A oposição que Montenegro quer liderar: “corajosa”, “implacável” e “pronta a governar”

Antigo líder da bancada do PSD apresenta candidatura à liderança do partido.

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Luís Montenegro já se tinha candidatado à liderança do PSD em 2019 contra Rui Rio. Anna Costa

Ao lado de alguns dos seus apoiantes de sempre, Luís Montenegro projectou a sua candidatura à liderança do PSD para “ser primeiro-ministro”, prometendo uma oposição como defendia Rui Rio – mas “implacável”. No primeiro acto público de apresentação da candidatura depois do anúncio, o antigo líder da bancada não quis ser desagradável com a actual direcção e foi delicado para com Jorge Moreira da Silva, o seu possível adversário nas directas de 28 de Maio.

Numa altura em que muitos vêem o próximo líder do PSD condenado a uma longa travessia no deserto, o discurso do Presidente da República na tomada de posse do Governo tornou-se o pretexto para alimentar outro ânimo entre os sociais-democratas. “Portugal precisa de uma oposição responsável e pronta a governar a qualquer momento. Como bem lembrou o Presidente da República, o cenário de eleições antecipadas será inevitável caso o primeiro-ministro ceda à sua tentação pessoal e europeia”, afirmou na apresentação, que decorreu na sede nacional do partido, defendendo que Portugal “reclama uma oposição determinada e uma alternativa corajosa”.

Na definição do que deve ser a oposição do PSD ao Governo, Montenegro quis distanciar-se de Rui Rio: “Hoje mais do que nunca, Portugal precisa de uma oposição atenta mas implacável e pronta a governar a qualquer momento.”

Sem nunca se referir ao Chega ou à Iniciativa Liberal, o antigo líder parlamentar defendeu que “o PSD é o incumbente do espaço não socialista e tem de voltar a ser a casa-mãe de todas as tendências não socialistas”. As críticas ao socialismo tomaram boa parte do discurso, ao mesmo tempo que pretendeu posicionar o PSD como alternativa. “Os portugueses só confiaram no PSD em alturas de aperto e crise económica. Não aceito que seja assim. O PSD foi e é muito mais do que isso, é liberdade, é ambição, talento, transformação, igualdade de oportunidades e mobilidade. É humanismo”, afirmou, arrasando a governação socialista: “O país vive há demasiado tempo amarrado ao socialismo e ao amiguismo, facilitismo, imobilismo, à burocracia à subsidiodependência, à vertigem estatizante.”

Apesar de ser candidato a um mandato (de dois anos), o ex-deputado projecta a sua eventual liderança para um horizonte temporal mais longo: “Não nos assustam maiorias absolutas nem mandatos longos. Estamos aqui como um desafio e incentivo para nos organizarmos (…) Somos eficazes na oposição para um dia sermos eficientes no Governo.”

Sobre o antigo vice-presidente do PSD, Jorge Moreira da Silva, que deverá apresentar a candidatura à liderança do partido na próxima semana, Montenegro deixou palavras simpáticas: “É um amigo e uma pessoa qualificada.” Mas já sobre o próximo líder da bancada parlamentar, Paulo Mota Pinto (que deve ser eleito nesta quinta-feira), não se quis pronunciar, comprometendo-se apenas com a “coordenação total entre a direcção do partido e o grupo parlamentar” caso seja presidente do PSD. Foi com o argumento de não querer vestir o “fato” de líder social-democrata que o candidato justificou o seu silêncio, perante os jornalistas, sobre como é que o partido deve votar a moção de rejeição ao Governo apresentada pelo Chega ou se deveria ser consultado por Rui Rio sobre a indicação de nomes para o Conselho de Estado. O candidato pareceu querer dar a ideia de uma transição suave: “O PSD está a funcionar em total normalidade, não há nenhuma querela dentro do PSD.”

Num discurso em que se dirigiu aos “portugueses e portuguesas”, Montenegro comprometeu-se em trabalhar numa agenda sustentável de ambiente, uma reforma fiscal, um plano nacional de imigração e uma agenda “do trabalho digno”, além de se comprometer em defender a complementaridade entre o SNS e a oferta privada e social.

Na sala de conferências de imprensa, estavam o actual coordenador de campanha, Carlos Coelho, e o anterior, Pedro Alves, a militante número dois, Conceição Monteiro, a antiga presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, o ainda presidente do conselho estratégico nacional, Joaquim Miranda Sarmento, o antigo secretário de Estado António Leitão Amaro, além do ex-líder da bancada Hugo Soares e os ex-deputados Pedro Duarte, Margarida Balseiro Lopes e Inês Domingos.

É a segunda vez que Luís Montenegro se candidata à liderança do PSD. Já o tinha feito em 2020 contra Rui Rio e perdeu por cerca de dois mil votos. Depois de ontem ter enviado uma carta aos militantes em que se propunha “unir o partido”, o candidato volta a traçar essa meta, deixando implícita uma crítica à liderança de Rui Rio: “Nos últimos anos, o PSD tem estado fechado em si próprio.”

As eleições directas no PSD estão marcadas para o dia 28 de Maio.

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