A CEDEAO face ao futuro

A Comunidade Económica Dos Estados da Africa Ocidental tinha 386,8 milhões de habitantes em em 2019. Estima-se que atinja os 786 milhões em 2050.

A CEDEAO (Comunidade Económica Dos Estados da Africa Ocidental​) encontra-se a braços com agressões terroristas, golpes de Estado militares, países sob sanções, democracias em construção espezinhadas e com o lançamento sub-reptício, envolvendo interesses estranhos à região, de uma moeda regional, instrumento de poder essencial da economia. Sem falar das consequências devastadoras da atual pandemia, das mudanças climáticas e da guerra na Ucrânia.

A nossa região, sem dar por isso, está a descer lentamente os nove círculos do Inferno de Dante Alighieri. Nesses tempos conturbados, os membros da CEDEAO devem mudar a forma de pensar a integração, a maneira de cooperar e de se relacionarem uns com outros, dando mais consistência à solidariedade e acreditando mais no bem comum coletivo. Pois, se não somos iguais nem pelo tamanho, pelo número da população, nem ainda pela riqueza e alguns possam ser mais iguais que outros, podemos, entretanto, escrutinar vias novas e caminhar solidariamente, em prol do desenvolvimento de todos.

Cabo Verde, segundo o Economista Carlos Lopes, representa 3% da economia da Nigéria. Isto é, somos peanuts para este enorme país. Mas Cabo Verde tem experiências e valores em diferentes domínios que podem servir a Nigéria ou outros países da região. Num processo de integração hoje, não se pode contabilizar só o peso económico! As mais valias da democracia cabo-verdiana e as suas transições e alternâncias de poder pacíficas desde 1975, os seus indicadores socioeconómicos em destaque no continente, o savoir-faire das indústrias criativas e do turismo, os avanços tecnológicos e as suas aplicações em diferentes domínios, as riquezas estratégicas do mar podem ser também contabilizados e valer como bens do património nacional e regional de reconhecido valor, na partilha de responsabilidades ou de benefícios, a qualquer altura.

Para isso, será preciso acabar com o menosprezo consciente e caricatural e a desvalorização subtil, mas intimidante, daqueles que se vestem do seu tamanho em relação aos pequenos, num mundo onde ser “Grande2 exige mais do que ser um travesti. A presente conjuntura deve incitar-nos a pôr em comum as nossas inteligências e competências, pois o futuro que nos espera não parece estar equacionado para o nosso sucesso.

As superpotências mostram-se cada vez mais interessadas em enfraquecer ou derrubar o adversário. Nesse cenário global incerto, devemos trabalhar, na nossa sub-região, para que os sucessos de uns possam repercutir-se nos outros, da mesma forma que as mortes intoleráveis de refugiados às portas da Europa afetam a todos. Sabemos hoje que um iluminado pode chegar ao poder numa superpotência e ficar com a segurança global sob a sua alçada. O futuro só pode residir na Paz, na resolução pacífica dos diferendos e numa cooperação sã entre Estados, praticando boa-fé e vontade política. O multilateralismo nunca foi mais necessário ao mundo.

Somos na CEDEAO, a grande maioria de nós, países frágeis pelas nossas economias de escala e pela pobreza que grassa entre nós. A integração regional consiste em pôr em comum as capacidades, as experiências e as inteligências, a fim de criar maiores oportunidades para todos. Juntos temos mais riqueza que qualquer dos Estados do G7.

Não são riquezas minerais que nos faltam, mas sim a capacidade de pensar estrategicamente as vias e meios do nosso progresso coletivo e do nosso bem-estar comum. A ideia que temos de nós mesmos tem de mudar. Enquanto Estados procurando uma integração viável, não nos devemos depreciar pelas diferenças, mas sim valorizar como Nações aspirando à união, povos com uma extraordinária história comum, numa região promissora, com diversas dinâmicas.

Devemos saber porque estamos na CEDEAO e lutar por ela em consciência, pois sabemos que o tempo não labora a nosso favor. A ONU parece ter-se tornado uma concha vazia, justamente quando mais necessitamos dela. Procura-se culpar o secretário-geral quando são os cinco membros do Conselho de Segurança que têm responsabilidades na presente situação por não terem sabido antecipar, prevenir e evitar ao mundo ser colocado a beira do precipício. O mundo, atolado no meio de rivalidades exacerbadas dos Grandes e de uma imprensa mundial eurocêntrica, cada vez menos plural e objetiva, será mais hostil e menos sensível ao nosso destino individual e coletivo.

A CEDEAO deverá ter uma visão do futuro renovada, integradora, aceite e promovida por todos para ser bem-sucedida. Devemos evoluir, mudar ou desaparecer. Só entendendo, como uma exigência premente a nossa objetiva interdependência e o nosso destino coletivo comum, poderemos vencer as ameaças e perigos do lento afundamento da nossa Organização e trabalhar seria e afincadamente ao nosso ideal de integração. Devemos dar uma prioridade absoluta ao diálogo sobre as sanções e à solidariedade sobre a desunião, privilegiando sempre as soluções apaziguadoras em detrimento das decisões que prolongam as incompreensões e as divisões e perpetuam um statu quo prenhe de riscos existenciais… Não esqueçamos que antes de sermos países membros de uma Organização somos países irmãos e queremos que a nossa integração se torne uma realidade de todos e para todos.

A CEDEAO não pode desaparecer porque somos nós todos a seiva da sua sobrevivência e obreiros do seu destino.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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