Seis anos depois, Benfica volta a estar entre os oito melhores da Europa

Com taças internas e I Liga perdidas e mesmo o segundo lugar bastante difícil, restava a Liga dos Campeões para os “encarnados” ainda provarem que valeu a pena jogarem futebol em 2021/22. E valeu.

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Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW

Nesta terça-feira, 15 de Março, a temporada do Benfica ganhou novo significado. Com taças internas entregues, I Liga perdida e mesmo o segundo lugar bastante difícil, restava a Liga dos Campeões para os “encarnados” ainda provarem que valeu a pena jogarem futebol em 2021/22. E valeu. O Benfica apurou-se nesta terça-feira para os quartos-de-final da Liga dos Campeões, fase que geralmente separa o trigo do joio na prova europeia. Tudo isto foi possível fruto de um triunfo (1-0) em Amesterdão, eliminando o teoricamente mais forte Ajax, equipa imbatível na fase de grupos da Champions.

Salva a temporada? De todo. Mas se a recuperação do estatuto europeu é algo a que Rui Costa, agora, e Luís Filipe Vieira, antes dele, se costumam agarrar, então é por noites como esta que esse sonho começará.

Com este sucesso nos Países Baixos, os “encarnados” regressam à nata europeia, chegando ao top-8 da Champions seis anos depois da temporada 2015/16 (caiu com o Bayern). Esta é apenas a quarta vez neste milénio que o Benfica chega a esta fase da prova, depois de 2005/06, 2011/12 e 2015/16.

Numa análise global, este jogo teve uma primeira parte de total domínio e desperdício do Ajax e a segunda, com o Benfica mais estável defensivamente, de um jogo menos perigoso para os portugueses, que marcaram no primeiro (e único) remate que fizeram à baliza em 90 minutos.

Primeira parte de sofrimento

Tal como dito na antevisão do jogo, o Benfica tinha um de dois caminhos nos Países Baixos: querer jogar – como na primeira parte da Luz – ou entregar a bola ao Ajax e explorar o espaço – como na segunda. O caminho foi o que mais sucesso fez na primeira mão e o Benfica, por opção ou incapacidade, abdicou de jogar em Amesterdão (ver mapas GoalPoint), ainda que essa fosse, em tese, a opção mais lógica para este jogo.

Com um bloco baixo e muitas vezes a jogar em 6x3x1, os “encarnados” tiveram muita dificuldade no ataque – pouca capacidade de activar Rafa e Darwin no espaço – e sofreram bastante na defesa – incapacidade de entender o jogo neerlandês.

Isto porque além da já tradicional mobilidade o Ajax trouxe algo diferente do que tinha feito no primeiro jogo. O médio Gravenberch raramente jogou na sua posição-base e pediu a bola quase sempre em largura, encostado ao corredor esquerdo.

Esta dinâmica criou muita confusão no Benfica, cuja estrutura nunca se habituou à jogada repetida pelo Ajax até à exaustão: laterais neerlandeses por dentro, arrastando Rafa/Everton para a zona interior, e Berghuis e Tadic junto a Haller, obrigando Grimaldo/Gilberto a fecharem. Resultado: Antony e Gravenberch tinham sempre muito espaço na largura.

Isto aconteceu vezes sem conta, com especial importância aos 7’ (movimento de Gravenberch acabou com jogada de Blind e Tadic e golo anulado a Haller), aos 25’ (movimento de Gravenberch acabou com cruzamento de Blind e remate de Antony) e aos 36’ (movimento de Gravenberch com remate do próprio médio de fora da área, defendido por Vlachodimos).

A jogada era sempre a mesma, ora à esquerda, ora à direita, e acabava quase sempre com cruzamentos de Gravenberch, Antony ou Blind – o Ajax fez vários, mais do que o habitual, e teve três remates perigosos de cabeça (Álvarez aos 9’ e aos 19’ e Timber aos 31’).

Sendo defensável que o caminho para bater o Ajax teria mesmo de ser o de dar a bola ao Ajax e explorar o espaço, era evidente também que o Benfica teria, no mínimo, de conseguir um par de saídas criteriosas, sob pena de não lhe compensar a opção de defender tão baixo – Taarabt esteve, nesse pelouro, particularmente infeliz, raramente conseguindo ligar o jogo com os atacantes.

Entrada fulcral de Meïté

E se o marroquino não faz o que melhor sabe fazer, então mais vale ter um jogador não tão frágil defensivamente. Terá sido este o pensamento de Veríssimo, que trocou o médio por Meïté.

O jogador francês andou muito tempo atrás de Gravenberch, parecendo clara a opção de fazer uma marcação quase individual ao jovem neerlandês. Limitou Gravenberch, é certo, mas, curiosamente, o jogador do Ajax deixou de jogar tão aberto nesta segunda parte – e por aí poderia ter arrastado Meïté, abrindo um buraco no meio-campo “encarnado”.

O Benfica teve, portanto, maior estabilidade, até pela presença do médio francês, de competência do que Taarabt maior quando o Ajax tentava activar jogadores entre linhas.

Pelos 70 minutos, Nélson Veríssimo lançou Yaremchuk, tirou Everton e “ofereceu” o corredor esquerdo a Darwin, zona em que o uruguaio já se destacou em partidas anteriores.

Pouco depois, aos 76’, sem que haja ligação directa com a substituição, o Benfica chegou ao 1-0 no primeiro remate que fez à baliza. Livre lateral de Grimaldo e Darwin antecipou-se a Onana, que saiu de forma totalmente errada.

O jogo, já desinteressante desde o intervalo, ficou ainda menos rico, com mais luta e faltas do que futebol. E pouco o Ajax soube fazer para escapar dessa teia.

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