Reabrir Linha do Douro até Barca de Alva com comboios eléctricos custa 75 milhões de euros

Estimativa da IP para a reabertura dos 28 quilómetros encerrados em 1988 contempla a electrificação da linha e recuperação dos edifícios das estações.

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O documento diz que “o potencial turístico na utilização da Linha do Douro é actualmente uma realidade importante para a região, podendo esta ligação até Barca de Alva reforçar ainda mais esta vertente e justificar a criação de emprego em zonas actualmente muito despovoadas” DR

Um estudo da IP apresentado na semana passada à CCDR Norte, Turismo do Norte e municípios da região, diz que serão necessários 74,7 milhões de euros para reabrir a Linha do Douro entre o Pocinho e Barca de Alva.

Deste montante, as parcelas mais relevantes são a via-férrea propriamente dita (17 milhões de euros) e a parte geotécnica relacionada com a protecção e estabilização do corredor ferroviário (11 milhões de euros). Os sistemas de telecomunicações e sinalização estão avaliados em 8 milhões de euros, a electrificação em 7 milhões de euros e a recuperação de túneis e pontes em 6 milhões.

Este estudo foi realizado no âmbito do grupo de trabalho para a reabertura da Linha do Douro, que é formado pela IP, CCDR Norte, Turismo do Porto e do Norte e as câmaras da Régua e de Foz Côa. O objectivo é quantificar o valor do investimento necessário para “a criação de uma operação ferroviária eficaz, ambientalmente sustentável, capaz de oferecer serviços de qualidade e atrair clientes”. O documento diz que “o potencial turístico na utilização da Linha do Douro é actualmente uma realidade importante para a região, podendo esta ligação até Barca de Alva reforçar ainda mais esta vertente e justificar a criação de emprego em zonas actualmente muito despovoadas”.

Apesar de Espanha não manifestar a mesma vontade para reabrir a linha do outro lado da fronteira, a IP sublinha a vocação turística deste projecto que comporta um eixo formado por “quatro destinos classificados pela UNESCO como Património da Humanidade, designadamente, Porto, Douro Vinhateiro, Gravuras Rupestres do Vale do Côa e Siega Verde, bem como Salamanca”.

Turismo e ambiente são igualmente tidos em conta quando os técnicos referem que “a proposta de implantação dos postes de catenária do lado contrário ao rio Douro potenciará não só o efeito visual para o passageiro como também minimizará o impacto dos referidos postes nas encostas do rio”.

O estudo sublinha ainda que os investimentos na ferrovia têm merecido um “amplo consenso social, económico, político e territorial” e destaca, neste caso em particular, que a reabertura destes 28 quilómetros na margem esquerda do Douro irá potenciar a coesão territorial, o turismo, a economia regional e a valorização do património, para além de constituir um contributo para o combate às alterações climáticas pois “a circulação será assegurada por material circulante eléctrico”.

A vertente de mercadorias não foi esquecida, prevendo-se que com a recuperação das velhas pontes metálicas, estas fiquem reforçadas por forma a contemplar a passagem de comboios de carga.

O projecto inclui também a recuperação dos edifícios das estações de Foz Côa, Almendra, Castelo Melhor e Barca de Alva. Nesta última, o diz o estudo: “Prevê-se a recuperação da totalidade do edificado existente, designadamente o edifício de passageiros, dormitório [dos ferroviários], cais coberto e posto de manutenção.”

Apesar do rigor no cálculo do investimento, este estudo não passa disso mesmo – um estudo. Oficialmente, no PNI 2030, a reabertura do troço Pocinho-Barca de Alva não consta como um investimento para executar até 2030, estando condicionado à existência de “estudos de viabilidade e pertinência”.

Por outro lado, a parte da Linha do Douro que ainda não foi modernizada, entre o Marco de Canaveses e a Régua, é o mais atrasado de todos os projectos do Ferrovia 2020. Deveria ter sido concluída em 2019 e ainda nem sequer tem projecto, tendo o dinheiro que lhe era destinado sido desviado para a Linha do Oeste.

E falta ainda electrificar o troço entre a Régua e o Pocinho, que deverá entrar no PNI 2030. A reabertura da parte final até Barca de Alva arrisca-se, assim, a ficar para as calendas, a menos que este investimento passe para a alçada do Ministério da Coesão Territorial obtendo financiamento comunitário distinto do do Ministério das Infra-estruturas.

A 9 de Abril, aquando da realização de um comboio especial turístico pela Linha da Beira da Baixa, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa afirmou em Castelo Branco que “a Linha do Douro vai mesmo reabrir entre Pocinho e Barca de Alva!”.

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