OMS pede corredores humanitários para que cheguem cuidados de saúde à população ucraniana

Médicos e enfermeiros devem ter meios para poder assistir doentes e feridos, os mais vulneráveis, diz a Organização Mundial da Saúde. Falta oxigénio, a insulina pode faltar a seguir e teme-se uma subida em flecha dos casos de covid-19.

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No abrigo de uma maternidade em Kiev REUTERS/Valentyn Ogirenko

A Organização Mundial da Saúde (OMS) está a apelar para que sejam criados corredores humanitários na Ucrânia para permitir a distribuição de ajuda humanitária e a continuação da prestação de cuidados de saúde à população. “Quinta-feira vai chegar um voo à Polónia com equipamento médico para a Ucrânia, incluindo 36 toneladas de material para tratar trauma e cirurgias de emergência para mil pessoas, bem como outros materiais que correspondem às necessidades de cuidados de saúde de 150 mil pessoas”, revelou o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa conferência de imprensa online. Mas não há garantias de que este material possa entrar na Ucrânia e ser distribuído.

“O nosso objectivo principal é preservar o sistema de saúde ucraniano e os cuidados de saúde, mas isso não é possível se não podermos fazer entrar material médico no país, ou distribuir o que já lá está - porque há muitos anos que trabalhamos na Ucrânia”, disse Mike Ryan, director do programa de emergências da OMS. “São necessários corredores humanitários, pausas nos combates, algo que permita distribuir os cuidados de saúde, o que no caos actual não é possível”, considerou.

“Haver corredores humanitários para proteger o pessoal médico é o mais importante neste momento. Temos pessoal a trabalhar nos abrigos subterrâneos, em cidades isoladas. A falta de oxigénio é o problema mais importante”, disse Jarno Habitch, representante da Ucrânia na OMS. “Três fábricas de oxigénio estão encerradas, mas é cada vez mais difícil encontrar motoristas dispostos a transportar o oxigénio das fábricas que ainda estão abertas para os hospitais, sobretudo em cidades que estão isoladas”, frisou Habitch.

“Em Kiev há um armazém da OMS cheio com material médico sofisticado, oxigénio, mas não o conseguimos distribuir”, sublinha Mike Ryan.

“Há 2000 pessoas na Ucrânia que precisam de oxigénio para sobreviver. Isto já era assim antes da guerra e continua a ser, não mudou. O oxigénio salva vidas, no imediato. Não é possível pôr alguém numa lista de espera para receber oxigénio. Este é um exemplo de como as pessoas podem morrer de uma forma desnecessária”, acrescentou Mike Ryan. “O mesmo acontece com a insulina, é um produto médico que temos de fazer entrar na Ucrânia. E algo tem de mudar para que isto aconteça”, frisou.

Outra preocupação é que os casos de covid-19 disparem, com a grande movimentação de pessoas a procurarem refúgio noutros países, e concentradas em abrigos, sem condições para manterem medidas básicas como usar uma máscara de protecção. “Não há dúvidas de que as doenças infecciosas se aproveitam destes momentos em que se há grande concentração de pessoas, já vimos isso acontecer em muitos sítios”, disse Mike Ryan.

“Por isso, estamos a tentar dar prioridade a terapias para a covid-19, nomeadamente a medicamentos antivirais, que nestas condições podem ser mais importantes para salvar vidas do que noutras circunstâncias”, adiantou o director para as emergências da OMS.

“Numa situação de conflito, e em que há maior concentração de pessoas, e menos acesso a cuidados de saúde, as doenças infecciosas aumentam, é sabido. A primeira coisa que podemos fazer para o evitar é parar a guerra. A segunda é garantir o acesso aos serviços de saúde, ao que está assegurado pelas leis internacionais. E a terceira é proteger os mais vulneráveis. Isto não está a poder ser feito”, disse por sua vez Bruce Aylward, conselheiro do director-geral da Organização Mundial da Saúde.

“Temos recebido vários relatos ainda não confirmados de ataques a infra-estruturas de saúde e pelo menos um incidente confirmado, na semana passada, em que um hospital foi bombardeado por artilharia pesada, em que morreram quatro pessoas e dez ficaram feridas, incluindo seis trabalhadores de saúde”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Para que a OMS continue a dar uma resposta de emergência à guerra na Ucrânia, precisa durante os próximos três meses de 45 milhões de dólares (cerca de 40 milhões de euros) e 12,5 milhões de dólares (cerca de 11 milhões de euros) para ajudar os países vizinhos com os refugiados ucranianos, disse Tedros Ghebreyesus. “Qualquer um pode ajudar na nossa resposta através da WhoFoundation e carregando no botão ‘doar’”, disse.

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