As máscaras usadas podem ser cruzetas ou decorações — e prometem ser muito mais

Albergaria-a-Velha associou-se à ToBeGreen, spin-off da Universidade do Minho, para combater o desperdício. Começaram com o vestuário e também arranjaram solução para as máscaras descartáveis.

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À primeira vista, parece ser uma loja de vestuário igual a tantas outras. As peças de roupa estão penduradas em cruzetas, devidamente alinhadas e organizadas em cabides. Há várias opções de tamanhos, modelos e, nalguns casos, só depois de um olhar mais atento é que se consegue perceber que se trata de roupa usada. Estamos na loja ToBeGreen de Albergaria-a-Velha – instalada no Centro Coordenador de Transportes daquele município da região de Aveiro –, que tem como principal missão acabar com o desperdício têxtil, estando também empenhada na reciclagem de máscaras. Até ao final de 2021, conseguiram evitar que 50.000 máscaras fossem para o lixo, transformando-as em novos objectos, nomeadamente cruzetas e decorações natalícias. E também deram um novo destino a centenas de peças em tecido.

Na verdade, tudo começou pelos têxteis. “O projecto ToBeGreen surgiu precisamente com o intuito de dar resposta à reciclagem de roupa, mas com a pandemia percebemos que tínhamos a metodologia toda para poder aplicar o mesmo método à reciclagem de máscaras”, introduz Filipe Falcão, designer de moda formado na Universidade do Minho, instituição que serviu de berço à criação desta marca para a valorização de vestuário em fim de vida. Encontrado o modelo que evitasse o descarte, o passo seguinte passou por arranjar parceiros que pudessem ajudar a ToBeGreen a fazer a recolha de material. “Começámos com cinco municípios, entre os quais Albergaria-a-Velha, e já vamos em 12, com mais três a ‘fermentar’”, acrescenta este elemento da ToBeGreen.

No que toca à parte da roupa, foi criada uma aplicação onde os utilizadores podem registar as peças que decidem entregar, estragadas ou em bom estado, com a certeza de que todas elas valem pontos. “Seja roupa de cama, atoalhados ou peças de vestuário, tudo à excepção de malas, acessórios e sapatos”, vinca Filipe Falcão. Posteriormente, cabe à equipa ToBeGreen avaliar e catalogar as peças. As que estão em bom estado são colocadas à “venda” na aplicação – todas as transacções são feitas sem dinheiro, apenas recorrendo a pontos , as restantes são enviadas para reciclagem. “O sistema de pontos é completamente transparente. Os pontos que a peça vale para o público são os pontos que o utilizador que a doou recebe. Se a peça for para reciclar recebe apenas dois pontos”, especifica o responsável pela loja ToBeGreen de Albergaria-a-Velha. “A pessoa que entrega roupa em bom estado merece receber um pouco mais em troca, mas também é importante valorizarmos quem recicla e não deita a roupa para o lixo”, acrescenta.

Máscaras transformadas em decorações de Natal ... DR
... e em cruzetas DR
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Máscaras transformadas em decorações de Natal ... DR

Depois de entregarem o vestuário que já não querem, os utilizadores passam, assim, a ter um crédito de pontos que lhes permite adquirir outras peças que estejam disponíveis na aplicação. “Também há utilizadores que só querem doar a roupa e não querem os pontos para nada. Nesse caso, esses pontos são depositados em banco social e são visíveis para a comunidade”, enquadra Filipe Falcão, assegurando que aqueles que precisam de roupa e não têm pontos também ali encontrarão resposta. “Já vieram duas famílias de refugiados da Venezuela à loja de Albergaria e escolheram e levaram o que precisaram. Nós estamos aqui para fazer um serviço social, também”, garante.

Recolha de máscaras nas escolas

Perante o aparecimento, com a pandemia, de um novo problema ambiental milhões de máscaras a serem colocadas juntamente com os resíduos indiferenciados ou descartadas, de forma negligente , foi preciso arregaçar as mangas e fazer passar a mensagem ao maior número de pessoas. Colocaram-se contentores de recolha às portas das escolas, edifícios municipais e IPSS e, neste momento, a autarquia já tem pedidos de empresas interessadas em instalar estes contentores nas suas instalações.

Até ao final de 2021, conseguiram recolher 50.000 máscaras e dar-lhes uma nova vida: primeiramente, fizeram-se decorações de Natal; mais recentemente, criaram-se cruzetas para a roupa. Sandra Almeida, vereadora do pelouro do Ambiente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha, refere que a criação destes novos artigos tem dado uma grande ajuda ao projecto. “Quando dizemos que algo é para reciclar as pessoas não sabem o destino final, mas ao verem o resultado dessa reciclagem ficam ainda mais sensibilizados”, destaca a autarca.

Apesar dos resultados positivos, ainda há ainda muito a fazer para melhorar o projecto. “Estamos neste momento com um problema, que é evitar que as pessoas coloquem outro tipo de lixo nos contentores das máscaras. É algo que precisamos melhorar e já temos vindo a alertar os alunos nas escolas, para eles passarem a mensagem às outras pessoas da comunidade”, nota Sandra Almeida.

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