Portugal foi à Suíça com a cabeça nas férias

Portugal perdeu neste domingo frente à Suíça, na Liga das Nações, no jogo que era o último antes das férias e no qual os atletas pareceram pouco enérgicos. A melhoria na última meia hora foi insuficiente para bater o guarda-redes suíço.

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EPA/HUGO DELGADO

A última hora e meia de trabalho do dia antes das férias é dolorosa para qualquer trabalhador. E os futebolistas, muitas vezes acusados de não terem os problemas do cidadão comum, viveram-no neste domingo – pelo menos, os da selecção portuguesa.

Portugal perdeu frente à Suíça (1-0), na Liga das Nações, no jogo que era o último antes das férias e no qual os atletas durante muito pareceram desligados, pachorrentos e pouco predispostos a correrem pelo país – o descanso, após dez meses de futebol, estava ali muito perto, e nem ter um estádio com clara maioria portuguesa (notou-se bem nos hinos nacionais) foi suficiente para espoletar mais energia e mascarar o natural desgaste de final de época.

E foi também essa (mas não só) a explicação para tamanha incapacidade de produzir futebol de qualidade durante uma hora. E a última meia hora, bastante mais competente, não chegou para Portugal, apesar de ser mais do que suficiente para a selecção ter levado pelo menos um ponto.

Este resultado, conjugado com o triunfo (2-0) da Espanha frente à República Checa, deixa o grupo 2 bastante mais equilibrado: Espanha com 8 pontos, Portugal com 7, República Checa com 4 e Suíça com 3.

Leão abandonou Mendes

Portugal entrou em campo sem Bernardo, William, Ronaldo, Guedes e Jota, mas com Vitinha, Fernandes, Otávio, Leão e André Silva. E não ter Bernardo poderá ter sido decisivo na opção de querer ter Vitinha, Otávio e André Silva, jogadores que compensariam o jogo associativo que faltaria pela ausência do jogador do City, que “cola” o futebol da equipa.

No papel, o “onze” fazia sentido. Na prática, não correu bem – e em dois planos. No plano defensivo, porque o motivo pelo qual Ronaldo já não joga na ala (incapacidade defensiva) é o mesmo pelo qual Leão também não tem, em tese, o perfil ideal, como já explicado neste texto.

Ainda no primeiro minuto, Nuno Mendes não teve Leão a ajudá-lo, como costuma ter com Jota, e foi exposto a um dois contra um que permitiu à Suíça tirar um cruzamento para o golo de cabeça de Seferovic. E Leão assistiu à distância, já que tem, no AC Milan, dinâmicas tácticas (sobretudo com um dos médios) que lhe permitem não se prestar tanto a esse trabalho defensivo.

O ala suíço saía do corredor, o lateral subia e Mendes só ficava com um jogador para marcar… até o ala regressar à zona e fazer o dois contra um, deixando Leão apanhado nesse “engodo”. Portugal (e Mendes/Guerreiro) está habituado a ter Jota, mas, desta vez, não teve – e o cenário só não foi pior porque os suíços só exploraram um par de vezes esta dinâmica.

Vitinha desacompanhado

Depois, no plano ofensivo, a ideia de Santos também não correu bem, mas mais até pela falta de energia da equipa, algo que se materializou nas parcas soluções dadas ao portador da bola – que era quase sempre Vitinha.

O médio do FC Porto, um jogador de passe, acabou, curiosamente, por se destacar mais quando foi obrigado a optar pela condução. E isto aconteceu pela incapacidade de Otávio pedir a bola entre linhas, impedindo Vitinha, muito recuado, de activar os apoios frontais de André Silva – e o avançado bem tentou ser chamado ao jogo.

Neste marasmo colectivo, misturado com a incapacidade de Cancelo e Leão pela via individual, houve um jogo pobre. Viu-se apenas um penálti contra Portugal revertido pelo VAR aos 13’, um cabeceamento de Danilo aos 17’ e um golo anulado a Portugal aos 18’ – e este lance bem poderia ter sido repetido, já que teve a dinâmica interessante da troca posicional entre André Silva, que pediu a bola na esquerda, e Leão, que se desmarcou pelo meio.

E pouco mais se passou.

Omlin salvou

Para a segunda parte, Fernando Santos tinha duas opções: ou tentar resgatar o jogo associativo com Bernardo/Horta ou apostar definitivamente num futebol de rasgo, com Matheus/Jota/Guedes. E foi a segunda opção a escolhida, com Guedes no lugar de Otávio.

Efeitos práticos? Poucos. O jogador do Valência trouxe energia e verticalidade, mas, na prática, pouco mudou, a não ser um ou outro canto ganho.

A meia hora do final, Portugal lançou Bernardo e Jota para os lugares de Vitinha e Leão. Ambos entraram com bastante mais vivacidade e a selecção começou a conseguir ligar mais o seu jogo, com Bruno Fernandes e André Silva a subirem também de produção.

E houve remates de meia distância (Fernandes, Cancelo e Neves), além de uma finalização de Guedes aos 72’, para defesa de Omlin – guardião que minutos antes quase ofereceu o golo a Portugal, rematando contra Bernardo. E também de Jota aos 78’, de cabeça – pelouro no qual é surpreendentemente forte –, de Pepe, aos 90’, novamente salvo por Omlin, e de Jota, aos 90+4’.

Portugal até reagiu, mas o que fez na última meia hora esbarrou no desempenho do guarda-redes suíço.

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