Era o Man. City… pouco havia a fazer

Os “leões” foram atropelados pelos ingleses em Alvalade. Agora, resta-lhe lutar com as forças que ainda restam para evitar o descalabro que já tinha sido a outra presença nos “oitavos” desta prova (um 12-1 global frente ao Bayern).

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Reuters/CARL RECINE

Vai acabar nos oitavos-de-final a Liga dos Campeões do Sporting. Na primeira mão da ronda a eliminar, os “leões” foram “atropelados” nesta terça-feira pelo Manchester City, em Alvalade, com uma derrota por 5-0, resultado que nem o mais optimista adepto sportinguista acreditará ser reversível em Inglaterra, daqui por uns dias.

Na antevisão da partida, escrevia-se no PÚBLICO que, no pior cenário, o Sporting deixaria a Champions goleado. Num cenário normal, sairia com derrotas. Num contexto de extrema competência discutiria a eliminatória e, por fim, com desempenhos a níveis históricos, poria o City fora da prova. Nesta terça-feira, o cenário foi mesmo o pior dos quatro. E não foi bonito.

Dizem os livros do jornalismo que a adjectivação deve ser usada de forma sensata e bem medida, mas, nesta noite, em Alvalade, o City teve um perfil futebolístico que pede incumprimento de regras: a equipa de Guardiola foi poderosa, eficaz, impiedosa, implacável e até algo tirana e cruel – pelo menos, na forma como nem deixou o Sporting ir a Manchester ainda a respirar, fazendo questão de “matar uma equipa já morta” desde os sete minutos.

E agora? Agora, resta ao Sporting resignar-se e lutar com as forças que ainda lhe sobram para, na segunda mão, em Inglaterra, evitar o descalabro que já tinha sido a outra presença nos “oitavos” desta prova (um 12-1 global frente ao Bayern, em 2009, com derrota inicial por 5-0 e outra por 7-1).

City diferente

Poderá dizer-se – e será dito, certamente – que Amorim pagou caro a audácia de não incluir Matheus Nunes como avançado interior, fazendo entrar mais um médio físico como Ugarte, e de não incluir Feddal, dando mais solidez à ala, com Matheus Reis deslocado do centro da defesa. Mas o que fica deste jogo é que, fizesse o que fizesse, dificilmente o Sporting sobreviveria a este jogo, tal é a diferença de qualidade, maturidade e soluções individuais e colectivas entre as equipas.

Na antevisão do jogo, Rúben Amorim tinha dito que o Sporting ainda estava na escola primária e o City na universidade e atestou-o dizendo que a equipa de Pep Guardiola “dentro da estrutura tem uma flexibilidade incrível”. O que Amorim disse foi verdade de forma tão clara que o próprio Sporting, mesmo sabendo desses predicados camaleónicos do City, acabou surpreendido.

Ao contrário do que é habitual, a equipa inglesa não utilizou os laterais em movimentos interiores, para participarem em triangulações, mas sim totalmente abertos em largura. Quando esse plano não funcionava (porque os avançados interiores do Sporting abriam na marcação individual aos laterais), vinha outra surpresa: não era Cancelo a dar a solução interior à esquerda, como habitualmente, mas sim Stones à direita, algo quase inédito neste City. O lateral – que nem é lateral – apareceu algumas vezes como médio-centro para baralhar as marcações. E “baralhar” foi tudo aquilo que o City conseguiu fazer ao Sporting.

Até porque a esta mudança nos laterais incluiu uma outra, que foi abdicar do excesso de jogo interior. Em Alvalade, o City não teve pudor em apostar na exploração do espaço, mesmo quando tinha passes interiores mais simples, com Foden e Sterling entre linhas.

A terceira mudança no City foi abdicar de um bloco de pressão alto e intenso, dando até ao Sporting a possibilidade de construir com alguma tranquilidade, sendo apenas “apertado” quando chegava à zona média (o City recuperou bolas sobretudo nessa zona, mais do que no terço de campo adversário, como é habitual).

Durou sete minutos

Entre engodos e três mudanças no plano de jogo habitual, o City foi enganando os “leões” com relativa facilidade. Aos 7’, o City atraiu o Sporting à direita e variou rapidamente o jogo para a esquerda, onde Cancelo solicitou Bernardo em profundidade. Acabou por haver uma defesa de Adán e, na recarga, De Bruyne assistiu Mahrez – golo inicialmente invalidado, mas depois validado pelo VAR.

Aos 17’, um canto largo deixou a bola a “pingar” na área e apareceu Bernardo a rematar forte, de primeira. Aos 32’, o Sporting cometeu o erro de entrar no desespero de “morder” o portador da bola a qualquer custo e esse tipo de comportamento anárquico tem, frente ao City, resultado fácil de prever: desequilíbrio e espaço, neste caso, para Mahrez definir individualmente. Ainda beneficiou de uma escorregadela de Matheus Reis e um falhanço de Coates para assistir Foden, que finalizou isolado.

Escaldado, o Sporting abdicou desse tipo de pressão (que, em bom rigor, nem fez muitas vezes) e o jogo tornou-se mais “morno” – demasiado. Demasiado ao ponto de os jogadores “leoninos” pela primeira vez mostrarem descrença e falta de nervo.

Aos 44’ Sterling foi lançado em profundidade e serviu Bernardo, que veio de trás, à vista de toda a gente, mas sem ser incomodado por ninguém. Rematou novamente na passada e marcou o 4-0.

Tudo pareceu demasiado fácil, ainda que o Sporting tenha tido um par de lances de ataque com algum espaço – sempre mal definidos, porém.

Na segunda parte, o City entrou logo com um golo, uma vez mais de Bernardo Silva – anulado por fora-de-jogo. O 5-0 era uma questão de tempo e chegou aos 59’, num remate de Sterling de fora da área.

Nada mais havia para contar. O Sporting tinha o seu funeral preparado e o City controlou o jogo pacientemente (segundo o GoalPoint, dez jogadores acima de 90% de acerto no passe). A segunda parte foi aborrecida e parca em motivos de interesse tácticos, técnicos ou de qualquer outro tipo.

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