The Man Who Fell to Earth: Há mais um homem que veio do espaço

Há uma nova série que pega no livro de Walter Tevis que deu um filme de Nicolas Roeg, agora com Bill Nighy no papel que no cinema foi de David Bowie. Chegou esta quarta-feira à HBO Max.

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Chiwetel Ejiofor e Naomie Harris, o alienígena e a terráquea em The Man Who Fell to Earth Aimee Spinks

The Man Who Fell to Earth, a série criada por Jenny Lumet (filha de Sidney) e Alex Kurtzman, não é, nem pretende ser, o filme de Nicolas Roeg de 1976, que se estreou em Portugal com o nome O Homem que Veio do Espaço. É uma continuação e não tenta emular a linguagem cinematográfica única de Roeg, apesar de almejar estranheza. Ambos partem da história de Walter Tevis publicada em 1963, e ambos têm a mesma personagem, Thomas Jerome Newton, um alienígena que veio à terra tentar salvar o seu país natal. No filme original, é interpretada por David Bowie, que se estreou assim como actor, agora é Bill Nighy, que não é uma estrela de rock mas já fez memoravelmente de estrela rock memoravelmente em filmes como Still Crazy ou, mais famosamente, O Amor Acontece. É uma escolha inspirada para uma continuação da personagem passadas mais de quatro décadas. A série, um original da Showtime com dez episódios, chegou a Portugal esta quarta-feira através da HBO Max, com o primeiro episódio já disponível no serviço de streaming – o segundo já foi para o ar no resto do mundo, os oito seguintes ainda não.

No centro de tudo está Chiwetel Ejiofor, que foi nomeado para um Óscar por 12 Anos Escravo em 2014. O actor faz de Faraday, um novo alienígena que chega à terra e não se consegue adaptar. Tal como no filme de Roeg, alterna-se entre linhas temporais e geográficas. Vemos Faraday como um bem-sucedido guru de tecnologia, a explicar perante um público os seus primeiros dias na terra. Aterrou, confuso, no meio de campos de petróleo. Tinha uma missão: encontrar uma mulher para salvar o mundo dele, e oito horas para o fazer. Só que não é como se o mundo dela, o nosso, estivesse muito bem. Para salvar um é preciso salvar o outro primeiro. Essa mulher é Justin Falls (Naomie Harris, de filmes como 28 Dias Depois ou a Moneypenny dos filmes mais recentes de Daniel Craig como James Bond), que tem os seus próprios problemas. Descobrimos que foi ele próprio chamado por Newton, que foi traumatizado ao longo de muitos anos pelos humanos.

A história é um pretexto para Lumet e Kurtzman explorarem ideias sobre migrações, racismo, preconceito, desastre ecológico, a finitude dos recursos da terra, os deuses multimilionários da tecnologia, entre muitas outras. A personagem de Ejiofor não sabe muito sobre como se comportar como um humano, mas aprende depressa. Há uma constante adaptação deste peixe fora de água, que vai roubando características às pessoas com quem se cruza (incluindo o nome) e cuja inaptidão inicial tem muitas vezes piada. Bill Nighy, fã do filme original, resumiu-a ao PÚBLICO durante uma mesa redonda com jornalistas por Zoom no final de Abril: “A personagem dele tem piada, é heróica, é romântica, é tudo”. Traz à cabeça o clássico de 1984, Um Irmão de Outro Planeta, escrito e realizado por John Sayles, com Joe Morton, um actor bem diferente de Ejiofor, cuja força costuma residir na forma como usa palavras, no papel de um extraterrestre mudo que também imita comportamentos de humanos.

Já Ejiofor diz que a “experiência migrante”, ele que vem de uma família londrina de origem nigeriana, “é uma parte da série” na qual estava a pensar quando trabalhou a personagem, mas preocupou-lhe “também a natureza emocional disso, de estar num sítio e a dualidade disso, de haver um tipo de hostilidade a essa ideia, de pessoas desconfiadas, e o que isso faz sentir no interior”. “No caso do Faraday, e de tantas pessoas que viajam, há uma quantidade extraordinária de coisas que se têm para oferecer a um sítio, o que às vezes é a última coisa para a qual as pessoas olham”, continua. “O Faraday chega ao planeta e tem todo este conhecimento especial e dinâmica. Sabemos que, quando temos muitas experiências diferentes num sítio, nós como comunidade saímos enriquecidos, porque é mais provável termos soluções radicais para os problemas que enfrentamos, ao invés de só pequenas evoluções a partir de soluções existentes. O que o Faraday oferece é o que muitos migrantes oferecem: uma solução radical para problemas.” A série, mantém, “tem alguns elementos que são mais literais do que outros, mas senti que essa parte da migração e do sentido de ser um forasteiro é das ideias mais literais que existem”.

Nighy, a falar do resto das personagens, incluindo a sua, afirma que “há pessoas muito estranhas” na série. “Adoro todas as personagens e a forma como lhes deram tantas particularidades idiossincrásicas”, afirma. “A Jenny Lumet e o Alex Kurtzman fizeram um trabalho incrível a extrapolar a partir do filme e da história até agora. É um enorme feito de imaginação viajar 45 anos no tempo e imaginar não só o que aconteceu à minha personagem, mas também ao mundo em geral”, remata.

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