Bibi van der Velden: a joalheira holandesa que desenha peças escultóricas a partir da Malveira da Serra

Fundada em 2005, a marca epónima da criadora distingue-se pela funcionalidade das peças e os elementos da natureza. Para apoiar a joalharia de autor, criou a Auverture, uma plataforma que agrega designers de alta joalharia e jóias vintage.

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A joalheira tem 42 anos DR

Se dúvidas existissem quanto a se a joalharia de autor é uma forma de arte, as peças da autoria de Bibi van der Velden ajudam a dissipar quaisquer questões. A joalheira escolheu Portugal como sítio para viver e quando não está no atelier a desenhar as peças da marca epónima, pode ser encontrada nas ondas. É daqui que coordena a plataforma Auverture, que agrega designers de alta joalharia e jóias vintage, uma tendência crescente.

“Sou muito feliz na minha pequena montanha na Malveira da Serra, a olhar para o mar”, começa por confessar, em conversa com o PÚBLICO, a joalheira natural dos Estados Unidos, mas que cresceu entre Inglaterra e os Países Baixos. A sua mãe era escultora e foi também esse caminho que Bibi van der Velden seguiu antes de a joalharia chegar à sua vida. “Sou uma pensadora muito tridimensional”, reflecte. Enquanto estudava na Academia de Artes em Londres, começou a coleccionar pequenas esculturas de escaravelhos, encontradas em mercados de rua e objectos descobertos na natureza.

“Foi aí que comecei a fazer jóias”, recorda, lembrando que, então, se tratava de um trabalho “conceptual” e com “peças únicas” — a marca só nasce oficialmente em 2005. Inicialmente fazia questão de manter a joalharia e a escultura como “dois mundos separados”, mas logo percebeu que se tratavam, afinal, de universos complementares: “A joalharia, para mim, é quase uma pequena escultura.”

É essa premissa que tenta levar para as peças com a sua assinatura, criando jóias que considera serem obras de arte por si só, sem precisarem de ser usadas. Por exemplo, há um crocodilo que se transforma de anel para pendente de um colar. “Adoro quando alguma coisa tem mais do que uma função e que as pessoas se possam divertir com a peça”, observa. Além disso, fascina-a o lado técnico destes desafios.

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Os elementos da natureza continuam uma constante no seu trabalho e Bibi destaca as peças esculpidas de um dente de tubarão encontrado na praia ou de de fósseis que vai encontrando. Uma das últimas colecções foi inspirada no fumo e na perspectiva escultural das suas formas. Agora, está a trabalhar, inspirada pela forma das ondas e, por isso, é natural que possa ser encontrada a fazer surf no Guincho ou em Carcavelos, as suas praias favoritas deste lado do Atlântico.

Os primeiros desenhos são sempre feitos por si e os modelos em cera também, apesar de já ter uma equipa de dez pessoas, sediada em Amesterdão. “O design é sempre meu e não vejo isso a mudar, porque é a parte que adoro. Além disso, acho que notaria se não fosse meu”, diz. Em Portugal, já começa a somar algumas clientes, apesar de os fregueses serem sobretudo norte-americanos, holandeses, ingleses e suíços. “Os europeus preferem os anéis e os americanos são mais de brincos”, nota.

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Jóias com história

“Para mim, as jóias representam metas e conquistas na vida das pessoas”, defende. Muitas vezes são também peças que vão passando de geração em geração, seja o anel de casamento do avô ou uns brincos que eram da mãe. “Todas representam histórias ligadas à vida, à morte e ao casamento. É um bocadinho como as tatuagens e cicatrizes”, compara Bibi van der Velden, enquanto percorre os anéis nas suas mãos.

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Por valorizar tanto o trabalho de autor, decidiu fundar a Auverture, uma plataforma que reúne 18 designers de todo o mundo. “É também uma forma de os apoiar e formar um movimento contra a joalharia de massas”, justifica, lembrando que “o pináculo do luxo é quando algo é feito apenas para nós”. Essa exclusividade, lamenta, é cada vez mais rara.

As peças únicas fascinam-na e é um trabalho que continua a desenvolver, respondendo aos pedidos dos clientes e até recuperando peças antigas, um desafio que conta estimular particularmente a criatividade. “Fazemos entre cem a 150 peças dessas por ano. São muitas, especialmente porque fazemos tudo à mão”, conta. Esse carácter artesanal é algo que já não se encontra com tanta frequência e é por isso que admira o trabalho feito há décadas pelas marcas da alta joalharia.

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Trabalho esse que recupera no sector vintage da Auverture, lançado há menos de um ano. “Está a sair-se muito bem e a busca é muito divertida”, conta. Entre as peças mais especiais que já encontraram recorda um anel da Cartier com diamantes vendido por 75 mil euros. “Encontramos uma peça dessas pode ser pura magia”, diz, com um brilho nos olhos. Apesar do valor elevado, estas peças são a oportunidade de comprar designs que hoje não seriam possíveis de executar pelo preço actual da matéria-prima.

É uma das embaixadoras da extracção sustentável de ouro e lembra que este material já existe em quantidade “suficiente acima do solo”. “Mais vale reutilizar o que já temos”, declara. Nesse sentido, acredita que, num futuro próximo, a categoria vintage alcançará 50% do volume de vendas. Afinal, são jóias com história e é também esse estatuto que espera granjear com a sua marca, a partir da Malveira da Serra para o mundo.

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