Luis Miguel Cintra sobre morte do poeta Gastão Cruz: “Parece que toda a gente que fez a minha vida se escapa”

Actor e encenador deu voz ao disco Poemas de Gastão Cruz, uma colectânea em livro e CD editada pela Assírio & Alvim, em que o co-fundador do Teatro da Cornucópia lê 74 poemas de Gastão Cruz.

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Luis Miguel Cintra enric vives-rubio

O actor e encenador Luis Miguel Cintra lamentou que, com a morte do poeta Gastão Cruz, logo a seguir à de Jorge Silva Melo, “parece que toda a gente que fez” a sua “vida de artista se escapa”.

“Foge da aridez em que vivemos”, escreveu o actor e encenador, que deu voz ao disco Poemas de Gastão Cruz, uma colectânea em livro e CD editada pela Assírio & Alvim, em que o co-fundador do Teatro da Cornucópia lê 74 poemas de Gastão Cruz.

“Cada vez mais solidão”, sublinhou Luis Miguel Cintra num texto publicado na rede social Facebook, acrescentando que “não, não é porque os velhos têm de morrer”, mas porque tinham “muita esperança que ficou ainda por cumprir”.

“Quisemos viver para os outros. E a morte dos outros assim custa mais”, escreveu.

“E para que, no caso do Gastão, não fique completamente esquecida uma parte importantíssima daquilo a que dedicou tanto do seu tempo, gostava que se soubesse que se tanto louvam a minha maneira de dizer poesia, eu a devo sobretudo ao Gastão”, frisou.

Luis Miguel Cintra recordou que, no fim dos anos 1970, na FLUL, se criou um grupo “espontaneamente dirigido” por Gastão Cruz a que o poeta chamou “Poesia Dita”. O grupo fazia recitais “cuidadosamente preparados por ele e que passavam nessa preparação por preciosas análises de cada poema”, acrescentou Luis Miguel Cintra, observando ainda que todos aprenderam com Gastão Cruz “um respeito sagrado pela forma dos poemas” que ele lhes “ensinava a dizer”.

“Muitas vezes fazíamos a primeira parte dos recitais do chamado Canto Livre, recitais do Zeca Afonso e do Adriano Correia de Oliveira, quanta vez dispersados pela Polícia antes do 25 de Abril”, rememora, acrescentando que daí ficou “uma amizade para a vida inteira”.

Cintra volta a referir que foi Gastão Cruz quem traduziu para o Teatro da Cornucópia o Conto de Inverno, de Shakespeare. “O Jorge Silva Melo, o Luís Lima Barreto, o Luís Lucas, o Diogo Dória e tantos outros que lêem bem poesia a ele de alguma forma o devem”, escreveu. “E a poesia portuguesa contemporânea foi o seu Amor. Muito especialmente a de Carlos de Oliveira e a de Ruy Belo”, concluiu.

O poeta Gastão Cruz morreu no domingo, no Hospital Egas Moniz, em Lisboa.

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