A voz de Amélia Muge desdobra-se em Amélias, o novo álbum que se anuncia para Março

Está, finalmente, anunciada a data de lançamento do novo álbum de Amélia Muge: 18 de Março. Depois das aventuras luso-gregas de Periplus e Archipelagos, em parceria com Michales Loukovikas, Amélia regressa aos álbuns a solo e a um território que lhe é querido: o trabalho das vozes. Só que, desta vez, é a voz dela que se desmultiplica em variações tímbricas, tonalidades, ambiências, pulsões rítmicas. Num todo surpreendente, mesmo para quem já tenha acompanhado as muitas experiências vocais que habitam os seus discos ou projectos a que ela se foi associando, desde a colaboração com as vozes búlgaras do Pirin Folk Ensemble na Expo’98 (fizeram um espectáculo conjunto) ao grupo Outra Voz, ligado à área da Comunidade de Guimarães Capital Europeia da Cultura (2012) ou a esse tocante espectáculo que foi De Viva Voz, estreado em Lisboa em 2016, onde, a partir de uma ideia de Amélia, se explorou o canto profundo à capela nas vozes dos grupos Cramol, Maria Monda, Segue-me à Capela e Sopa de Pedra.

Agora, a anunciar o seu novo álbum, Amélia estreia um videoclipe de uma das novas canções (são 13, ao todo), Chove muito, chove tanto, com música dela e letra da sua irmã Teresa Muge, fundadora e ex-integrante de um outro grupo vocal, as Moçoilas. No texto que anuncia o disco, escreve Amélia Muge: “Em Moçambique, em criança, ia com a minha irmã (uma voz que também aprendi a descobrir junto com a minha) para um miradouro sobre o mar onde as amas de diversos meninos se juntavam e onde os seus cantos ritmados, em língua ronga, eram diários. Foi nestes cantos que experienciei o meu primeiro sentimento plural, de uma pertença maior, onde a dança e o embalo eram os fundamentos desse respirar comum.” E mais adiante: Por estas razões, tão enraizadas em mim, acaba por ser quase natural ser, em Portugal, uma das pioneiras do canto individual a vozes e de criação de ambientes vocais. Ser também natural que, ao longo do tempo, fosse desenvolvendo potenciais tímbricos, que, recorrendo a sonoridades não apenas centradas na palavra, criam verdadeiros acompanhamentos à melodia. O desenvolvimento dessa interacção com amostras feitas a partir da minha voz, foi-me permitindo criar e diversificar esse canto simultaneamente plural e individual. Esta é uma componente que tenho vindo a utilizar regularmente na maioria dos meus trabalhos.” E mais ainda em Amélias, como nos mostra o presente videoclipe, com desenhos de Amélia Muge e animação de António José Martins.