Espanha: telefones do primeiro-ministro e ministra da Defesa “infectados” com programa de espionagem Pegasus

Ministro da Presidência espanhol referiu que houve uma “extracção de um determinado volume de dados dos terminais” e classificou as intervenções como “ilícitas” e “externas”.

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Telefone do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foi “infectado” com o programa de espionagem Pegasus SUSANA VERA/Reuters

O Governo espanhol revelou, nesta segunda-feira, que os telefones móveis do primeiro-ministro Pedro Sánchez e da ministra da Defesa, Margarita Robles, foram “infectados” com o programa de espionagem Pegasus e que a informação foi já encaminhada para os tribunais.

A ministra da Política Territorial e porta-voz do Governo espanhol, Isabel Rodríguez, e o ministro da Presidência do Governo, Félix Bolaños, realizaram na manhã desta segunda-feira uma conferência de imprensa em La Moncloa (sede do Governo espanhol). Félix Bolaños referiu, segundo o diário espanhol El País, que houve uma “extracção de um determinado volume de dados dos terminais” e classificou as escutas como “ilícitas” e “externas”.

O Executivo está agora a analisar os telemóveis de todos os seus membros, algo que ainda não terá sido concluído. “Quando falamos de intrusões externas, queremos dizer que são alheias aos órgãos estatais e não possuem autorização judicial de nenhum órgão oficial. É por isso que as classificamos como ilícitas e externas. Por enquanto, não finalizamos a verificação dos terminais de todo o Governo”, detalhou o ministro da Presidência.

Bolaños explicou ainda que de acordo com relatórios oficiais do Centro de Criptologia Nacional (CNC) verificaram-se duas intrusões no telemóvel de Pedro Sanchéz em Maio de 2021 e uma escuta ao telefone móvel de Robles em Junho do ano passado. A “intervenção ilegal” foi confirmada na sequência de uma investigação que ainda está em curso sobre as comunicações de todos os membros do governo espanhol.

“Trata-se de factos confirmados e de uma enorme gravidade que confirmam que se verificaram intrusões às instituições estatais e que são ilegais”, acrescentou Bolaños. “Estamos perante intervenções ilícitas e externas”, sublinhou.

O uso do programa informático de fabrico israelita Pegasus foi inicialmente denunciado por membros da oposição e separatistas da Catalunha.

Nesta segunda-feira, os deputados catalães da CUP (Candidatura de Unidade Popular) Carlos Riera, Albert Botran e David Fernàndez apresentaram uma queixa a um tribunal de Barcelona contra alegados actos de espionagem através do programa informático Pegasus.

De acordo com um comunicado da CUP, a queixa em nome dos três deputados refere que se trata de um delito contra a intimidade com intuito de “revelação de segredos”.

Da mesma forma, a organização separatista catalã Ómnium Cultural indicou, nesta segunda-feira, que já apresentou uma queixa sobre eventuais actos de espionagem a membros do grupo.

Por outro lado, o Governo da Região Autónoma espanhola da Catalunha (Generalitat) anunciou que vai inspeccionar periodicamente os telefones móveis de 500 responsáveis de cargos oficiais devido às ameaças levadas a cabo através de programas de espionagem como o Pegasus.

Anteriormente, foram denunciadas intrusões a dezenas de independentistas catalães, entre os quais o presidente da Generalitat, Pere Aragonès.

O programa Pegasus, fabricado por uma empresa privada israelita, só pode ser vendido e usado por governos e tem estado no centro de vários escândalos de espionagem contra políticos, jornalistas e defensores de direitos humanos em todo o mundo, nomeadamente Espanha, Marrocos e França.

O programa, que só pode ser vendido após autorização do governo de Israel, já foi proibido nos Estados Unidos.

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