A sociedade de risco e as ameaças actuais: como gerir as inseguranças do futuro?

No último debate do PSuperior Talks desta temporada discutiram-se as ameaças da sociedade actual e as ferramentas e estratégias usadas para gerir as incertezas do futuro.

Foto
Debate decorreu na Universidade Católica, em Lisboa Rui Gaudêncio

Conflitos armados, pandemia, ameaças ambientais, crise energética, inflação e juros elevados. O começo da nova década foi marcado por grandes incertezas, que passaram a fazer parte da essência da sociedade contemporânea, e por riscos, que reiteram a teoria do sociólogo alemão Ulrich Beck. Agora, mais do que nunca, “é particularmente importante poder ter confiança no futuro”, afirmou esta segunda-feira Isabel Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa, durante a abertura do último debate do PSuperior Talks desta temporada.

No painel de discussão sobre “a sociedade de risco” e os mecanismos de como gerir as inseguranças do futuro estavam o sociólogo André Santos Pereira, a especialista em cibersegurança Jéssica Domingues, a professora da Católica Lisbon School of Business & Economics Joana Silva e o estudante de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Humanas da Católica Pedro Isidoro Silva.

A sessão decorreu na sala de exposições do edifício sede da Universidade Católica de Portuguesa, em Lisboa, e contou com com moderação da editora executiva do PÚBLICO, Sónia Sapage.

Insegurança geopolítica

Diferentemente do que foi sendo idealizado no começo dos anos 2000, o mundo ainda não resolveu o problema da pobreza, nem os problemas associados à saúde, nem conquistou a paz.

Todavia, apesar dos riscos enfrentados nos dias actuais, a existência das incertezas “não começou com as sociedades modernas”. André Santos Pereira explicou que foi durante o pós-modernismo que a “consciência da existência do risco” nasceu e, juntamente com ela, “a preocupação sobre se somos capazes de lidar com ele e de o condicionar na nossa acção quotidiana”.

Dessa forma, se o tema já era “vasto e complexo” antes, “as incertezas geradas pela guerra e pela pandemia” nos últimos anos “vieram complicar os diagnósticos e ainda mais as soluções”, sublinhou Sónia Sapage. Sobre isso, Joana Silva sublinhou que a guerra na Ucrânia “aumentou ainda mais o contexto de incerteza” existente num contexto de recuperação pós-pandemia que acontecia “de forma desigual”. A professora da Católica Lisbon School of Business & Economics reitera ainda que, se por um lado houve um “estímulo europeu” e um desejo de melhorar, por outro lado ainda há “uma trajectória pré-crise muito longa e de baixo crescimento, que precisávamos de romper”. “Nós não precisamos só de voltar ao nível de 2019, precisamos de um novo paradigma de crescimento.”

“Uma má sorte que demora dez anos”

A conjectura internacional actual é ainda mais custosa para os jovens que terminam o seu curso durante a recessão, pois “tendem a ter salários de entrada muito menores e continuar numa trajectória salarial por pelo menos dez anos muito pior do que aquela que jovens que entram num ano bom para economia”, comenta a professora.

Já o estudante de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Humanas, Pedro Isidoro Silva, lamentou que as “alterações constantes” que acontecem hoje impossibilitam a elaboração de projecções para o futuro. “O ontem não é igual ao hoje e não será, também, igual ao amanhã. Deixamos de fazer planos a longo prazo, a curto prazo e a médio prazo”, afirma. “A nível de emprego não há possibilidade de fazer projecções, porque não sabemos se poderá haver uma crise. A nível geopolítico, já vimos que não vale a pena, saímos de uma pandemia, que nunca achávamos que íamos ter, e entramos numa guerra e não sabemos o que vai acontecer”.

Os riscos digitais

E se antes os riscos podiam ser resumidos apenas às questões físicas, agora eles se ampliam para o mundo cibernético. Tendo em vista que “cada vez mais a nossa vida está dependente do digital”, tornou-se “muito difícil mapear quais são os limites” da Internet e aplicar “medidas de mitigação” e de controlo, afirmou Jéssica Domingues.

Dessa forma, benefícios da Internet como a democratização da informação vêm atrelados a questões negativas, como a desinformação e a fragmentação da verdade. Sobre isso, Pedro Isidoro Silva realçou que a sensibilização para esse problema começa na academia e que os alunos são orientados para que desenvolvam projectos de “informação de qualidade”. Além disso, a especialista em cibersegurança reitera a importância da literacia digital, a qual “é fundamental” para elucidar e “capacitar os utilizadores e cidadãos” das ameaças que vão para além do tangível.

Texto editado por Pedro Sales Dias

Sugerir correcção
Comentar