Ter duas longas-metragens em Annecy “é muito importante” para animação portuguesa

No importante festival de cinema de animação de Annecy, há, pela primeira vez, duas longas-metragens portuguesas

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Os Demónios do Meu Avô, de Nuno Beato DR
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Nayola, de José Miguel Ribeiro,Nayola, de José Miguel Ribeiro DR

A presença de duas longas-metragens portuguesas de animação no Festival de Annecy, em França, “é muito importante” e representa um primeiro passo para uma indústria “minimamente sólida”, afirmaram à Lusa os realizadores José Miguel Ribeiro e Nuno Beato.

O Festival de Cinema de Annecy, que começa na segunda-feira, é considerado o mais importante evento para a divulgação de cinema de animação de todo o mundo e, pela primeira vez, a programação contará com duas longas-metragens portuguesas: Nayola, de José Miguel Ribeiro, na competição oficial, e Os demónios do meu avô, de Nuno Beato, fora de competição.

Nesta edição, a competição oficial de longas-metragens contará também com o filme Interdito a cães e italianos, de Alain Ughetto, com co-produção minoritária portuguesa da Ocidental Filmes.

Na competição de curtas-metragens estão os filmes Garrano, de David Doutel e Vasco Sá, O homem do lixo, de Laura Gonçalves - ambos produções da BAP Studio -, Second, uma obra de escola de André Martins, e a obra em realidade virtual Affiorare, de Rossella Schillaci.

No programa dedicado a filmes ainda em processo de trabalho estará a longa-metragem documental They shot the piano player, dos espanhóis Fernando Trueba e Javier Mariscal, com co-produção de França, Países Baixos e Portugal, através da produtora Animanostra.

De todos os filmes seleccionados, o destaque vai para a presença rara de duas longas-metragens portuguesas no festival, tendo em conta a escassa produção nacional neste formato. “É um dos melhores sítios para estrear um filme de animação. Sendo Portugal ainda um bocadinho amador nas longas-metragens, porque estamos a começar, para começo de um país amador é muito bom”, afirmou Nuno Beato, realizador e produtor da Sardinha em Lata.

Em Annecy, Nuno Beato apresentará a sua primeira longa de animação, um filme sobre laços familiares, a relação com o passado e com a ruralidade. Com argumento repartido com Possidónio Cachapa, o filme inspira-se ainda nas figuras de barro da ceramista Rosa Ramalho e na paisagem e costumes de aldeias transmontanas.

O filme, em stop-motion com animação de volumes e em animação 2D, conta com cerca de três milhões de euros de orçamento e co-produção com França e Espanha, essenciais para a sua concretização.

José Miguel Ribeiro, produtor e realizador da Praça Filmes, com um longo e premiado percurso na animação, também faz a sua estreia nas longas-metragens, com um argumento de Virgílio Almeida, a partir de uma peça de teatro de José Eduardo Agualusa e Mia Couto.

É uma história que atravessa três gerações de uma família angolana, a partir da vida de três mulheres - Lelena, Nayola e Yara -, tendo a guerra civil de Angola como pano de fundo. “Tentei fugir dos “clichés” e da minha forma de pensar quando olhava para Angola. Espero que contribua para dar uma visão mais diversa e mais rica daquele país”, afirmou José Miguel Ribeiro.

O filme, que demorou oito anos a ser feito, cruza animação em 2D e 3D, tem produção da Praça Filmes, co-produção com Bélgica, França e Países Baixos, e um orçamento que ultrapassou os três milhões de euros.

Em comum, estes dois filmes contaram com apoio financeiro - um milhão de euros cada - do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), criado na sequência de “uma aposta, de uma negociação e de uma pressão do sector” para que as políticas públicas também apoiassem o cinema de animação, disse José Miguel Ribeiro.

Os dois realizadores sublinham a visibilidade de Annecy, abrindo portas para outros festivais e programadores, mas Nuno Beato admite ainda alguma desvantagem de Portugal em competir com o resto da Europa. “Os nossos ordenados são muito baixos, a nossa capacidade económica para pagar também ainda é muito baixa. Se houver vontade política de continuar com estes apoios [como o do ICA], eu acredito que ao fim de poucos anos Portugal possa dizer que tem uma indústria de cinema de animação minimamente sólida”, disse Nuno Beato.

Sobre o percurso de cada uma das longas, depois da estreia em Annecy, Nayola será exibido no festival de cinema de Guadalajara, no México, e tem já distribuição assegurada em França, estando ainda a ser negociada a distribuição portuguesa.

Os demónios do meu avô também será exibido nos festivais de La Rochelle, em França, e Fantasia, no Canadá, e terá estreia em França em Setembro. Em Portugal, ainda sem data, terá distribuição pela NOS.

O 46º festival de cinema de Annecy decorrerá de 13 a 18 de Junho.

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