Quando se calarem as bombas

Os conflitos armados com factores de nacionalismo étnico são de uma violência extrema e deixam rastos de destruição moral nas populações que demoram décadas a esquecer.

No dia 14 Abril de 1999, caía a noite em Stanovc, uma pobre aldeia rural do Kosovo, quando um sérvio, de uniforme militar, sob a ameaça da espingarda AK47, indiferente aos gritos da mãe e dos irmãos, arrancou de casa, à força, a jovem Vasfije Krasniqi, de 16 anos. Pouco depois, na floresta, dentro do velho Zastava branco em que a tinha levado, com uma faca encostada ao pescoço, violou-a oral, anal e vaginalmente. Não saciado na maldade, foi a um café, em Babin Most, e entregou-a a um civil, também sérvio, que a levou para uma casa em construção e a violou com uma pistola apontada à cabeça. O Kosovo estava mergulhado num conflito armado entre Sérvios e independentistas Albaneses. Os bombardeamentos da NATO faziam adivinhar a proximidade da derrota dos Sérvios. A humilhação e a loucura roubaram a humanidade que restava e naqueles meses finais a violação de mulheres e raparigas, que se estima em cerca de 20 mil, transformou-se numa arma de vingança e terror.

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