Mesmo longe, alunos do Campo de Besteiros trabalham para um futuro melhor no oceano
Esta escola do concelho de Tondela está longe do mar, mas não é por isso que não lhe reconhecem importância. “O equilíbrio do mar depende do que cada um faz na terra”, lê-se num dos cartazes desta Escola Azul.
Para chegarem ao ponto mais próximo do oceano, os alunos da Escola Básica do Campo de Besteiros demoram cerca de uma hora por auto-estrada. Apesar da distância, sabem que adoptar medidas que o protejam significa cuidar do futuro.
Situada no concelho de Tondela, esta é uma Escola Azul, ou seja, uma escola que envolve activamente a comunidade escolar na compreensão da influência do oceano nas pessoas e vice-versa.
“O equilíbrio do mar depende do que cada um faz na terra”, recorda um dos muitos cartazes sobre o tema que se encontram espalhados por vários edifícios da escola e que, além de peixes, tem a servir de “decoração” cotonetes, tampas de garrafas e outros plásticos que habitualmente vão parar ao oceano.
Mas nem é preciso entrar nos edifícios para perceber que esta é uma escola diferente. Logo da rua avista-se, junto ao lago da entrada, uma tartaruga gigante, feita de garrafas de plástico e, ao lado, placas que informam: “Tu e eu podemos mudar o mundo.”
A professora Ana Paula Alves, que coordena o projecto Escola Azul na Escola Básica do Campo de Besteiros, considera que “é mais difícil sensibilizar os alunos para o oceano estando longe dele”, mas o que importa é nunca desistir.
“Na actividade da corrente do oceano, por exemplo, vimos imagens de alunos de outras escolas em frente ao mar. Imagens lindas, sem dúvida. Nós fomos até à ribeira aqui perto, que até tinha pouca água”, conta à agência Lusa Susana Sacras, outra das professoras envolvidas no projecto. A professora referia-se a uma actividade realizada em Maio, para marcar o Dia da Escola Azul.
Enquanto alunos de outros pontos do país saíram das suas escolas e “invadiram” as praias das proximidades, tal não foi possível no Campo de Besteiros. Segundo Ana Paula Alves, a distância entre o Campo de Besteiros e o oceano obriga a uma maior criatividade na realização das actividades.
“Todas as turmas da escola tinham uma gota azul, de papel, na qual escreveram uma frase relativa à protecção dos oceanos. Juntamo-nos todos numa fila, fomos até à ribeira e colocámos as gotas na estrutura da ponte”, recorda Sílvia Marques, de 15 anos, que, tal como Sara Carvalho, de 14 anos, é embaixadora da Escola Azul.
No regresso à escola, foram nomeadas novas embaixadoras, uma vez que as duas alunas estão a concluir o 9.º ano de escolaridade e sairão desta escola.
Os primeiros passos na ligação da escola do Campo de Besteiros ao oceano foram dados em 2014, com o projecto Ler+Mar. Só no ano lectivo 2017/18 se iniciaram as actividades no âmbito do projecto Escola Azul (programa educativo do Ministério da Economia e Mar).
A importância do mar
O trabalho desenvolvido ao longo destes anos, que vai para além dos muitos cartazes dos alunos visíveis na escola, prova que não é preciso viver no litoral para saber a importância do mar e a necessidade de contribuir para a sua sustentabilidade.
A pandemia de covid-19 limitou as actividades, mas, ainda assim, foi possível participar no projecto “O nosso oceano em 2030”. Em articulação com professores de várias disciplinas, cada turma trabalhou para que depois, a nível nacional, fossem encontrados os “dez compromissos das Escolas Azuis”.
“Todo esse trabalho foi bastante interessante, porque obrigou os alunos a fazerem pesquisas, a debaterem uns com os outros essa problemática e envolverem-se. Tivemos uma aluna da nossa escola que até foi ao debate nacional”, conta à Lusa, orgulhosa, Ana Paula Alves.
Este ano lectivo, no âmbito do desafio “Escola Secreta”, a turma da Sílvia e da Sara pegou num desses compromissos — “exigir a instalação de mecanismos eficazes de retenção de resíduos nas sarjetas, que os impeçam de chegar ao mar e de prejudicar a vida marinha” — e redigiu e declamou um poema.
“Um poema sobre sarjetas?”, foi a primeira reacção de Susana Sacras à proposta dos alunos, estranhando a ideia que, reconhece agora, resultou num trabalho muito engraçado.
O poema, declamado pelos alunos na turma e gravado em vídeo, deixa o apelo: “Não, não, não me atires para o chão, o vento vai-me levar, aos trambolhões até ao mar, um autêntico furacão, para não ter este destino, nas sarjetas vamos intervir, sim, sim vamos impedir o lixo, de chegar ao mar e poluir.”
“Acho que este ano foi o melhor, porque depois da covid pudemos voltar a fazer mais actividades”, considera Sílvia Marques, que completa o seu quinto ano de participação no projecto Escola Azul.
Também prestes a deixar o projecto, Sara Carvalho não tem dúvidas de que levará as experiências que viveu para a vida: “Ficamos mais sensíveis, temos mais noção do que está a acontecer e podemos ajudar a prevenir que o lixo chegue ao mar.”
Situada junto à Serra do Caramulo, a escola adequa muitas das actividades do projecto à sua localização. Ana Paula Alves explica que os responsáveis pelo projecto tentam “realizar as actividades não só de acordo com as disciplinas, mas também de acordo com a realidade de quem está no interior do país” e, nesse âmbito, é feita a ligação ao projecto Rios. “Não temos aqui o oceano, mas temos o rio Criz e várias ribeiras, que, mais cedo ou mais tarde, vão dar ao oceano”, sublinha.