofrer muitíssimo com as restrições sanitárias.

E 2021, como ilustram agora os números da Marktest, não foi palco de grande recuperação. Desde logo, na oferta: no ano passado, a pandemia manteve o número de espectáculos em menos de metade do que aqueles que chegavam aos palcos portugueses antes da covid-19, segundo o Boletim Estatístico da Inspecção-Geral das Actividades Culturais (IGAC) divulgado em Abril último.

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