Macron aposta no “renascimento da indústria nuclear francesa”

O Presidente francês anunciou a construção de pelo menos seis novos reactores e um investimento de milhares de milhões de euros na renovação das actuais centrais nucleares.

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Macron, que luta pela reeleição dentro de dois meses, terá de lidar com o consequente aumento das contas de energia EPA/Jean-Francois Badias / POOL

A França construirá pelo menos seis novos reactores nucleares nas próximas décadas, disse o Presidente Emmanuel Macron nesta quinta-feira, colocando a energia nuclear no centro do esforço do seu país para atingir a neutralidade de carbono em 2050. Os reactores serão construídos e geridos pela empresa de energia do Estado (EDF) e milhares de milhões de euros em financiamento público serão mobilizados para financiar o projecto.

“O que o nosso país precisa, e as condições estão lá, é o renascimento da indústria nuclear francesa”, disse Macron, revelando a sua nova estratégia nuclear na cidade industrial de Belfort. Prometendo acelerar o desenvolvimento da energia solar e eólica offshore, Macron também anunciou que pretende prolongar a vida útil das centrais nucleares mais antigas para 50 anos ou mais, desde que seja seguro.

O anúncio chega numa altura em que a EDF se encontra endividada, e enfrenta gastos muito altos em novas centrais nucleares em França e na Grã-Bretanha, nomeadamente por problemas de corrosão de alguns reactores antigos. Este projecto nuclear consolida o compromisso francês com a energia nuclear, cujo futuro era incerto depois de Macron e o seu antecessor terem prometido reduzir o seu peso na matriz energética do país.

A visão do actual Presidente francês foi reformulada pelas metas ambiciosas da União Europeia (UE) para a neutralidade de carbono dentro de três décadas, que colocam um foco renovado em formas de energia que emitem menos gases de efeito de estufa do que os combustíveis fósseis, incluindo o nuclear.

O aumento dos preços da energia e as preocupações com a dependência europeia do gás russo importado também convenceram as autoridades francesas da necessidade de uma maior independência energética. A EDF calcula que a aposta e a aquisição de seis novos reactores nucleares ascenda a 50 mil milhões de euros e que o primeiro novo reactor, uma melhoria do Reactor Pressurizado Europeu (EPR, na sigla em inglês), entrará em funcionamento em 2023, segundo Macron.

França duplicará também a sua capacidade de produção de energia solar até 2050 para mais de 100 gigawatts (GW) e terá como meta construir 50 parque eólicos offshore com uma capacidade combinada de, pelo menos, 40 GW.

Retorno da energia nuclear

A decisão de Macron de prolongar a vida útil das centrais existentes marcou uma reviravolta na anterior promessa de encerrar mais de uma dúzia dos 56 reactores da EDF até 2035. A segurança nuclear ainda divide a Europa após o desastre de Fukushima no Japão, mas França pressionou fortemente para que a energia nuclear fosse rotulada como sustentável nas novas regras da Comissão Europeia sobre financiamento verde.

Se as novas regras de taxonomia da UE forem aprovadas, o custo de financiamento de projectos de energia nuclear deverá ver o seu custo reduzido. Macron disse que o Estado assumiria as suas responsabilidades em garantir as finanças da EDF, indicando que o Governo pode injectar capital na nova empresa estatal.

Os reactores EPR da EDF têm um passado conturbado, uma vez que em projectos na zona de Flamanville, em França, e em Hinkley Point, na Inglaterra, estão com anos de atraso e milhares de milhões de euros. Também na China e na Finlândia este tipo de reactores sofreram de problemas técnicos.

Para agravar as dificuldades da EDF, Macron, que luta pela reeleição dentro de dois meses, está a esforçar-se para conter a contestação pública por causa do aumento das contas de energia.

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