Uma loja colaborativa pode ser novo início para quem lá trabalha, mas também para a Baixa de Coimbra

COL.ECO é um projecto da Associação para a promoção da Baixa de Coimbra que quer ajudar a dar fôlego ao centro histórico.

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O espaço foi inaugurado nesta sexta-feira

Dois electricistas trabalham na montagem da iluminação na montra de uma loja da esquina da Rua Adelino Veiga com o Beco das Canivetas, na Baixa de Coimbra, afinando os detalhes que antecedem o dia da abertura. Em exposição, estão já várias peças de um projecto que tenta picar vários pontos em simultâneo: o COL.ECO, cujo espaço foi inaugurado nesta sexta-feira, tenta dar um impulso a ideias de negócio de pessoas em situação de desemprego ou sub-emprego e ajudar a dar um novo fôlego a uma zona central de Coimbra que está em declínio desde que abriram as hiper-superfícies comerciais na cidade.

Toda esta iniciativa que resulta de uma candidatura da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC) ao programa Portugal Inovação Social, assenta na ideia de capacitação e colaboração e direcciona-se para “pessoas que perderam o emprego na pandemia ou que têm rendimentos, embora mínimos, ou artesãos que queiram criar o próprio negócio”, explica a coordenadora, Rute Castela, enquanto percorre os pisos do edifício que serve de casa ao COL.ECO.

O rés-do-chão deste prédio de três pisos e sótão na rua que liga a Praça do Comércio à Avenida Fernão de Magalhães, é ocupado por uma loja colaborativa, onde os participantes do projecto têm os produtos à venda. A palavra colaborativa não é apenas um chavão, resume Rute Castela: “Tudo é decidido colectivamente, mesmo a gestão do espaço, os horários, tudo”. Mas a loja física (que será acompanhada de uma plataforma virtual) é só uma vertente de um projecto que inclui também um espaço de incubação e outro de capacitação, que irão funcionar com apoio permanente de uma equipa.

Fase de arranque

Ângela Roque, de 52 anos, é uma das pessoas que integra o projecto. Ficou desempregada com a pandemia e encontra no COL.ECO o lugar para dar um impulso à ideia de uma mercearia tradicional, de produtos regionais, que se apoie nas relações de vizinhança em vez de estar apenas direccionada para o turismo. Também quer fazer alguma coisa pela Baixa, um sítio que sempre frequentou pelo seu comércio desde que foi para Coimbra, vinda de Lisboa, há 29 anos.

Eliana Ferreira, de 35 anos, chegou à cidade mais recentemente, em 2021. Trabalha em ilustração e encontrou ali uma forma de contactar com as pessoas cara a cara, sem a intermediação das redes sociais. Dá um exemplo do carácter colaborativo do projecto, com a possibilidade de fazer ilustrações para a mercearia de Ângela.

Estes são dois dos seis primeiros membros que fazem parte desta fase de arranque do COL.ECO, sigla que abrevia Colaboração na Organização Local de Economia Sustentável do Concelho de Coimbra. Este grupo, que começou a trabalhar no início de Abril, deverá crescer para 15 pessoas até ao final de Maio. O projecto, que quer também “promover negócios através de modelos ecológicos e sustentáveis”, prevê uma componente formativa de cinco semanas, sendo que depois haverá acompanhamento individual. Numa fase seguinte, será integrado um grupo de desempregados de longa duração.

Este espaço, acrescenta Rute Castela, tem também o objectivo de mobilizar uma rede pública que já existe, como o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Instituto de Segurança Social e a Câmara Municipal de Coimbra, que comparticipa 30% do orçamento total do projecto de 130 mil, com o restante a ser financiado pelo Portugal Inovação Social.

O material para o arranjo e equipamento deste edifício, outrora uma conhecida sapataria da cidade, foi encontrado com recurso a fontes alternativas: as oficinas da Penitenciária de Coimbra forneceram as estruturas das mesas, os próprios membros do projecto forraram velhas cadeiras e as tintas foram oferecidas. O COL.ECO está ainda à procura de computadores.

Ao dinamizar temporariamente uma veia importante do centro de Coimbra, a rua Adelino Veiga, o grande objectivo é que depois algumas destas pessoas possam desenvolver a sua actividade na Baixa, sublinha a presidente da APBC, Assunção Ataíde.

O COL.ECO tem a duração prevista de um ano. O ideal, diz Rute Castela, seria que, no fim deste prazo, vários dos participantes “se juntassem e formassem uma cooperativa, por exemplo. Se ficassem na Baixa, era o ideal”.

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