Ensino superior português prepara-se para acolher estudantes ucranianos
Universidades e politécnicos, tanto públicos quanto privados, estão a contabilizar quantos alunos refugiados podem receber. Iniciativa terá por base experiência da plataforma global para os estudantes sírios, criada por Jorge Sampaio.
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As instituições de ensino superior nacionais estão a preparar-se para acolher estudantes ucranianos que tenham sido forçados a sair do seu país, na sequência da invasão russa iniciada na semana passada. Esta iniciativa, lançada pelo Governo, envolve universidades e politécnicos, tanto públicos quanto privados, e vai inspirar-se na experiência da plataforma para estudantes sírios, criada pelo antigo Presidente da República Jorge Sampaio.
Na segunda-feira reuniu pela primeira vez um grupo de trabalho, criado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), que integra a Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) e a Associação Portuguesa de Ensino Superior Privado. O objectivo é “preparar as bases de uma operação de recepção de estudantes ucranianos pelas instituições de ensino superior em Portugal”, avança ao PÚBLICO fonte do gabinete do ministro Manuel Heitor.
Para já, não se sabe quantos alunos ucranianos nem em que condições poderão vir para Portugal. Tudo dependerá do desenrolar do conflito e também da estratégia que venha a ser seguida pela União Europeia para a colocação dos refugiados que têm chegado às fronteiras de países como a Polónia e a Roménia.
O grupo de trabalho criado pelo Governo – e que será coordenado pela Agência Erasmus+ – está a fazer um levantamento preliminar do número de lugares disponíveis em cada instituição para a frequência dos cursos pelos estudantes ucranianos e também a preparar a criação de cursos prévios de língua portuguesa que esses alunos possam frequentar à chegada. Parte das tarefas para estas próximas semanas é também garantir condições de apoio para o alojamento de potenciais futuros estudantes, possivelmente em articulação com municípios.
Além disso, a Agência Erasmus+ está a dinamizar a colaboração com as instituições de ensino superior da Ucrânia com as quais as instituições nacionais têm parcerias em curso, assim como com as associações de cidadãos ucranianos a residir em Portugal, de modo a divulgar esta disponibilidade das universidades e politécnicos nacionais para acolher refugiados.
Esta iniciativa do Governo responde aos apelos feitos, desde o início do conflito, pelas associações de estudantes, como a Federação Académica do Porto (FAP) que, no fim-de-semana divulgou uma carta aberta (que também fez chegar ao MCTES, CRUP e CCISP) onde apelava a que fossem criadas “as condições adequadas ao acolhimento de cidadãos ucranianos refugiados da guerra. Entre os quais muitos estudantes que, tal como nós, vêm na educação e formação uma oportunidade para uma vida melhor”.
Inspiração síria
Nessa missiva, a FAP recordava a experiência da plataforma global para os estudantes Sírios, lançada em 2013 por iniciativa do antigo Presidente da República Jorge Sampaio. “Os resultados [dessa iniciativa] encorajam a nossa acção perante um novo conflito”, diziam os estudantes do Porto.
Na mesma altura, um grupo de mais de três dezenas de estudantes sírios publicava no PÚBLICO um apelo para que Portugal e a plataforma global que os acolheu em tempo de guerra possam lançar “sem tardar um programa de bolsas de estudos de emergência para os estudantes que frequentavam as universidades na Ucrânia”.
“Tal como em 2014 o primeiro grupo de estudantes sírios foi acolhido em Portugal, queremos agora acolher, todos juntos, o mais rapidamente possível, o primeiro grupo de estudantes ucranianos ou que estavam a estudar ali e que não têm para onde regressar. O segundo semestre deste ano lectivo está a começar, é o momento certo para chegarem”, defendem nesse artigo.
Essa iniciativa servirá mesmo de inspiração para o acolhimento dos estudantes ucranianos. A antiga Plataforma Global para Estudantes Sírios, agora designada Plataforma Global para o Ensino Superior nas Emergências foi chamada a colaborar com o grupo de trabalho criado pelo Governo português. A experiência dos estudantes pode “ser de grande utilidade no apoio à gestão deste processo”, reconhece o MCTES.