Subida da inflação pode ter “efeitos dramáticos”, avisa Álvaro Santos Pereira
Antigo ministro da Economia diz que a inflação vai permanecer elevada “durante mais tempo do que gostaríamos”.
O antigo ministro da Economia do governo PSD/CDS e actual director do departamento de Economia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Álvaro Santos Pereira, disse hoje estar preocupado com o aumento da inflação e alertou para potenciais “efeitos dramáticos”.
“Estou preocupado com a perda de rendimento e poder de compra, e ainda mais preocupado se a inflação ficar fora de controlo, por isso vemos em vários países os bancos centrais a actuar de forma mais decisiva”, afirmou durante o debate organizado UGT para assinalar o 1.º de Maio, em Lisboa.
“Que consequências terá um aumento de 1% ou 2% das taxas de juro nos empréstimos das casas, e para os estados? Terá um impacto dramático para as pessoas em muitos países”, antecipou o antigo governante, acrescentando que os governos “ou mexem nos impostos, ou tentam proteger os mais vulneráveis através de apoio aos rendimentos, que são mais eficazes, mas levam mais tempo” a surtir efeito.
No debate sobre os novos desafios do trabalho, Santos Pereira disse que “se a inflação continuar bastante alta até ao final do ano, o que é muito provável, os trabalhadores vão pedir aumentos, e isso coloca um dilema grande aos governos e às empresas, porque a inflação vai permanecer elevada durante mais tempo do que todos nós gostaríamos”.
A taxa de inflação em Portugal subiu para 7,2% em Abril, face aos 5,3% de Março, o valor mais alto desde Março de 1993, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Na Europa, a inflação tem igualmente atingido níveis que não eram vistos há várias décadas, o que se deve, sobretudo, ao aumento do preço dos combustíveis, levando a subida dos preços para os 7,5% na zona euro, segundo uma estimativa rápida do Eurostat.
Ainda assim, concluiu Santos Pereira, “Portugal não é dos países onde a inflação está a ser dramaticamente má, a taxa é de 12% ou 13% nos países bálticos, por exemplo”.