Os milhões e os tostões

Ano após ano, continuamos a suportar encargos com a banca falida, sem nunca alguém ter tido o cuidado de saber a opinião de quem paga.

A guerra na Ucrânia está a trazer para todos enormes dificuldades, sendo que os mais vulneráveis e os mais pobres são e serão sempre os mais afetados. Perante aumentos dos preços de bens alimentares, que nalguns casos atingem os 50%, deve-se apoiar em larga escala as famílias com menos recursos.

A última decisão do Governo conhecida é a de apoiar financeiramente em 60 euros as famílias mais carenciadas, pelo que se espera que este apoio seja alargado também pelo menos para o mês de maio. Com o pagamento de abril, o apoio custa 55 milhões de euros ao erário público.

Este apoio fica muito aquém do necessário para repor o poder de compra destas famílias, mesmo com a sua repetição ou alargamento a maio ou até mais outro mês.

Todos aceitaríamos as desculpas do costume, de que o país não é rico, que temos de acorrer a muitas outras situações, que necessitamos de equilibrar o orçamento, etc. Também sabemos que, em alturas de inflação como a que vivemos, as receitas fiscais são mais elevadas e quanto maior for essa inflação mais elevadas serão essas receitas, que provocam folgas orçamentais suplementares, para poder apoiar quem mais necessita, o que esvazia as desculpas.

O que muitos ainda não conseguiram perceber é o motivo por que os contribuintes continuam de uma forma recorrente a enterrar dinheiro em bancos falidos devido a roubos, gestão danosa, negligente e fraudulenta. Ano após ano, continuamos a suportar estes encargos, sem nunca alguém ter tido o cuidado de saber a opinião de quem paga.

A juntar aos milhares de milhões (um número que um mero contribuinte cumpridor muitas vezes nem sabe escrever), este ano são mais 300 milhões de euros inscritos no orçamento para pagar as “excelentes gestões” dos Espírito Santos, dos Banifs, dos Berardos e dos BPNs desta vida, que foram cometidas por gestores e comendadores premiados, reputados e insuspeitos. Só o valor dos 300 milhões de euros deste ano daria para transferir para cada família carenciada um apoio superior a €320,00, em vez dos €60,00.

Os contribuintes perceberiam, aplaudiriam e aceitariam melhor este tipo de apoios dados aos mais carenciados em alturas tão difíceis como a que vivemos do que, ano após ano, continuar a gastar dinheiro com situações tão obscuras como acontece na banca.

Pensando bem, talvez seja melhor não levantar o véu da noiva, não vá o noivo desistir do casamento e deixar a noiva sozinha no altar e depois contar ao mundo os “podres” do desistente, como ato de vingança por a ter deixado sozinha.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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