Movimento cívico organiza cordão humano pela defesa das ruínas arqueológicas da Sé de Lisboa

Cidadãos promovem concentração pela musealização integral dos vestígios postos a descoberto neste monumento nacional. É já no próximo sábado às 11h, frente à Sé Patriarcal de Lisboa.

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O estaleiro da Sé de Lisboa em Setembro de 2020 Rui Gaudencio

As escavações na Sé Patriarcal de Lisboa começaram há décadas e o programa para a criação de um núcleo arqueológico nos claustros desta que é a principal igreja da cidade foi apresentado pela primeira vez à comunicação social há já sete anos. Desde aí, o arquitecto Adalberto Dias, autor do projecto de musealização dos vestígios postos a descoberto, apresentou já três versões da sua proposta, sem que tenha conseguido gerar consenso.

O movimento de cidadãos que desde 2020 vem contestando o perfil da requalificação anunciada para a Sé está agora a promover para este sábado, 25 de Junho, um cordão humano pela preservação e musealização adequada dos vestígios arqueológicos, tendo marcado a concentração para as 11h, frente a esta igreja monumento nacional.

Esta versão do projecto continua a ser destrutiva das estruturas arqueológicas”, diz ao PÚBLICO Jacinta Bugalhão, arqueóloga que muito tem escavado em Lisboa e membro do movimento de cidadãos que contesta a intervenção promovida pelo Cabido da Sé e pela Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). “Não podemos ficar a assistir, de braços cruzados, enquanto um projecto de arquitectura destrói o património que devia requalificar.”

No breve texto em que anuncia nas redes sociais o cordão humano deste sábado, este movimento deixa bem claros os objectivos das várias acções que têm levado a cabo para fazer ouvir as suas reivindicações. Os cidadãos que dele fazem parte reclamam a preservação integral das estruturas medievais, islâmicas e romanas que ainda se encontram nos seus lugares; querem que os promotores do projecto desistam de construir o piso -1 sob a ala sul do chamado claustro dionisino (medieval) e respectivos acessos; e exigem, ainda, que se encontrem novas soluções que garantam a estabilidade estrutural do conjunto patrimonial da Sé de Lisboa sem que sejam afectados os vestígios arqueológicos, que deverão ficar visíveis.

“Neste momento, a versão do projecto que querem construir afecta muito as estruturas arqueológicas, sobretudo o edifício monumental islâmico, que fica quase todo escondido”, acrescenta Jacinta Bugalhão, lembrando que este complexo público da Lisboa moura, cuja interpretação ainda gera debate entre os arqueólogos, “já sofreu muitas afectações”.

O mesmo movimento de cidadão prepara-se também para dar entrada na Assembleia da República da petição que promoveu logo em 2020, quando a DGPC, já no decorrer da obra (começou em 2018), emitiu um despacho que ordenava a destruição das estruturas islâmicas que colocavam entraves à concretização da versão anterior (a segunda) do projecto de Adalberto Dias.

“Há praticamente dois anos reunimos mais de 3200 assinaturas para levar o assunto à Assembleia. Na altura corríamos o risco de ver destruída a quase totalidade dos vestígios islâmicos. Agora já não estamos aí, mas o projecto de arquitectura continua a não respeitar a arqueologia e, por isso, não serve”, acrescenta a arqueóloga, que assim quer ver o Parlamento cumprir o seu papel de fiscalizador da actividade do Governo.

“Não vamos aqui esconder objectivos – queremos que o projecto seja revisto e que a obra seja suspensa até que se encontre uma solução não destrutiva. Tem de ser possível encontrar outra maneira de garantir a segurança do conjunto da Sé, que é um monumento importantíssimo, sem se sacrificar a arqueologia e o que ela pode ensinar a quem visitar a Sé.”

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