Os Spiritualized ensinam-nos a flutuar no espaço (outra vez)
Everything Was Beautiful não nos ensina nada de novo, mas tem um sentido dramático tão apurado e um equilíbrio tão perfeito entre artesanato de estúdio e o abandono da improvisação que damos por nós a ser surpreendidos novamente.
Quem estava lá, em 1997, dificilmente esquecerá aquele momento. “Ladies and gentlemen we’re floating in space”, anunciava a voz feminina, que era a da então teclista dos Spiritualized e namorada de Jason Pierce, Kate Radley, e raramente uma proclamação em início de álbum foi tão justa para com aquilo que se seguiria. Nos 70 minutos seguintes, flutuávamos em nuvens gospel amparados por neblina eléctrica, viajávamos à velocidade da luz em montanha russa, Electricity por todo o lado, éramos acariciados num momento, e tudo era luz beatífica, apenas para sermos sacudidos por uma torrente de ruído, e que deliciosos eram aqueles turbilhões, e quão genial era aquela construção musical, camada a camada até serem mil as camadas sobrepostas, qual Pet Sounds do psicadelismo, Stooges do psych-rock, Can do free jazz, minimalismo dos Spacemen 3 crescendo e crescendo até se tornar uma galáxia inteira. Descobríamos o terceiro álbum dos Spiritualized, e Ladies and Gentlemen We are Floating in Space tornou-se um lugar que não mais quisemos abandonar, que nunca mais nos abandonou. Passou a ser a medida da criatividade de Jason Pierce, aquele contra o qual cada um dos álbuns seguintes teria que se posicionar. Não se constrói impunemente um dos maiores monumentos da música popular urbana.
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